sexta-feira, 28 de maio de 2021

Fórmula 1& MotoGP - Cobertura da mídia



Na abertura das transmissões do GP de Mônaco de Fórmula 1 os profissionais envolvidos foram unânimes em opinar que a Ferrari havia tomado a decisão equivocada ao não trocar a caixa de câmbio do carro de Leclerc. Contextualizando, depois de marcar o tempo que garantiu a pole, o piloto da Ferrari se acidentou ao tentar uma última volta voadora, sofreu uma forte pancada que danificou a estrutura do carro. Uma troca de caixa de câmbio seria passível de uma punição de cinco posições no grid, que no traçado de Mônaco equivaleria a abrir mão de qualquer esperança de vencer. Criticar o fabricante por um suposto erro de estratégia foi um comportamento típico da soberba de nossos comunicadores. 


 
Acidente com Charles Leclerc (Ferrari) no Q3 do GP de Mônaco 2021


Pouco antes do início da prova surgiu um problema que impediu Leclerc de participar da largada, os comentaristas lamentaram que a aposta da Ferrari tenha sido errada. Detalhe: Não houve nenhuma indecisão ou aposta errada da Ferrari. O problema no carro da equipe foi uma peça que não tinha relação com a caixa de câmbio e que possivelmente tenha sido avariada no acidente. 

A tarefa de narrar e comentar um evento esportivo é complexa, os eventos se sucedem com muita rapidez e não permitem um raciocínio muito elaborado. Para não induzir o espectador a erro, o profissional da mídia deve evitar eventuais preferências, limitar-se a narrar os fatos ou, no máximo, a analisar o que já aconteceu sem especular razões ou formular teorias para justificar as decisões dos participantes. 

Há muito tempo atrás trabalhando como locutor esportivo na Rádio Tupi do Rio de Janeiro o compositor Ary Barroso, autor do samba-exaltação Aquarela do Brasil, narrando um clássico carioca, afirmou que o Flamengo tinha 1, o resto não interessava - o placar era 5 a 1 para o Botafogo. Ary Barroso não escondia que tinha uma paixão desmesurada pelo Flamengo, quem ouvia suas narrações sabia que era uma descrição vista pela ótica de um torcedor fanático, seus julgamentos sempre pendiam para um lado só.
 
O que se vê hoje em dia é a opinião de pessoas que se dizem isentas, sem o lastro de fatos. Na transmissão do GP de Mônaco os mesmos especialistas que já haviam errado ao condenar a Ferrari antes do início da prova, também desaprovaram a estratégia da Mercedes em escolher o composto “hard” para o segundo jogo de pneus de Lewis Hamilton. Não imagino como se explicaram quando todas as equipes de ponta optaram pela mesma escolha no desenrrolar da prova.

Não é raro encontrar a opinião impressa, em áudio ou vídeo a afirmação que o espanhol Fernando Alonso é um dos principais pilotos de F1 em atividade, porém é complicado encontrar uma razão que justifique esta escolha. O espanhol venceu dois mundiais, (2005 & 2006) pela Renault, que na época era dirigida por Flavio Briatore cuja biografia dispensa comentários. O histórico de Alonso inclui diversas ocasiões em que se revelou um péssimo companheiro, submetendo a sua equipe e colegas a humilhações públicas. No Japão comparou o motor Honda a um propulsor de Fórmula 2. Para lembrar duas que atingiram com mais intensidade os brasileiros, ele ultrapassou Felipe Massa no pitlane durante o GP da China em 2010 e, no mesmo ano na Alemanha, depois de exigir que a equipe ordenasse a Massa ceder a liderança, fingiu surpresa pela facilidade da ultrapassem e perguntou pelo rádio se houve algum problema com o carro do tupiniquim. Apesar de nos dias atuais Alonso não conseguir se impor sobre seu colega Esteban Ocon, ele é tratado pela mídia como principal piloto da equipe e um protagonista do espetáculo.

 
Esteban Ocon lidera Fernando Alonso na Alpine


Durante a década de 2010 a MotoGP no Brasil esteve associada à cobertura comandada por Fausto Macieira e Guto Nejaim. A sobriedade e conhecimento técnico do Fausto e a empolgação do Guto nunca disfarçaram uma admiração genuína pelo multi campeão Valentino Rossi, o Doutor. Guto inclusive criou a figura que o Doutor passava receitas cada vez que ultrapassava algum adversário na pista.


 Guto Nejaim & Fausto Macieira eram sinônimos de MotoGP

 Jorge Lorenzo, um dos maiores pilotos que participou de mundiais da MotoGP, foi colega de Valentino Rossi na Yamaha, conseguiu vencer as temporadas de 2010, 2012 e 2015, enquanto o lendário italiano foi campeão pela última vez em 2009. Lembrando sempre que Lorenzo na época disputou pela Yamaha com uma máquina igual a de Valentino Rossi. Não é exatamente fácil gostar de Jorge Lorenzo, o tricampeão mundial nunca investiu muito em sua imagem junto ao público. Dono de uma técnica eficiente de condução, dificilmente cometia erros e conduzia sua moto como se estivesse correndo sobre trilhos. Sua maneira de administrar uma prova, eficiente e sem sobressaltos, é conhecida até hoje entre os especialistas da mídia como “Modo Lorenzo”. Enquanto ele e Rossi pilotaram o mesmo equipamento, é inegável que os resultados obtidos pelo espanhol foram superiores. 

