Antecipar o futuro sempre foi uma atividade de risco
e, em se tratando de resultados esportivos, é ainda mais complicando. A análise
das tendências requer amplo conhecimento de dados relacionados e as entidades promotoras
da MotoGP, que têm compromissos comerciais com empresas de comunicações e
patrocinadores, não poupam esforços para facilitar a cobertura de testes e
treinamentos para a mídia especializada ou meramente informativa.
O período de testes para a presente temporada
iniciou no dia seguinte a última prova de 2015 em Valência e, depois do
intervalo obrigatório em janeiro, reiniciou com sessões de três dias em Sepang,
Phillip Island e no Catar. A análise dos resultados combinados baseou algumas
conclusões dos jornalistas especializados antes da realização da primeira
prova, a Yamaha de Jorge Lorenzo era "pule de dez" no campeonato, as Suzuki,
principalmente a de Maverick Vinales, seriam protagonistas e o retorno da
Ducati aos tempos de glória finalmente chegou. Toda a sorte de maus presságios foi
reservada à Honda: nada funcionava direito. O comportamento ambíguo da curva de
torque do motor, desacerto com a eletrônica e mudança das características dos pneus
levavam os pilotos ao desespero, potencializado pelo fato que a fabricante insistia em não priorizar
o seu feedback.
No início da temporada em Doha, 20 de março, as
expectativas foram parcialmente confirmadas, Jorge Lorenzo com a Yamaha conseguiu o fim de semana perfeito, pole, vitória e melhor volta. A Ducati de Dovizioso chegou em segundo e surpresa foi a terceira colocação
da Honda de Márquez, à frente de Valentino Rossi. Vinales decepcionou e a outra
Suzuki, de Aleix Spargaro, não figurou entre os “Top Ten”. Em entrevistas pós
corrida, Márquez avisou que o resultado fora extemporâneo e que esperava
dificuldades na Argentina e nos EUA.
O imponderável aconteceu na etapa seguinte, em uma
conturbada corrida em Termas do Rio Hondo. Problemas de adaptação com pneus e
clima instável forçaram a alteração da estrutura da prova, que foi encurtada e
com uma parada obrigatória para troca de equipamentos (pneus). Em um ambiente adverso
a todos os pilotos, a vitória da Honda pode ser considerada incidental, até
porque ocorreu uma inesperada queda de Lorenzo. Nos EUA não houveram fatos
notáveis, além da queda de Rossi e uma nova vitória da Honda de Márquez,
atribuída desta vez ao seu impecável currículo no Circuito das Américas.
O retorno às pistas europeias trouxe um alívio aos
que se arriscaram a fazer prognósticos sobre resultados no início do ano, as
Yamaha emplacaram quatro vitórias consecutivas e só um defeito mecânico na moto
de Rossi impediu três “dobradinhas”. As Ducati mostraram vigor, entretanto a
afoiteza de seus pilotos impediu melhores resultados e, aos poucos, Vinales e a
Suzuki se aproximaram dos líderes. A insistência de Marc Márquez, único dos
“Top Five” que pontuou em todas as provas, em estar sempre entre as primeiras
colocações pode ser creditada a uma característica própria que lhe é atribuída, a de
andar mais que o equipamento permite.
Neste fim de semana aconteceu o GP da Holanda no
circuito de Assen, a Catedral do Motociclismo, e mais uma vez os que acreditam
em bolas de cristal foram surpreendidos. Incerteza foi a palavra do dia, a
pista estava muito molhada quando a largada foi autorizada, a Ducati de Andrea
Dovizioso liderava a prova quando níveis apocalípticos de chuva atingiram a o
circuito e obrigaram uma bandeira vermelha. Quando as condições de clima
melhoraram, os pilotos alinharam para uma nova largada das doze voltas
restantes e, como todos reiniciaram com o pneu traseiro macio que proporciona
maior aderência, muitos perderam a frente e ocorreu um festival de quedas. Cal
Crutchlow conseguiu um feito quase inédito, caiu duas vezes em uma mesma
corrida. Oito pilotos ficaram pelo caminho, incluindo Valentino Rossi, e alguns
como Dani Pedrosa recuperaram a moto e conseguiram classificar entre os treze
que completaram a prova. Todo o caos criado resultou na improvável vitória do
australiano Jack Miller, da Marc VDS Racing, com uma Honda RC213V. Depois de
3.745 dias da vitória de Toni Elias no Estoril em 2006, uma equipe satélite conseguiu
uma vitória na MotoGP.
Ainda não foi desta vez que a Ducati e a Suzuki justificaram
as expectativas geradas no início da temporada. A atual cômoda liderança (24
pontos) de Marc Márquez no campeonato resulta de um fator imprevisível, nesta
temporada as Yamaha, reputadas como as melhores e mais confiáveis motos da
pista, não concluíram 5 das 8 etapas, Lorenzo duas vezes e Rossi três. Faltam
dez etapas para o final da temporada, os jornalistas que acompanham a MotoGP já
não arriscam a fazer prognósticos.
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