sábado, 13 de junho de 2020

F1 & MotoGP – Duas Rodas vs 4 Rodas (continuação.)



Não é exatamente fácil gostar de Jorge Lorenzo, o tricampeão mundial da MotoGP nunca investiu muito em sua imagem junto ao público. Dono de uma técnica eficiente de condução, dificilmente comete erros e conduz a moto como se estivesse correndo sobre trilhos. Sua maneira de administrar uma prova, eficiente e sem sobressaltos, é conhecida entre os especialistas da mídia como “Modo Lorenzo”. O espanhol externa opiniões pessoais com convicção, por isso quando diz que para ser um piloto de motos exige uma coragem excepcional, que não é encontrada em nenhum outro esporte, provavelmente esteja certo.


Jorge Lorenzo


Um piloto de moto tem que se equilibrar em apenas duas rodas com uma largura máxima de 190 milímetros na traseira, em comparação a F1 tem dois pneus traseiros com 470 milímetros. Há muito menos espaço para erros em uma moto que em um carro, enquanto nos monopostos é obrigatória uma célula de sobrevivência para proteger o piloto em acidentes, nas motos a própria testa do condutor serve de para-choques. Em termos de coragem pessoal, pilotos de protótipos de 2 rodas são muito mais audazes que os similares de 4 rodas. O corpo de um piloto da MotoGP é constantemente reposicionado em função das nuances de um circuito e os joelhos literalmente deslizam pela superfície da pista ao fazer uma curva, não há nada semelhante na F1.

Embora a segurança seja de extrema importância, o fato é que nas motos não há um cockpit para proteger, as quedas têm que ser administradas para que o ângulo com que os pilotos atingem a pista não seja muito acentuado.  Se houver colisões, nas motos é corpo contra máquina, na F1 máquina contra máquina. Por todas estas causas, a adrenalina produzida na MotoGP torna a competição simplesmente mais emocionante.

A Fórmula 1 tem sido por décadas mais exposta na mídia e (ainda) é a preferida por patrocinadores milionários como, por exemplo, a Rolex. Bernie Ecclestone transformou o Mundial de Fórmula 1 em um negócio lucrativo quando atraiu os grandes fabricantes para a competição. Em uma entrevista tempos atrás ele explicou que preferia espectadores com mais idade e relógios Rolex no pulso que jovens que não teriam condições para comprar produtos dos patrocinadores. Embora estes tempos estejam possam ter passado, a aura de esporte dispendioso ainda persiste na F1 e lentamente o foco de audiência em relação à MotoGP está mudando.

O advento da Internet popularizou o acesso às informações, que deixaram de ser monopólio dos grandes veículos de comunicações. Embora as principais redes ainda mantenham a F1 como esporte automotor preferido, levou um período muito curto de tempo para a MotoGP ganhar mais notoriedade, mesmo sem o apoio ostensivo da grande mídia. Nos dias atuais notícias e as imagens estão disponíveis via Internet para todas as pessoas. Aqui em Pindorama (Brasil) a emissora que acreditou no esporte (na TV paga) desistiu das transmissões alegando falta de retorno, a F1 continua na TV aberta (talvez o Brasil seja o único país do mundo ainda a manter o acesso não pago).

Um termômetro confiável de popularidade pode ser visto na quantidade de seguidores que a MotoGP tem nas plataformas de mídia social. No Facebook a MotoGP quase dobra os fãs de F1, 13 milhões contra apenas 7 milhões. A liderança das duas rodas não é tão expressiva no YouTube, aproximadamente 1,86 milhões da MotoGP em comparação com 1,80 milhões da F1. No Instagram os 6,4 milhões de fãs das 2 rodas batem os 5,5 milhões de seguidores das 4 rodas. O Twitter é o único em que a F-1 ainda mantém a liderança com 3,74 milhões em comparação com os 2,48 milhões da MotoGP.

VideoPass MotoGP



Tudo tem uma explicação razoável, um dos fatores que contribuíram para esse aumento de seguidores foi a introdução do VideoPass pela MotoGP, permitindo que os fãs acompanharem os GPs em qualquer lugar, algo que não existia no mundo da F1. A entidade que gerencia o automobilismo levou 7 anos para oferecer um serviço semelhante, em 2018 os chefes da F1 decidiram fazer sua própria versão do VideoPass na esperança de recuperar alguma popularidade do espectador.



Recentemente, Sepang anunciou que estava abandonando a F-1 e mantendo a MotoGP como uma melhor opção financeira para a Malásia. O número de espectadores (e turistas na Malásia) em queda acentuada da F1 e os custos exorbitantes para sediar o evento (US$ 75 milhões) em comparação com US$ 10 milhões para a MotoGP, levaram os organizadores a fazer a escolha mais razoável possível – ficar com o esporte de maior retorno. A MotoGP viu os níveis de público superarem os 160.000 espectadores (nos três dias do evento) em comparação com 84.000 da F1. A administração de Sepang calcula que o número mínimo de espectadores para equilibrar o investimento fique em torno dos 100.000.


