segunda-feira, 27 de março de 2017

MotoGP - A Abertura da Temporada no Catar


Maverick Vinales em Losail

A abertura do Mundial de MotoGP deste ano foi realizada, como acontece desde 2007, na pista de Losail, no Catar. O circuito, incluído no calendário do campeonato organizado pela FIM em 2004, foi construído em pleno deserto, ao norte de Doha, e em seus treze anos de história presenciou alguns GPs memoráveis.

A primeira prova da MotoGP no Catar aconteceu em 2004, foi a 13ª etapa da temporada e exigiu um enorme sacrifício dos pilotos. Disputada sob um calor escaldante de 40°C (51°C na pista), dos 22 pilotos que se apresentaram para a largada só treze concluíram a corrida, que ficou marcada por uma esperteza patrocinada pelos italianos Valentino Rossi (Yamaha) e Max Biagi (Honda). Os ventos do deserto levaram areia para a pista, prejudicando a aderência dos pneus durante as sessões de treinos livres e qualificação. Os italianos classificaram-se em 8° e 12° lugares e, para melhorar a aderência na largada, mandaram limpar os respectivos slots do grid durante a noite. A manobra foi denunciada, os dois foram penalizados e largaram nos últimos lugares. Este episódio causou um estremecimento na amizade entre Rossi e Sete Gibernau, o vencedor da prova, que foi responsabilizado pela punição dos italianos.

Casey Stoner, Loris Capirossi e Toni Elias protagonizaram uma fantástica disputa pelas primeiras posições do grid na segunda etapa da temporada de 2006. Ao final da sessão de qualificação a diferença entre Stoner (Honda), Capirossi (Ducati) e Elias (Honda) foi de apenas 0,052 segundos. Rossi obteve neste ano a sua segunda vitória no Catar, seguido por Nicky Hayden, que conquistou o campeonato no ano.

A etapa de 2008 foi a primeira da MotoGP disputada durante a noite. As condições de temperatura mais amenas aliviaram a pressão sobre os pilotos, e a pintura das motos realçada por poderosos holofotes em horário mais palatável para o público ocidental proporcionaram maior audiência. A prova histórica também é lembrada pela pole do estreante Jorge Lorenzo da equipe Yamaha, que no final obteve a segunda colocação atrás de Casey Stoner (Ducati).

Embora a expectativa de precipitação pluviométrica no deserto seja ínfima, a Lei de Murphy é inflexível e a corrida de 2009 foi cancelada por chuva intensa no horário da prova. A etapa foi postergada para o dia seguinte, causando diversos problemas de logística para as equipes e emissoras de TV que cobriram o evento.

Em 2013 Márquez conseguiu em seu primeiro mundial o cobiçado título da classe principal. Na primeira prova da temporada de 2014 as dificuldades enfrentadas pelo imberbe piloto da Honda na defesa de seu título foram Valentino Rossi (Yamaha), Stefan Bradl (LCR Honda) e a chuva. Bradl caiu com 8 voltas, deixando Rossi na liderança. Márquez conseguiu ultrapassar o Doutor faltando 10 voltas para o final e foi pressionado sem tréguas pelo multicampeão italiano. O espanhol resistiu aos ataques de Rossi e os dois pilotos cruzaram a linha de chegada separados por apenas 0,259 segundos.

Uma das melhores apresentações de Valentino Rossi na MotoGP aconteceu no Catar em 2015, depois de uma classificação infeliz para a largada, apenas o oitavo lugar (em uma época onde as vitórias eram monopólio dos quatro fantásticos, Rossi, Lorenzo, Márquez e Pedrosa). O Doutor fez uma corrida consistente galgando postos gradativamente até alcançar a liderança faltando duas voltas, e venceu com uma vantagem de 0,174 segundos sobre a Ducati de Andrea Dovizioso.

A vitória de Maverick Vinales este ano foi uma confirmação das previsões, ele tem sido o mais rápido desde os primeiros testes para a temporada. O clima, sempre ele, tentou ofuscar o protagonismo do jovem piloto espanhol e causou um atraso de 40 minutos para o início da prova, bagunçando os planos de cobertura da TV. Vinales partindo da pole não conseguiu uma boa largada, foi beneficiado pelas quedas de Johann Folger e Andrea Iannone, enfrentou alguma dificuldade com a capacidade de aceleração e velocidade final da Ducati de Dovizioso, assumiu a liderança nas últimas voltas e obteve uma vitória convincente.

O início da temporada de Vinales é muito semelhante ao de Lorenzo em 2016, melhores tempos na pré-temporada, domínio nos treinos, pole e vitória. Entretanto a felicidade do novo piloto da Yamaha no degrau mais alto do pódio contrastou com a atitude do antigo campeão, que durante as comemorações em 2016 destilou sua mágoa sinalizando para todos calarem a boca.  

As más notícias deste ano foram reservadas para os pilotos que competem com as RC213V, incluindo o atual campeão Marc Márquez. A máquina da Honda ainda padece pela falta de aceleração, o motor para este ano foi radicalmente modificado e os intervalos de ignição alterados, o que implicou para a HRC descartar todo o aprendizado e mapas de especificação da eletrônica do ano passado. O comportamento dos protótipos da Honda nas pistas também é diferente de todos os demais fabricantes, seus pilotos freiam muito mais tarde e exigem muito mais dos pneus. Na prova do Catar a Michelin sinalizou que seria impossível alcançar a temperatura ideal do pneu dianteiro com compostos duros em uma pista úmida, os pilotos foram orientados para trocaram para os intermediários, que deterioraram muito rápido. Márquez, Pedrosa e Crutchlow tiveram pneus para apenas meia prova.

A vitória convincente de Vinales o credenciou como forte candidato para disputar o título deste ano, mas a experiência ensina que não é salutar desconsiderar o talento de Valentino Rossi e a capacidade de recuperação da Honda. Lorenzo começou 2016 nadando de braçada, e terminou como todos lembram.

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