A análise dos principais fatos ocorridos na MotoGP nos últimos anos indica que a mídia pode ser tudo, menos isenta. Um dos episódios mais controversos da MotoGP ocorreu em 2015 no chamado “Incidente em Sepang”. Lembrando, na penúltima prova do Mundial realizada na Malásia, Rossi e Lorenzo, ambos da equipe Yamaha, eram os únicos com pontuação para alcançar o título. Durante a prova Rossi e Marc Márquez (Honda) disputaram acirradamente a 3ª colocação e, em uma manobra controversa, o piloto da Honda acabou caindo. Na época houve quase uma unanimidade em censurar Márquez por alegadamente prejudicar a corrida de Valentino Rossi. Aparentemente os meios de comunicação entenderam que por haver apenas 2 candidatos ao título, todos os outros participantes devem limitar-se ao papel de figurantes e abdicar de vitórias. Neste cenário, contratos de patrocínio e currículo profissional deixam de existir.

 
Sepang 2015 – Valentino Rossi & Marc Márquez


Nada é mais inexorável que o tempo. Toda uma geração aprendeu a gostar da Fórmula 1 e da MotoGP acompanhando as transmissões da TV que nunca primaram pela imparcialidade. Aturar explicações esdruxulas, ouvir fatos irrelevantes sobrevalorizados e justificativas absurdas sempre foram um tipo de pedágio a ser pago pelo privilégio de acompanhar os GPs de campeonatos mundiais. Houve uma oportunidade Nelson Piquet foi elogiado por ter um poder de concentração tão grande que, segundo os locutores, o habilitava a adormecer no volante antes de uma prova. A explicação do piloto era bem mais prosaica, ele havia se excedido na noite anterior e tentava recuperar alguma energia.

O mal da imprensa que transmite os campeonatos de Fórmula 1 e MotoGP para o público brasileiro é assumir uma onisciência que nem sempre é verdadeira. Buscar sempre uma explicação palatável para o telespectador e transmitir hipóteses como verdade absoluta, mesmo que não sejam, é um procedimento comum. Em 2017 Max Verstappen ultrapassou Kimi Raikkonen no GP dos EUA na volta final obtendo a 3ª colocação realizando uma manobra totalmente irregular, cortando o caminho por fora da pista. A direção da prova puniu a esperteza do holandês com 5 segundos e retirou o piloto da sala que antecede a comemoração do pódio. Houve comentaristas na TV brasileira que criticaram a decisão, argumentando que a essência da Fórmula 1, o resultado na pista,  não estava sendo respeitada. Felizmente os organizadores optaram por seguir as regras.
  

Max Verstappen ultrapassa Kimi Raikkonen por fora da pista – COTA 2017

Com o passar dos anos, a transmissão de eventos esportivos onde não havia o protagonismo de um participante tupiniquim deixou de ser atraente para alguns veículos de comunicações. A transmissão da MotoGP foi descontinuada na emissora do Jardim Botânico* em 2020 e migrou para a Fox Sports. A Fórmula 1 passou para a rede Bandeirantes em 2021. Entretanto não houve renovação no quadro de apresentadores, os âncoras Reginaldo Leme e Fausto Macieira acompanharam os mundiais de F1 e MotoGP respectivamente para seus novos seus novos endereços. Em termos de transmissão é mais do mesmo, com erros e acertos.

* Nota: O autor evita citar a Rede Globo.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Marc Márquez de volta ao jogo





"Like a Rolling Stone" é uma canção do músico e compositor norte-americano Bob Dylan. Sua letra de confronto surgiu de uma versão estendida de um verso que escreveu em junho de 1965, quando estava exausto de uma cansativa turnê pela Inglaterra. A canção de Dylan foi gravada também pelos Roling Stones e Beatles. Um dos trechos da letra, “Quem não tem nada, não tem nada a perder (When you ain't got nothing, you got nothing to lose)” aparenta ter sido a inspiração de Marc Márquez no GP da França.

 
Márquez & Bagnaia no GP da França 2021


Valentino Rossi dominou a MotoGP na década de 2000 e venceu com facilidade seu último mundial em 2009, com uma diferença de 45 pontos sobre seu companheiro Jorge Lorenzo, ambos defendendo a equipe oficial da Yamaha. Durante os reinos do GP da Itália em Mugello, em 2010, o The Doctor sofreu um grave acidente que resultou em uma fratura exposta, ficou em recuperação e perdeu 4 etapas, abrindo a oportunidade para a ascensão do colega de equipe. Depois deste acidente Rossi nunca mais conquistou um mundial, o mais próximo que conseguiu foi em 2015 quando sustentou a disputa até a última etapa da temporada em Valência, quando foi vencido por Jorge Lorenzo.


