segunda-feira, 6 de março de 2017

MotoGP - Rossi, Lorenzo & Márquez


Jorge Lorenzo, Marc Márquez & Valentino Rossi

Uma conceituada agência de publicidade de Londres encomendou uma pesquisa sobre personalidades do esporte, visando direcionar as peças publicitárias mais adequadas para serem veiculadas em anúncios de eventos. Em uma amostra aleatória de 426 pessoas, com idade entre 20 e 30 anos, a consulta endereçou diversas modalidades esportivas propondo uma série de perguntas genéricas, sem induzir respostas (espontânea). Em relação a Fórmula 1, a pesquisa contemplou uma pergunta simples: “Qual o piloto mais admirado da história da F1”. O resultado obtido representa para nós, tupiniquins, uma autêntica heresia. A ampla maioria indicou o britânico Lewis Hamilton, o nome de Ayrton Senna foi citado uma única vez e os multicampeões Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet sequer foram mencionados. Analisando com mais detalhe o resultado faz sentido, na ocasião do acidente que vitimou Senna em 1994, o entrevistado mais velho da amostragem tinha apenas sete anos. Nenhum dos entrevistados acompanhou a performance dos brasileiros nas pistas.
Se uma pesquisa semelhante fosse realizada no ambiente da MotoGP a área geográfica teria igualmente grande influência, na Itália Valentino Rossi seria uma unanimidade, na península ibérica haveria alguma indefinição entre Marc Márquez e Jorge Lorenzo. O italiano e os espanhóis são, nos dias atuais, os maiores expoentes do motociclismo esportivo mundial. A discussão entre quem é ou foi o melhor nunca vai alcançar um consenso.
O currículo de Valentino Rossi impressiona. Filho de Graziano Rossi, um piloto que obteve três vitórias em GPs da classe 250cc nos anos 70, Valentino iniciou no mundial de motovelocidade em 1996, conquistando seu primeiro mundial na classe 125cc em 1997. Repetiu o feito em 1999 na classe 250cc e migrou no ano seguinte para a categoria que precedeu a MotoGP, a 500cc, onde foi campeão em 2001, iniciando uma sequência de 5 títulos mundiais. Foi vencido em 2006 por Nicky Hayden, The Kentucky Kid, em um final de campeonato desastroso, foi derrotado na penúltima corrida da temporada no Estoril por Tony Elias com a diferença mínima de 0,002 segundos e sofreu uma queda na última prova em Valência. Hayden venceu o campeonato por escassos cinco pontos. Em 2007 brilhou a estrela de Casey Stoner, mas Valentino reagiu vencendo os dois campeonatos seguintes, 2008 e 2009.
O ano de 2010 marcou um ponto de inflexão na carreira do italiano, sofreu um grave acidente em Mugello e ficou afastado de quatro provas, proporcionando a oportunidade de seu colega de equipe, Jorge Lorenzo, realizar uma temporada dos sonhos e ganhar seu primeiro mundial.  Com o colega campeão do mundo e descontente com as condições para renovação de contrato, Rossi apostou em uma equipe italiana puro sangue e assinou por dois anos com a Ducati. Na época o comentário era que, para a torcida italiana, uma vitória de Rossi com uma Ducati causaria uma comoção equivalente ao Papa vencer o GP de Monza pilotando uma Ferrari. Os dois anos na equipe de Borgo Panigale foram catastróficos, além de não conseguir uma única vitória, foi envolvido involuntariamente no acidente que vitimou seu amigo pessoal, Marco Simoncelli, no GP da Malásia em 2011.
Valentino acumula três vice-campeonatos em sequência, perdeu 2014 e 2016 para Marc Márquez por uma ampla diferença de pontos, mas não se conforma com o resultado de 2015, temporada que conquistou a liderança na primeira prova e só perdeu na última para Jorge Lorenzo. O “imbróglio” de 2015 começou com uma declaração na conferência de imprensa que antecedeu a penúltima etapa em Sepang, onde acusou Márquez, o vencedor da prova anterior, de ser o responsável por sua quarta colocação. A animosidade transcendeu para a pista e culminou em um incidente, pelo qual foi penalizado para largar na última posição do grid em Valência, praticamente inviabilizando as chances do título.
