A definição
de Xadrez é ambígua, alguns entendem que é um esporte, há correntes que
consideram uma arte e muitos definem como uma ciência. De uma maneira ampla, o Xadrez é um jogo de tabuleiro de
natureza recreativa ou competitiva para dois jogadores. Muito se tem escrito
sobre o Xadrez, e alguns apregoam maravilhas no desenvolvimento da capacidade
de raciocínio dos enxadristas, embora os mais céticos defendam que a prática do
Xadrez desenvolve exclusivamente a capacidade de jogar Xadrez. Uma das
características do jogo/arte/ciência é manter as regras inalteradas por séculos.
Em alguns esportes, especialmente os que são acompanhados por multidões de
entusiastas como a MotoGP, atualizações e mudanças são atributos contidos em
seu código genético.
A
HRC está mudando, de novo.
No
final do ano de 2016 Shuhei Nakamoto, vice-presidente executivo da HRC,
aposentou-se após 34 anos de serviços. Nakamoto saiu no final de uma temporada
onde a equipe oficial da Honda coroou um de seus pilotos como tricampeão na MotoGP
e reconquistou o título de construtores que havia perdido para a Yamaha em
2015. Os últimos dias de Nakamoto san não foram tranquilos, a Honda foi acusada
de ser o responsável pelo banimento das “winglets”, apêndices aerodinâmicos para
melhorar o desempenho nas pistas, em tese pela sua incapacidade de superar a o “know-how”
da Ducati nesta área. O então gestor da HRC nunca aceitou esta versão e insiste
que as “winglets” foram banidas por teimosia pura da Ducati, que não aceitou
nenhuma das sugestões apresentadas pelos demais fabricantes para reduzir os riscos
em um possível acidente.
Um
ano depois, durante a comemoração de mais um duplo mundial de piloto e
construtores, Livio Suppo, o gestor que assumiu muitas das funções de Nakamoto
san, também anunciou a sua saída da equipe Repsol-Honda. Foi um movimento
inesperado, Suppo tinha contrato por mais um ano e antecipou a sua retirada alegando
motivos pessoais. O administrador justificou que a MotoGP é muito cansativa e
que está aberto a novos desafios, desde que sem rotinas tão estressantes. A
atual situação da HRC está sob controle, pilotos e patrocinadores já estão com
contratos fechados para 2018, sair agora permite que a nova administração possa
organizar e planejar o futuro da equipe. Suppo integrou a Ducati entre 1999 e
2009, conquistando neste período o único mundial vencido pela equipe italiana
(Casey Stoner em 2007). Seu currículo também inclui cinco títulos na HRC,
quatro com Márquez e um com Casey Stoner.
Livre
das limitações impostas por sua antiga função, Livio Suppo não se furtou a
opinar sobre diversos assuntos relacionados com a última temporada. Elogiou
sobremaneira a evolução da KTM em seu primeiro ano na categoria, esclarecendo
que nunca conversou sobre uma possível mudança com o fabricante austríaco.
Sobre Marc Márquez
esclareceu que toda a demora para assinar este ano foi por negociações
centradas em questões técnicas, por isto acredita que ele fica na equipe no
binômio 2019/2020. O atual tetracampeão não elege o lado financeiro como fator
principal em um contrato. A maior evidência é que Márquez tem uma propriedade
em Andorra, local escolhido por vários desportistas por sua beleza natural e excelentes
condições de treino ao ar livre, mas presta contas ao fisco espanhol, caso
único entre os ídolos de esportes do país. Óbvio, dinheiro é uma das maneiras
que uma fábrica mostra seu reconhecimento para um piloto, mas não é a única, no
caso de Márquez pesam ainda fatores técnicos e familiares, seu irmão Alex
pilota uma Honda da Marc VDS na Moto2
Segundo
Suppo o salto de qualidade de Andrea Dovizioso em 2017 deve ser creditado em
parte ao estímulo causado pela contratação de Lorenzo. A valorização da equipe
com a chegada do multicampeão proporcionou maiores investimentos da fábrica de
Borgo Panigale e forneceu as condições essenciais para o desempenho do veterano
piloto italiano em 2017. Dovizioso aproveitou O piloto italiano aproveitou toda
a sua experiência com o equipamento e seu trânsito com a equipe de apoio para
obter os bons resultados.
Suppo
também comentou sobre dois assuntos recorrentes em relação a Repsol-Honda, a
manutenção de Dani Pedrosa na equipe e o GP de Valência em 2015. Ele considera
Pedrosa no comando de um equipamento da MotoGP, com o físico que possui, algo
muito próximo de um milagre. Independentemente deste fato, o diminuto espanhol
é um dos melhores pilotos nas pistas e único piloto a conquistar pelo menos uma
vitória por temporada nos últimos 16 anos. Sobre Valência em 2015, a HRC ainda
comandada por Nakamoto san permitiu que seus dois pilotos decidissem sobre como
proceder na pista. A estratégia de Márquez de poupar equipamento para as
últimas voltas foi atrapalhada pela vontade de Pedrosa vencer, permitindo a
vitória de Lorenzo. A equipe havia fornecido a telemetria da prova anterior em Sepang
e a FIM decidiu não divulgar, o que é compreensível porque existem coisas que estão
sujeitas a interpretações. A Federação entendeu que ambas as posições (Rossi
& Marquez) eram igualmente defensáveis preferiu não jogar gasolina no fogo.
A
relação de Lorenzo com a Ducati é antiga, em 2009 a equipe que Suppo fazia
parte trabalhou para que ele migrasse para a equipe italiana. O resultado não
foi legal, além de não convencer o maiorquino a abandonar a Yamaha, ainda
desagradou Stoner que acertou a sua transferência para a Honda. Lorenzo é um
piloto excepcional no comando de uma moto, mas péssimo em comunicação. Nos
bastidores da MotoGP existe um consenso que é uma tarefa inglória gostar de Lorenzo,
o seu comportamento não facilita e em momentos difíceis quando abre a boca, quase
sempre está enganado. O grande problema é que a transferência de Lorenzo para a
Ducati foi caracterizada para a equipe como a chegada de um salvador da pátria.
Gigi Dall'Igna prometeu investir pesado para conquistar um título, a equipe
está cumprindo sua parte, o equipamento já é um dos melhores das pistas e só no
final da temporada Lorenzo começou a justificar o seu custo. Se em 2018
Dovizioso continuar com resultados melhores, a situação do espanhol vai ficar
desconfortável. Seu valor de mercado deve cair muito.
Livio
Suppo nunca trabalhou com Valentino Rossi, e isto não o impede de admirar o
ídolo italiano embora, como tantos outros, acredite que tem ele muito pouco a
contribuir nos dias atuais. Já havia saído da Ducati quando Rossi foi
contratado, e é um dos artífices da estranha equipe de três pilotos que a Honda
inscreveu em 2011 (Stoner, Pedrosa e Dovizioso), solução encontrada para
acomodar Casey Stoner, que conquistou o título da temporada.
A
fila anda. Quando os protótipos da MotoGP alinharem para a primeira prova de
2018 muitas caras novas estarão presentes no grid e nos bastidores. Livio Suppo
não estará nos boxes da Repsol-Honda, entretanto muitas de suas ideias e
metodologias vão estar presentes. A ausência do italiano conciliador de sorriso
fácil e cabelos raspados será sentida.