Jorge Lorenzo, Marc Márquez & Valentino Rossi |
Uma conceituada agência de publicidade de Londres encomendou uma
pesquisa sobre personalidades do esporte, visando direcionar as peças
publicitárias mais adequadas para serem veiculadas em anúncios de eventos. Em
uma amostra aleatória de 426 pessoas, com idade entre 20 e 30 anos, a consulta
endereçou diversas modalidades esportivas propondo uma série de perguntas
genéricas, sem induzir respostas (espontânea). Em relação a Fórmula 1, a
pesquisa contemplou uma pergunta simples: “Qual o piloto mais admirado da
história da F1”. O resultado obtido representa para nós, tupiniquins, uma autêntica
heresia. A ampla maioria indicou o britânico Lewis Hamilton, o nome de Ayrton
Senna foi citado uma única vez e os multicampeões Emerson Fittipaldi e Nelson
Piquet sequer foram mencionados. Analisando com mais detalhe o resultado faz
sentido, na ocasião do acidente que vitimou Senna em 1994, o entrevistado mais
velho da amostragem tinha apenas sete anos. Nenhum dos entrevistados acompanhou
a performance dos brasileiros nas pistas.
Se uma pesquisa semelhante fosse realizada no ambiente da MotoGP
a área geográfica teria igualmente grande influência, na Itália Valentino Rossi
seria uma unanimidade, na península ibérica haveria alguma indefinição entre
Marc Márquez e Jorge Lorenzo. O italiano e os espanhóis são, nos dias atuais,
os maiores expoentes do motociclismo esportivo mundial. A discussão entre quem
é ou foi o melhor nunca vai alcançar um consenso.
O currículo de Valentino Rossi impressiona. Filho de Graziano
Rossi, um piloto que obteve três vitórias em GPs da classe 250cc nos anos 70,
Valentino iniciou no mundial de motovelocidade em 1996, conquistando seu
primeiro mundial na classe 125cc em 1997. Repetiu o feito em 1999 na classe
250cc e migrou no ano seguinte para a categoria que precedeu a MotoGP, a 500cc,
onde foi campeão em 2001, iniciando uma sequência de 5 títulos mundiais. Foi
vencido em 2006 por Nicky Hayden, The Kentucky Kid, em um final de campeonato
desastroso, foi derrotado na penúltima corrida da temporada no Estoril por Tony
Elias com a diferença mínima de 0,002 segundos e sofreu uma queda na última
prova em Valência. Hayden venceu o campeonato por escassos cinco pontos. Em
2007 brilhou a estrela de Casey Stoner, mas Valentino reagiu vencendo os dois
campeonatos seguintes, 2008 e 2009.
O ano de 2010 marcou um ponto de inflexão na carreira do
italiano, sofreu um grave acidente em Mugello e ficou afastado de quatro
provas, proporcionando a oportunidade de seu colega de equipe, Jorge Lorenzo,
realizar uma temporada dos sonhos e ganhar seu primeiro mundial. Com o
colega campeão do mundo e descontente com as condições para renovação de
contrato, Rossi apostou em uma equipe italiana puro sangue e assinou por dois
anos com a Ducati. Na época o comentário era que, para a torcida italiana, uma
vitória de Rossi com uma Ducati causaria uma comoção equivalente ao Papa vencer
o GP de Monza pilotando uma Ferrari. Os dois anos na equipe de Borgo Panigale foram catastróficos, além de não conseguir uma única vitória,
foi envolvido involuntariamente no acidente que vitimou seu amigo pessoal,
Marco Simoncelli, no GP da Malásia em 2011.
Valentino acumula três vice-campeonatos em sequência, perdeu
2014 e 2016 para Marc Márquez por uma ampla diferença de pontos, mas não se
conforma com o resultado de 2015, temporada que conquistou a liderança na
primeira prova e só perdeu na última para Jorge Lorenzo. O “imbróglio” de 2015
começou com uma declaração na conferência de imprensa que antecedeu a penúltima
etapa em Sepang, onde acusou Márquez, o vencedor da prova anterior, de ser o
responsável por sua quarta colocação. A animosidade transcendeu para a pista e
culminou em um incidente, pelo qual foi penalizado para largar na última
posição do grid em Valência, praticamente inviabilizando as chances do título.