Desde 2017, a continuidade do contrato entre F1 e Silverstone esteve sob xeque, depois que o a entidade que administra o histórico autódromo invocou uma cláusula de interrupção no documento assinado com Bernie Ecclestone em 2009 e válido até 2026. Como a Liberty Media acenou com o aumento de 5% no contrato original, que elevaria o custo da prova a 26 milhões de libras (cerca de R$ 122 milhões), após muitas negociações houve um consenso e o circuito continua no calendário até 2024 (os números finais não foram divulgados). Cingapura também considerou o cancelamento da F1, com números diminuindo para meros 73.000 ingressos vendidos. Os altos custos causaram o fim das corridas na Índia e na Coreia do Sul, impediram que a África do Sul retornasse ao calendário apesar de existir um circuito muito bem aparelhado. O próprio GP Brasil em   Interlagos foi ameaçado por uma proposta financeira mais lucrativa da administração do circuito a ser construído em Deodoro no Rio de Janeiro.


Está claro para todos que a MotoGP é financeiramente mais atrativa, custa menos para hospedar uma etapa, atrai mais espectadores e apresenta um espetáculo melhor. É uma opção financeira que melhor atende aos organizadores e uma opção com ingressos mais baratos para os fãs.

Devido às regras autoritárias e preocupações de segurança o controle eletrônico atua sobre praticamente todas as partes do carro de F1. Estratégias são definidas nos boxes, resta muito pouco para talento dos pilotos. Em um estudo recente (Figura abaixo -Duas rodas x 4 rodas, Stilohouse.com.br, 24/05/2020) a MotoGP tem vantagem entre 0 a 200 km/h porque quando o F1 atinge 180 km/h a eletrônica é acionada e impede a curva acentuada de aceleração. Quando o argumento é tempo por volta existe a ilusão que o veículo é superior, simplesmente não é o caso, a moto tem maior velocidade final e em nenhum momento o piloto cede o controle do acelerador.






Sem trocas de pneus, aerodinâmica variável e outros malabarismos para facilitar ultrapassagens, corridas mais curtas não deixam espaço para erros, o condutor deve equilibrar tudo com um único conjunto de pneus. Não há rádio da equipe e toda a informação que um piloto de MotoGP recebe é o que consegue ler em 2 seg em uma prancha do muro do pit enquanto acelera na reta. Em 2018, algumas mensagens foram introduzidas no painel das motos como Red Flag ou Black Flag e combinam com sistemas de luzes de aviso ao redor da pista. No entanto, mesmo que eles recebam uma orientação dos boxes, podem optar por ignorar como foi o caso de Rossi em Sachsenring em 2016. Nota: eles não podem ignorar uma instrução da direção da corrida. Basicamente a MotoGP é comandada exclusivamente pelo piloto que deve apenas andar tão rápido quanto possível.

A supremacia atual de Marc Márquez não implica em falta de concorrência. Em 2016 houve um recorde de vencedores por temporada, 9, e no ano seguinte um total de 10 pilotos diferentes dividiram os pódios ao longo das 18 etapas, houve 5 vencedores diferentes.


As mudanças no regulamento sempre visam maior competitividade entre os pilotos, ao contrário da F1, onde as regras aparentemente são feitas para favorecer as equipes de elite. A decisão dos controladores da MotoGP em fazer regras que beneficiam a competitividade de todos os competidores é uma das razões que proporcionam corridas mais emocionantes.

Ao contrário da F1, os últimos anos na MotoGP têm visto um aumento na diversidade de pilotos liderando provas.


Outro exemplo, em 2018 enquanto os seguidores da F1 reclamavam que há cada vez menos ultrapassagens acontecendo em cada corrida, os fãs de MotoGP foram presenteados com eventos como Assen, nos quais houve mais de 100 ultrapassagens por 8 pilotos diferentes e 5 mudanças na liderança da corrida. Não foi um acaso, no GP da Austrália (Phillip Island) de 2015, 4 pilotos se envolveram em mais de 52 ultrapassagens.


Todos sabem que quanto mais ultrapassagens acontecem, mais chances de acidentes na pista e confrontos fora, como foi entre Márquez e Rossi após o desastroso GP da Malásia de 2015. Fãs ainda estão divididos em relação ao incidente, cinco anos depois.



Grid-girls


Um aspecto interessante do poder do politicamente correto foi a exclusão das Grid-Girls em corridas de F1 e de inúmeros outros eventos esportivos. As lindas garotas não enfeitam mais o grid da F1, no entanto a MotoGP não se submeteu à pressão de grupos minoritários à pretexto de evitar a exploração das mulheres. Em muitos casos a namorada e às vezes esposa utilizava até o último minuto antes da prova para incentivar o piloto. Não consta que, em nenhum caso, uma garota fosse obrigada a violentar seus princípios éticos ou se expor para atrair atenção, todas que frequentam o grid ou o paddock estão exercendo sua profissão (modelos) ou o amor pelo esporte.



MotoGP é essencialmente uma mescla entre competição e espetáculo. As grid-girl tem uma participação importante no espetáculo e, como citou Vinicius de Moraes, poeta e diplomata, em um momento de rara felicidade: “As muito feias que me perdoem, a beleza é fundamental”.

Grid-girls da Monster Energy & Repsol-Honda












Nenhum comentário:

Postar um comentário