RC213V com Freio de Carbono na Chuva |
Sobrou
pouca coisa para ser decidida em Valência, última prova do calendário da MotoGP
em 2016. Os dois primeiros lugares já estão matematicamente definidos e há uma
pequena possibilidade que Jorge Lorenzo (Yamaha) perca a terceira posição para
Maverick Vinales (Suzuki), a diferença entre eles é de oito pontos. Pelo mundial de construtores a Honda lidera
com uma margem de 21 pontos sobre a Yamaha, diferença cômoda considerando que
está previsto o retorno de Dani Pedrosa. No mundial de equipes a Movistar Yamaha
lidera com dez pontos de vantagem sobre a Repsol Honda. Falta também decidir
qual o melhor piloto de equipe independente, Cal Crutchlow entra na pista
somando dezessete pontos a mais que Pol Espargaró.
A
história da MotoGP vai considerar a temporada de 2016 como um ponto fora da
curva, nove pilotos vencedores no ano, oito diferentes em oito corridas
consecutivas, são fatos inéditos na história do mundial de motociclismo. Neste
ano já houve a queima geral da largada na Moto2 na primeira corrida no Catar, o
imbróglio dos pneus na Argentina que forçou a troca compulsória de motos, o
temporal em Assen, o clima maluco em Sachsering e o drama do composto fornecido
pela Michelin em Brno. Com este histórico, qualquer ocorrência em Sepang
poderia ser considerada normal.
Uma
enquete realizada entre os pilotos antes da prova de Aragon apontou Andrea
Dovizioso como o mais provável a ser o nono piloto a vencer na temporada. O
italiano, uma pessoa com trânsito fácil em todo o paddock, estava sob os
holofotes da mídia desde que foi confirmado como o companheiro de Lorenzo na
Ducati para a próxima temporada. Muitos questionaram a escolha sugerindo que,
por ser mais novo e mais atrevido, Andrea Iannone seria uma escolha mais
adequada. Iannone estava à frente na pontuação do campeonato e seu estilo
afoito, quase (?) irresponsável, encanta os torcedores italianos. Já Dovizioso
sempre foi um eterno número dois, inteligente, analítico, mas sem o instinto
assassino necessário para obter vitórias.
A
conquista da pole em Sepang proporcionou a melhor chance de quebrar esta
imagem, porém o clima instável da Malásia sempre foi um fator desconfiança. Em
uma corrida no molhado Dovizioso teria uma chance real de vitória, com a pista
seca a balança penderia para os favoritos de sempre, a dupla de fábrica da
Yamaha e o campeão antecipado da temporada. Houve um complicador a mais, o
retorno de Andrea Iannone, afastado das últimas provas por uma costela
fraturada.
A
chuva esteve presente no horário da corrida, o início foi protelado por quinze
minutos, seguidos de mais cinco até o clima melhorar e o início da prova ser
autorizado. Logo nas primeiras voltas formaram-se dois grupos, Iannone, Rossi,
Dovizioso, Márquez, Espargaró (Pol), Crutchlow e Lorenzo distanciando-se dos
demais.
As Honda
não se adaptaram ao piso recapado de Sepang, cujo grip agravou seu crônico
problema de retomada de velocidade. Quando isto acontece a única opção dos
pilotos é compensar na frenagem a falta de aceleração, e o equipamento de
Márquez foi equipado com discos de carbono, 320mm, mais eficientes que os de
aço, com um tipo de carenagem protetora para manter a temperatura adequada.
Funcionou enquanto a pista estava molhada. Na décima segunda volta aconteceu
uma destas coincidências que dificilmente se repetem, as duas Honda do bloco
dianteiro perderam a frente na mesma volta, Crutchlow caiu na curva 2 e Márquez
nove curvas depois. A queda do campeão da temporada não foi relacionada com a
sua escolha de freios, ele estava acelerando quando perdeu o controle. Assim
como aconteceu na França, o piloto recuperou a moto e voltou para a prova,
ultrapassando vários retardatários para classificar-se em décimo primeiro
lugar.
Sem
as Honda, Lorenzo foi promovido para quarto, que rapidamente mudou para
terceiro com a queda, mais uma, de Iannone. Foi o décimo “zero” de Iannone nas
dezessete provas da temporada, face a este histórico, nos dias atuais ninguém
mais questiona a opção da Ducati em manter Dovizioso na equipe.
Com
Lorenzo acomodado, a corrida limitou-se à disputa entre Rossi e Dovizioso, e o
piloto da Ducati percebeu que o desempenho da Yamaha estava deteriorando. Valentino errou o ponto de frenagem na curva
1 da décima quinta volta, foi obrigado a fazer uma trajetória aberta,
permitindo a ultrapassagem da Ducati pela linha interna. Rossi estava pagando o
preço de exigir demais de seu pneu dianteiro, que resultou em uma perda
gradativa da eficiência, sentiu que a vitória era improvável e sequer tentou
recuperar a posição, limitou-se a administrar a segunda posição para garantir o
vice-campeonato antecipado. Recompensa amarga para quem disputou uma dura
batalha pela liderança com Iannone, ao ultrapassar o conterrâneo começou a
acreditar que a vitória era possível, entretanto a pista começou a secar seu
pneu dianteiro (sempre ele) aqueceu demais.
A
colocação de Rossi no campeonato foi importante para a disputa interna que
mantém com Lorenzo na Yamaha, os dois compartilharam os boxes em sete dos
últimos nove anos (em 2011 e 2012 Rossi pilotou para a Ducati), cada qual contabiliza
dois campeonatos neste período, Rossi chegou na frente do companheiro em quatro
temporadas, Lorenzo em três. É uma comparação malandra, Rossi conquistou o
bicampeonato quando Lorenzo foi promovido da Moto2, em 2008/2009, a partir de
2010 o espanhol foi campeão três vezes (em uma delas enquanto o italiano estava
na equipe italiana), Rossi nenhuma.
A
prova de Sepang também proporcionou uma emocionante disputa pelo quarto lugar
entre os pilotos da Avintia, o espanhol Hector Barberá e o francês Loriz Baz.
Com o quarto lugar, sua melhor colocação em sete anos de MotoGP, Barberá com
uma GP 14.2 acumula 97 pontos no ano, um a mais que Andrea Iannone, da equipe
oficial de fábrica.
A
vitória de Andrea Dovizioso em Sepang é um prêmio justo para um piloto
tranquilo, que não tem desafetos em todo o paddock. Não é um piloto de exceção,
mas sua condução é correta e, quando as condições permitem, é candidato a
vitórias. Nos planos da Ducati para a próxima temporada, Jorge Lorenzo está
escalado para vencer etapas, a posição esperada de Dovizioso está centrada no
desenvolvimento da moto.
PS:
O canal britânico BT Sports
veiculou, para ocupar o espaço de tempo em que a largada da prova foi
retardada, uma matéria sobre o incidente entre Marc Márquez e Valentino Rossi
na corrida de 2015, que resultou na penalização do italiano e, praticamente,
decidiu o campeão da temporada. Segundo o comentarista da emissora, Valentino
Rossi, intencionalmente, manobrou para tirar Márquez da pista conforme
comprovam as fotos anexas e a penalidade foi bem aplicada. Não houve comentário
sobre um possível contato físico entre o italiano e a moto do espanhol.
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