Um dos maiores objetivos de Valentino Rossi na Moto GP,
ultrapassar o número de vitórias e títulos de Giacomo Agostini, está seriamente
ameaçado pelo que os jornais italianos chamam de “Armada Espanhola”. Desde a
estreia de Jorge Lorenzo na MotoGP em 2008, o espanhol acumula 44 vitórias e 3
títulos, Rossi neste intervalo de tempo só conseguiu 26 primeiros lugares. A
comparação com Márquez é ainda mais desfavorável, nos quatro anos em que ambos
compartilharam o grid de largada o piloto da Honda obteve 3 títulos e 29
vitórias, no mesmo período Rossi venceu apenas 9 vezes.
Valentino Rossi é um caso de sucesso dentro e fora das pistas.
Controla um grupo econômico gigantesco que inclui uma academia de
motovelocidade, as equipes de Moto2 e Moto3 Sky Racing Team VR46 e contratos de
licenciamento de marca com, entre outros, Dani Pedrosa, Scott Redding, Cal
Crutchlow, Jack Miller, Maverick Vinales, Bradley Smith, Jonas Folger, Alvaro
Bautista, Pol Spargaro e Kevin Schwantz. A legião de torcedores do piloto
não conhece fronteiras, bandeiras amarelas com o número 46 podem ser
encontradas em qualquer circuito do mundo onde haja qualquer atividade
envolvendo motos.
A carreira de Jorge Lorenzo custou a deslanchar, estreou na
125cc em 2002 e só conseguiu seus primeiros dois títulos mundiais em 2006 e
2007 já na Moto2. Contratado para pilotar pela equipe oficial da Yamaha em
2008, atuou como coadjuvante de Rossi no bicampeonato de 2008/2009, até
realizar uma performance perfeita em 2010 e conquistar seu primeiro mundial.
Perdeu a temporada de 2011 para Casey Stoner e o recuperou o título em 2012. Os
dois anos seguintes foram vencidos pela Honda de Márquez e Lorenzo voltou a
vencer em 2015, beneficiado pela punição de Rossi pelos incidentes em Sepang.
Jorge Lorenzo é um piloto extremamente técnico com foco total em seu trabalho,
o ambiente conturbado nos boxes da Yamaha em 2016 inviabilizou a sua
permanência na equipe. Há quem diga que ele não teve estrutura suficiente para
resistir a guerra psicológica movida por Valentino Rossi e preferiu aceitar o
desafio da Ducati, também motivado pelo maior salário já pago a um piloto de
motovelocidade.
Talvez a maior dificuldade para Rossi atingir seu objetivo seja
um cristão novo, um piloto que iniciou na Moto3 em 2008 com 15 anos de idade.
Marc Márquez é um dos quatro pilotos na história que conseguiram títulos nas três
categorias do mundial patrocinado pela FIM, ao lado de Mike Hailwood, Phil Read
e Valentino Rossi. Sua carreira desenvolve-se em um ritmo alucinante, em nove
anos conquistou cinco títulos mundiais, a estatísticas referentes
exclusivamente a MotoGP são ainda mais impressionantes, três títulos em quatro
disputados, sendo dois em suas primeiras temporadas.
Marc Márquez aos 23 anos já tem um histórico respeitável,
protagonizou o acidente mais veloz da MotoGP, 336 km/h, nos treinos livres
preparatórios para o GP da Itália em Mugello (2013), é recordista de
vitórias (13) em uma única temporada (2014), venceu todas as corridas que
participou nos EUA (Circuito das Américas e Indianápolis) e, curiosidade,
conquistou um Mundial de MotoGP no mesmo ano em que seu irmão mais novo Alex
Márquez venceu na Moto3 (2014).
Valentino Rossi entra na disputa em 2017 no comando de uma M1
consolidada e com a volta do ambiente harmônico nos boxes (por enquanto). Jorge
Lorenzo vai utilizar uma Desmosedici mais fácil de pilotar que a GP16, com a
responsabilidade de justificar seu salário conquistando vitórias para a fábrica
italiana. O atual campeão Marc Márquez defende seu título com uma RC213V bem
menos complicada que a da temporada anterior, com um conjunto motriz modificado
e com melhor retomada de velocidade.
Embora seja prematuro qualquer prognóstico, com certeza a
história da temporada de 2017 vai ser contada com a participação destes três
pilotos.
Carlos Alberto
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