Márquez & Dovizioso |
Copa do Mundo da Suécia em 1958,
antes do jogo com a Rússia o técnico Vicente Feola combinou uma estratégia infalível
com os jogadores. A defesa adversária era encorpada e lenta, Garrincha devia
reter a bola pelo lado do gramado para tirar a dupla de zagueiros da área e recuar
para Didi lançar os atacantes no espaço aberto. Com trinta minutos de jogo o folclórico
jogador chegou na beira do gramado e ponderou para o técnico: "Seu" Feola, "tô" fazendo tudo direitinho, mas os homens não saem de lá. Tem certeza que eles
sabem o que foi combinado? Feola não tinha.
Faltou combinar com os
russos.
Nicky Hayden declarou antes da
decisão de 2006 que suas únicas esperanças eram (1) ele estar em um dia muito
bom e (2) Valentino Rossi, o pentacampeão e líder do campeonato com 8 pontos de
vantagem, estar em um dia muito ruim. Valentino caiu durante a prova, conseguiu
voltar para a pista e chegou em 13º lugar, Hayden com os 16 pontos de seu 3º foi o último norte-americano a conquistar o título de campeão do
mundo.
A queda de Rossi não havia sido
combinada.
Em 2013 o então campeão do
mundo, Jorge Lorenzo chegou na prova final em Valência 13 pontos atrás de Marc
Márquez, um novato imberbe em sua primeira temporada na categoria. Lorenzo
pensou em uma estratégia criativa, tomar a ponta e reduzir a velocidade para
agrupar o maior número de corredores. Imaginou que o garoto de 20 anos poderia
ficar impaciente e envolver-se em algum incidente. Não funcionou. Márquez ficou
a prova inteira comboiando Dani Pedrosa, que pressionou Lorenzo. O antigo
campeão venceu a prova, a terceira colocação garantiu a Márquez seu primeiro
mundial.
Lorenzo não combinou com Márquez
que ele devia ficar impaciente.
A temporada de 2015 foi a última
a ser decidida na prova final em Valência e a mais controversa de todas.
Valentino Rossi entrou na pista com 7 pontos de vantagem sobre Jorge Lorenzo,
porém penalizado para largar do fim do grid em função dos incidentes ocorridos
entre ele e Márquez na prova anterior em Sepang. Rossi fez uma corrida
excepcional, conseguiu galgar posições até a 4ª colocação, infelizmente para
ele Lorenzo venceu a prova e o campeonato.
Quando se envolveu com Márquez
na Malásia, Rossi não combinou com os fiscais para não ser penalizado.
A temporada de 2017 vai ser concluída
em Valência, as possibilidades de vencer o campeonato estão restritas a Marc
Márquez, da Honda e Andrea Dovizioso da Ducati. O italiano de 31 anos estreou
nos mundiais de motovelocidade em 2001 na classe 125cc e tem em seu currículo 16
vitórias e um mundial conquistado em 2004 (classe 125cc). Dovizioso já
participou de 274 GPs e entra na pista com uma desvantagem de 21 pontos em relação
ao atual campeão do mundo. Marc Márquez, 24, já fez história na motovelocidade
em sua curta carreira. Participou de 166 GPs, venceu 61, com 72 poles é o
recordista desde que o atual sistema de classificação foi adotado em 1974. Márquez
foi campeão mundial da MotoGP em sua em sua primeira participação na categoria,
2013, e acumula cinco títulos mundiais (125cc em 2010, Moto2 em 2012 e MotoGP
em 2013, 2014 e 2016).
A mesma matemática que
possibilita ao italiano sonhar com o título complica as suas possibilidades. Para
ser campeão ele necessita vencer a prova em um circuito cujas características
são mais favoráveis às motos Honda, e esperar que Márquez não consiga uma classificação entre os 10 primeiros. Se, nas condições normais de temperatura
e pressão, uma vitória da Ducati em Valência é possível, alguma coisa muito estranha
deve acontecer para a Honda não estar entre os "top ten". Nas 17 etapas
realizadas nesta temporada, entre seções de testes, qualificação e provas, Márquez
já caiu 27 vezes, porém duas das três provas que não completou foram devidas a
problemas técnicos. Sua pior colocação na pista este ano foi um 6º lugar no GP
da Itália.
Desta vez sugerir a Lorenzo uma
mudança extemporânea de mapeamento pode não ser suficiente, precisa combinar
com os russos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário