quarta-feira, 1 de novembro de 2017

MotoGP – Falta combinar com os russos


Márquez & Dovizioso
Copa do Mundo da Suécia em 1958, antes do jogo com a Rússia o técnico Vicente Feola combinou uma estratégia infalível com os jogadores. A defesa adversária era encorpada e lenta, Garrincha devia reter a bola pelo lado do gramado para tirar a dupla de zagueiros da área e recuar para Didi lançar os atacantes no espaço aberto. Com trinta minutos de jogo o folclórico jogador chegou na beira do gramado e ponderou para o técnico: "Seu" Feola, "tô" fazendo tudo direitinho, mas os homens não saem de lá. Tem certeza que eles sabem o que foi combinado? Feola não tinha.
Faltou combinar com os russos. 
Nicky Hayden declarou antes da decisão de 2006 que suas únicas esperanças eram (1) ele estar em um dia muito bom e (2) Valentino Rossi, o pentacampeão e líder do campeonato com 8 pontos de vantagem, estar em um dia muito ruim. Valentino caiu durante a prova, conseguiu voltar para a pista e chegou em 13º lugar, Hayden com os 16 pontos de seu 3º foi o último norte-americano a conquistar o título de campeão do mundo.
A queda de Rossi não havia sido combinada.
Em 2013 o então campeão do mundo, Jorge Lorenzo chegou na prova final em Valência 13 pontos atrás de Marc Márquez, um novato imberbe em sua primeira temporada na categoria. Lorenzo pensou em uma estratégia criativa, tomar a ponta e reduzir a velocidade para agrupar o maior número de corredores. Imaginou que o garoto de 20 anos poderia ficar impaciente e envolver-se em algum incidente. Não funcionou. Márquez ficou a prova inteira comboiando Dani Pedrosa, que pressionou Lorenzo. O antigo campeão venceu a prova, a terceira colocação garantiu a Márquez seu primeiro mundial.
Lorenzo não combinou com Márquez que ele devia ficar impaciente.
A temporada de 2015 foi a última a ser decidida na prova final em Valência e a mais controversa de todas. Valentino Rossi entrou na pista com 7 pontos de vantagem sobre Jorge Lorenzo, porém penalizado para largar do fim do grid em função dos incidentes ocorridos entre ele e Márquez na prova anterior em Sepang. Rossi fez uma corrida excepcional, conseguiu galgar posições até a 4ª colocação, infelizmente para ele Lorenzo venceu a prova e o campeonato.
Quando se envolveu com Márquez na Malásia, Rossi não combinou com os fiscais para não ser penalizado.
A temporada de 2017 vai ser concluída em Valência, as possibilidades de vencer o campeonato estão restritas a Marc Márquez, da Honda e Andrea Dovizioso da Ducati. O italiano de 31 anos estreou nos mundiais de motovelocidade em 2001 na classe 125cc e tem em seu currículo 16 vitórias e um mundial conquistado em 2004 (classe 125cc). Dovizioso já participou de 274 GPs e entra na pista com uma desvantagem de 21 pontos em relação ao atual campeão do mundo. Marc Márquez, 24, já fez história na motovelocidade em sua curta carreira. Participou de 166 GPs, venceu 61, com 72 poles é o recordista desde que o atual sistema de classificação foi adotado em 1974. Márquez foi campeão mundial da MotoGP em sua em sua primeira participação na categoria, 2013, e acumula cinco títulos mundiais (125cc em 2010, Moto2 em 2012 e MotoGP em 2013, 2014 e 2016).
A mesma matemática que possibilita ao italiano sonhar com o título complica as suas possibilidades. Para ser campeão ele necessita vencer a prova em um circuito cujas características são mais favoráveis às motos Honda, e esperar que Márquez não consiga uma classificação entre os 10 primeiros. Se, nas condições normais de temperatura e pressão, uma vitória da Ducati em Valência é possível, alguma coisa muito estranha deve acontecer para a Honda não estar entre os "top ten". Nas 17 etapas realizadas nesta temporada, entre seções de testes, qualificação e provas, Márquez já caiu 27 vezes, porém duas das três provas que não completou foram devidas a problemas técnicos. Sua pior colocação na pista este ano foi um 6º lugar no GP da Itália.

Desta vez sugerir a Lorenzo uma mudança extemporânea de mapeamento pode não ser suficiente, precisa combinar com os russos.

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