quinta-feira, 10 de junho de 2021

Um brasileiro que nunca desiste

 











Neste último domingo houve um raro lampejo de felicidade para os tupiniquins que tem octanas nas veias, Hélio Castroneves venceu a 105ª edição das 500 milhas de Indianápolis. Castroneves e Eric Granado são responsáveis por resgatar o orgulho dos brasileiros, quando fazem a bandeira nacional tremular no mastro mais alto dos circuitos da Fórmula Indy e Mundial de MotoE.

Se o mundial de motos elétricas ainda está nos estágios iniciais, a Fórmula Indy está consolidada e as 500 Milhas de Indianópolis são consideradas uma das provas mais importantes do mundo.

O currículo de Hélio contempla 4 vitórias na Indy 500, em 2001, 2002, 2009 e novamente em 2021, sendo com o escocês Dario Franchitti, o estrangeiro mais bem sucedido nesta prova. Faz parte de um clube exclusivo de 9 pilotos que venceram pelo menos 3 a Indy 500, o único ainda em atividade  Castroneves fez 4 poles na prova, incluindo 2 em anos seguidos em 2009 e 2010, também é (junto com Wilbur Shaw, Mauri Rose, Bill Vukovich, e Al Unser) um dos 5 a vencer as 500 milhas de Indianápolis em corridas consecutivas e o 4º piloto, o único não norte americano  a vencer 4 vezes a midiática prova.

Ele possui 29 vitórias em monopostos CART e IndyCar Series, 86 pódios e 46 pole-position.   Na IndyCar em 2008, 2013 e 2014 conquistou o vice campeonato, 3º em 2003 e 2006 e 4º lugar em 2004, 2009, 2010 e 2012, repetiu o mesmo resultado no campeonato da CART em 2001. Fora das pistas foi vencedor da 5ª temporada da versão americana de Dancing with the Stars com sua parceira Julianne Hough.

 
Hélio Castroneves & Julianne Hough


As 500 Milhas de Indianápolis foram disputadas pela primeira vez em 1911. O circuito oval de 2,5 milhas sempre conservou o mesmo formato, um retângulo com os cantos arredondados. O piso de tijolos recebeu uma camada de asfalto em 1960, conservando no ponto de largada uma faixa de 1 metro com material original, que é sua marca registrada. 

A pista em seu formato clássico esteve no calendário da F1 entre 1950 e 1960. Embora seja uma prova oficial do calendário de Formula Indy, as 500 milhas são disputadas por pilotos de diversas nacionalidades e contabiliza em seus mais de cem anos de disputas vitórias de quatro brasileiros, Hélio Castroneves em 4 oportunidades (incluindo a deste ano), Emerson Fittipaldi 2 vezes e Tony Kanaan e Gil de Ferran, 1 vez cada. 

 
Nelson Piquet-Acidente em Indianópolis - 1992


É um evento diferenciado, para algumas equipes a única prova do ano, alguns pilotos são contratados especialmente para este evento, como foi caso de Nelson Piquet em1992. Aposentado da Fórmula 1 como o 2º piloto mais experiente das pistas na época, o tupiniquim aceitou um convite para disputar as 500 milhas pela equipe Menard. Um grave acidente nos treinos, possivelmente causados por detritos na pista, resultaram em um dano considerável em seus membros inferiores. Na edição de 2021 foram inscritos 9 pilotos exclusivamente para esta prova, dentre os quais a suíça Simona de Silvestro que voltou para a IndyCar após 8 anos de ausência.]


Simona de Silvestro (foto não atualizada)


A Indy privilegia um grid equilibrado, onde todas as equipes utilizam o mesmo chassi Dallara e podem optar por propulsores Honda ou Chevrolet, V6 de 2,2 litros, com turbocompressor duplo. A prova das 500 milhas é disputada em 200 voltas no circuito, exige uma concentração brutal do piloto para andar pouco mais de 2 horas e meia a velocidades de até 370 km/h.

Hélio Castroneves, 46 anos (e tem gente falando que Valentino Rossi de 42 anos é velho) fez uma aposta de alto risco ao trocar o conforto de uma equipe tradicional e vencedora como a Penske, pela qual pilotou durante 20 anos e venceu 3 vezes as 500 milhas, pela desconhecida Meyer Shank. Hélio aceitou o desafio de colaborar com o crescimento gradual da equipe em algumas temporadas, entretanto queimou etapas e fez história ao vencer a maior corrida do mundo pela quarta vez.

Ousadia e autoconfiança foi o que motivou o veterano piloto a optar por uma equipe nova e sem tradição quando se viu sem espaço na Penske (a fila anda). Não foi uma decisão fácil, depois de muitas conversas e de uma aproximação com a McLaren, Hélio assinou com a Meyer Shank para o pilotar o segundo carro de uma equipe que ainda não havia completado uma única temporada.  O acordo foi assinado contemplando 6 provas, e estreou justamente na Indy 500.  

 
Castroneves cruza a linha de chegada vencendo a edição 105 da Indy 500


A experiência do piloto foi fundamental para conseguir a vitória. Hélio realizou uma pré-temporada curta com poucos testes, não houve problema de adaptação porque todos os carros da Indy 500 são muito semelhantes. Houve um número limitado de testes, poucos dias para estabelecer um clima de confiança com a nova equipe e criar um entrosamento capaz de ser minimamente competitivo na prova.

Os resultados foram imediatos, já nas tomadas de tempo classificou-se para o Fast Nine, um tipo de Q3 da MotoGP ou Q2 da Fórmula 1, um feito considerável para uma equipe pequena. O piloto garantiu uma posição de largada nas 3 primeiras filas.

Embora os patrocinadores e dirigentes da equipe já estivessem satisfeitos, Hélio não se contentava como top-10, batalhou pela vitória desde as primeiras voltas.

 
Largada da edição 105 das 500 Milhas de Indianápolis

Um bom ritmo, combinado com pit-stops seguros e uma pilotagem perfeita, dosando agressividade com estratégia, o conduziu às 1ªs posições nas voltas finais, quando sua enorme experiência o levou a assumir a liderança nas últimas voltas.

Castroneves estabeleceu um novo parâmetro, já uma lenda por pilotar por duas décadas para uma das equipes mais vitoriosas, hoje está no mesmo nível de heróis do esporte a motor nos Estados Unidos como AJ Foyt, Al Unser Sr. e Rick Mears, com a vantagem que Hélio, apesar da idade, ainda está na ativa e com certeza vai em busca do 5º título em 2022. 


 Hélio Castroneves e sua tradicional comemoração, que lhe rendeu o apelido de Homem-Aranha


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