Um dos maiores objetivos de Valentino Rossi na Moto GP, ultrapassar o número de vitórias e títulos de Giacomo Agostini, está seriamente ameaçado pelo que os jornais italianos chamam de “Armada Espanhola”. Desde a estreia de Jorge Lorenzo na MotoGP em 2008, o espanhol acumula 44 vitórias e 3 títulos, Rossi neste intervalo de tempo só conseguiu 26 primeiros lugares. A comparação com Márquez é ainda mais desfavorável, nos quatro anos em que ambos compartilharam o grid de largada o piloto da Honda obteve 3 títulos e 29 vitórias, no mesmo período Rossi venceu apenas 9 vezes.
Valentino Rossi é um caso de sucesso dentro e fora das pistas. Controla um grupo econômico gigantesco que inclui uma academia de motovelocidade, as equipes de Moto2 e Moto3 Sky Racing Team VR46 e contratos de licenciamento de marca com, entre outros, Dani Pedrosa, Scott Redding, Cal Crutchlow, Jack Miller, Maverick Vinales, Bradley Smith, Jonas Folger, Alvaro Bautista, Pol Spargaro e Kevin Schwantz.  A legião de torcedores do piloto não conhece fronteiras, bandeiras amarelas com o número 46 podem ser encontradas em qualquer circuito do mundo onde haja qualquer atividade envolvendo motos.
A carreira de Jorge Lorenzo custou a deslanchar, estreou na 125cc em 2002 e só conseguiu seus primeiros dois títulos mundiais em 2006 e 2007 já na Moto2. Contratado para pilotar pela equipe oficial da Yamaha em 2008, atuou como coadjuvante de Rossi no bicampeonato de 2008/2009, até realizar uma performance perfeita em 2010 e conquistar seu primeiro mundial. Perdeu a temporada de 2011 para Casey Stoner e o recuperou o título em 2012. Os dois anos seguintes foram vencidos pela Honda de Márquez e Lorenzo voltou a vencer em 2015, beneficiado pela punição de Rossi pelos incidentes em Sepang. Jorge Lorenzo é um piloto extremamente técnico com foco total em seu trabalho, o ambiente conturbado nos boxes da Yamaha em 2016 inviabilizou a sua permanência na equipe. Há quem diga que ele não teve estrutura suficiente para resistir a guerra psicológica movida por Valentino Rossi e preferiu aceitar o desafio da Ducati, também motivado pelo maior salário já pago a um piloto de motovelocidade.
Talvez a maior dificuldade para Rossi atingir seu objetivo seja um cristão novo, um piloto que iniciou na Moto3 em 2008 com 15 anos de idade. Marc Márquez é um dos quatro pilotos na história que conseguiram títulos nas três categorias do mundial patrocinado pela FIM, ao lado de Mike Hailwood, Phil Read e Valentino Rossi. Sua carreira desenvolve-se em um ritmo alucinante, em nove anos conquistou cinco títulos mundiais, a estatísticas referentes exclusivamente a MotoGP são ainda mais impressionantes, três títulos em quatro disputados, sendo dois em suas primeiras temporadas. 
Marc Márquez aos 23 anos já tem um histórico respeitável, protagonizou o acidente mais veloz da MotoGP, 336 km/h, nos treinos livres preparatórios para o GP da Itália em Mugello (2013), é recordista de vitórias (13) em uma única temporada (2014), venceu todas as corridas que participou nos EUA (Circuito das Américas e Indianápolis) e, curiosidade, conquistou um Mundial de MotoGP no mesmo ano em que seu irmão mais novo Alex Márquez venceu na Moto3 (2014).
Valentino Rossi entra na disputa em 2017 no comando de uma M1 consolidada e com a volta do ambiente harmônico nos boxes (por enquanto). Jorge Lorenzo vai utilizar uma Desmosedici mais fácil de pilotar que a GP16, com a responsabilidade de justificar seu salário conquistando vitórias para a fábrica italiana. O atual campeão Marc Márquez defende seu título com uma RC213V bem menos complicada que a da temporada anterior, com um conjunto motriz modificado e com melhor retomada de velocidade.

Embora seja prematuro qualquer prognóstico, com certeza a história da temporada de 2017 vai ser contada com a participação destes três pilotos.

Carlos Alberto

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