Queda de Marc Márquez (Phillip Island, 2016) |
Em 2009 Colin Edwards autoproclamou-se
campeão da MotoGP. Na verdade ele ficou em quinto na temporada, mas segundo seu
raciocínio, os desempenhos de Rossi, Lorenzo, Pedrosa e Stoner eram tão
superiores que eles competiam em uma outra categoria. Desde 2008, quando
Lorenzo fez a sua estreia na MotoGP, as vitórias foram divididas exclusivamente
entre os “Top Four”, com Marc Márquez assumindo o lugar de Stoner em 2013. Dovizioso
em Donington, 2009, e Spies em Assen, 2011, foram as únicas exceções, ambas em
provas realizadas com condições de pista incomuns.
A vitória de Cal Crutchlow na
Austrália, a terceira do ano de um piloto independente, identifica 2016 como
uma temporada diferente, não necessariamente mais competitiva. Não há como
caracterizar um campeonato que tem seu vencedor assegurado faltando três etapas
como muito disputado.
Oito pilotos diferentes já venceram
este ano, a rigor, entre os pilotos de fábrica da Yamaha e Honda, só Márquez
alcançou um número expressivo de vitórias, cinco ao todo, o mesmo que Rossi e
Lorenzo somados. Nas outras provas sempre houve algum fato atípico, Jack Miller
ganhou com muita chuva, onde qualquer ousadia era penalizada por queda, Iannone
obteve seu sucesso em uma pista que parece ter sido desenhada à régua
especialmente para as Ducati, a primeira vitória de Crutchlow foi mais por uma
escolha feliz na loteria de pneus. Maverick Vinales, com a Suzuki, destoa deste
script, venceu em Silverstone com bom tempo e pista seca.
Na Austrália mais uma vez o
protagonista foi o clima, e a escolha errada da hora de entrar na pista durante
os treinos livres jogou Crutchlow, Lorenzo, Rossi e Vinales para o Q1. Rossi
ainda obteve um ótimo tempo, mas não foi validado porque o piloto excedeu o
limite de segurança do número de voltas com um composto macio. Crutchlow e
Lorenzo passaram para o Q2, Rossi foi relegado para a décima quinta posição no
grid.
Márquez conseguiu a pole, a número 65 de
sua carreira em 148 provas, ultrapassando Rossi e Lorenzo com 64 cada. O início
da prova foi caracterizado pela brilhante performance de Rossi, que na décima
volta, ajudado pela queda do até então líder Márquez, já estava em segundo
lugar. O esperado, um ataque de Valentino à Honda de Crutchlow não existiu, o
britânico impôs um ritmo de corrida alucinante e até a volta 23 abriu
6,5 segundos.
A vitória do britânico Crutchlow em
pista seca da Austrália é para ser comemorada. Cal, um piloto não fábrica,
iguala o número de vitórias de Rossi na temporada, ele e Márquez foram os
únicos que optaram pelo pneu dianteiro duro, a queda de Marc, juntamente com a
placa dos boxes indicando que Rossi estava em sua caça não o intranquilizou, o
piloto da LCR Honda manteve seu ritmo inalterado.
O campeonato conquistado na prova
anterior do Japão coroou a estratégia de Márquez, escolher provas em que
poderia ganhar e marcar pontos nas outras. Escolher um circuito para correr por
só por pontos é uma opção difícil para o espanhol de 23 anos, que já venceu em todas as pistas de MotoGP do atual campeonato,
com exceção da Áustria. Para Rossi faltam Austin, Aragon e Áustria, Lorenzo
ganhou em todos os lugares, exceto Argentina, Austin, Sachsenring e Sepang,
Pedrosa já venceu em 11 dos 18 palcos do mundial de MotoGP.
Vencer duas
corridas no mesmo ano, com piso seco ou molhado, além de comprovar o incrível
talento de Crutchlow, também confirma que as regras restritivas de
desenvolvimento de tecnologia dos organizadores (FIM & Dorna), o pacote
eletrônico único e o novo fornecedor de pneus abrem oportunidades para o
progresso das equipes independentes. Apenas para efeitos de comparação, se o
campeonato tivesse começado em Sachsenring, Marc Márquez teria 128 pontos,
Valentino Rossi 113, Jorge Lorenzo 71 e Cal Crutchlow 121 pontos. Traduzindo,
considerando a prova da Alemanha como ponto de partida, o campeão antecipado da
temporada e piloto da equipe de fábrica da Honda conquistou sete pontos mais
que o da equipe satélite. Crutchlow estaria em segundo lugar, apenas sete
pontos atrás Márquez.
Com o pódio de Vinales em Phillip Island, a Suzuki já
conseguiu uma vitória e três terceiros lugares em 2016, pontuação suficiente
para a fábrica perder seus privilégios de concessões na próxima temporada. Em
2017 a fábrica terá a limitação de sete em vez de nove motores no ano,
concepção do propulsor congelada a partir da primeira corrida e cinco dias de
testes privados com os pilotos de fábrica. Embora a ausência de concessões
possa ser considerado um passaporte para as grandes equipes, é uma má notícia
para Andrea Iannone e Alex Rins, os novos contratados, afinal mais testes
ajudam a conhecer melhor a moto.
A MotoGP é um negócio com muitos interesses envolvidos, é
um absurdo imaginar que uma equipe deliberadamente boicote um de seus pilotos,
portanto deve haver uma explicação para os crônicos problemas enfrentados por
Jorge Lorenzo depois do recesso de verão. Enquanto na Austrália Rossi pilotou
com segurança e classificou-se em segundo lugar, o espartano cruzou a linha em
sexto, 20 segundos - uma eternidade - atrás de Crutchlow, um final medíocre para um fim de semana sombrio. Lorenzo
havia feito uma pré-temporada perfeita, então, em função dos problemas com Baz
e Redding, a Michelin mudou o pneu traseiro para um composto mais rígido. Houve
uma curva de aprendizado e, quando as coisas estavam entrando nos eixos, a
fábrica trocou a consistência do componente em Brno, na República Tcheca.
O estilo de
pilotagem de Lorenzo exige mais aderência dianteira e traseira, em pistas com
maior grip como Motegi ele foi muito competitivo. Por causa de seu modo de
condução suave, ele não consegue gerar calor no pneu dianteiro como outros
pilotos, um problema que divide com Dani Pedrosa, e sem a temperatura adequada,
não há como exigir o máximo do equipamento.
Os problemas de
Lorenzo, por extensão também de Rossi, são agravados pela falta de progresso da
Yamaha com a eletrônica. Os recursos de hardware e software são os mesmos, mas
Honda e Suzuki conseguem mapear melhor as pistas e obter vantagens. O campeão
do ano passado indica que falta confiança na entrada de curvas velozes porque o
freio motor não tem a eficiência necessária. Lorenzo espera não ter tantos
problemas nas provas de Sepang e Valência, em pleno verão tropical. Com pneus
aquecidos, os problemas da eletrônica podem ser contornados.
A Ducati está
esperançosa que em 2017 a Michelin ofereça pneus mais maleáveis, que aqueçam
mais fácil e proporcionem maior aderência, condições necessárias para Lorenzo
exercer toda a sua capacidade na moto italiana.
Um último rescaldo
da prova da Austrália, Scott Redding cruzou a linha de chegada na frente de seu
companheiro da Pramac Ducati, Danilo Petrucci. Os dois estão envolvidos em uma
disputa pela única GP17 que deve ser utilizada pela equipe no próximo ano.
Carlos Alberto Goldani
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