Valentino é atendido em Mugello 2010


Marc Márquez se acidentou em Jerez na abertura da temporada de 2020 e ficou afastado até o 3º GP desta temporada. A Honda, equipe com maior número de vitórias nos mundiais de MotoGP, perdeu a sua referência. Há muito todos os pilotos de equipamentos Honda da classe principal indicam que os protótipos japoneses são complicados para pilotar. Dani Pedrosa, que dividiu os boxes da equipe com Marc por diversas temporadas, justifica que os engenheiros da fábrica japonesa produzem protótipos visando o estilo de pilotagem de Márquez, centrando o desempenho no domínio absurdo que ele tem sobre a roda dianteira. Sem o seu campeão na disputa, a fábrica trabalhou para tornar a moto mais amigável para os outros pilotos e perdeu o foco.

Desde 2013, ano em que Márquez estreou na classe principal da MotoGP, a Honda contabilizou 68 vitórias, 56 do octacampeão, 9 de Pedrosa e 3 com Cal Crutchlow. Nos GPs disputados desde o acidente de Marc no início da temporada passada um véu negro cobriu a equipe e seus melhores resultados foram 2 pódios de Alex Márquez em 2020. Fazem 19 provas que um piloto Honda não pisa no degrau mais alto do pódio. Os números são muito eloquentes para indicar a clara dependência do fabricante japonês em relação ao piloto.

Marc Márquez voltou a participar do mundial de MotoGP nesta temporada e não disputou as duas primeiras etapas no Catar, voltou no GP de Portugal ainda sem as condições físicas ideais. Apesar de não apresentar a sua melhor forma, pilotou a melhor das 4 Honda classificadas. Além de não ter participado do desenvolvimento do protótipo, Marc encontrou um ambiente diferente no box. Uma das principais características do piloto é a lealdade com a sua equipe de apoio, dificilmente são vistos rostos novos em seu entorno. Nesta temporada a engenheira Jenny Anderson, que respondeu pela eletrônica da KTM de Pol Espargaró em 2020, se juntou à equipe.  Ela substitui Gerold Bucher, o técnico de telemetria que acompanhou Marc Márquez em toda a sua carreira desde a equipe Repsol CX Moto2. Hugo, como era conhecido o veterano no paddock, fazia parte da unidade mais restrita do piloto e era o mais experiente do staff do campeonato mundial, onde estava integrado deste em 1994. 

 
Alex Rins sofreu 2 quedas no GP


O circuito Bugatti em Le Mans que tem 4,1 km, sentido horário com 9 curvas para a direita e apenas 5 para a esquerda, tem a reputação de ser um dos que patrocinam maior número de acidentes. A prova da França foi atípica devido as condições do clima, a chuva intermitente foi responsável pela primeira prova flag-to-flag (onde a troca de equipamento é permitida) da temporada. Choveu durante a manhã, porém a largada foi autorizada com a pista seca e todos os pilotos equiparam seus equipamentos com pneus slick. As primeiras voltas foram conservadoras e não houve confusão, com exceção de uma saída de pista e queda da Yamaha de Franco Morbidelli no cascalho. Porém o clima insistia em ser o protagonista e faltando 23 voltas caiu um temporal. Os narradores oficiais da MotoGP utilizaram uma figuração da língua inglesa dizendo que estava chovendo gatos e cachorros (cats and dogs). Todos foram obrigados a trocar de moto (para uma com pneus de chuva) e houve um festival de erros no pitlane, Miller e Bagnaia excederam o limite permitido de velocidade na via de acesso, Quartararo errou a localização de seu equipamento reserva e, no final das contas, Márquez surgiu como o novo líder. O piloto espanhol é conhecido por sua adaptabilidade a condições adversas e logo adotou um ritmo quase 1 segundo mais rápido que os demais.

A convalescência de Marc Márquez deixou sequelas, a sua musculatura ainda não foi recuperada, que para o piloto é um problema enorme, seu físico está assimétrico, as reações em curvas para a direita não podem ser replicadas em curvas para a esquerda, e isto causou a sua primeira queda nas voltas seguintes. Recuperando a moto Márquez continuou, com muito atraso em relação aos líderes, a rodar entre 1 e 2 segundos mais rápido que os primeiros colocados, sua estratégia era ousada, como a chuva havia passado e a pista estava secando, queria mudar de novo para os pneus slick e recuperar um atraso de mais de 50 segundos. Não houve tempo, uma 2ª queda o tirou da competição. 

 
A Ducati ainda não aceita favoritismo na temporada

A temporada está muito disputada, A vantagem do líder atual sobre Marc é de 64 pontos, foram realizadas 5 provas das 17 que hoje estão no calendário. É prematuro excluir o octacampeão dos candidatos ao título, embora as dificuldades sejam imensas. Ele precisa recuperar o físico, a confiança e provavelmente ajustar uma combinação de muitas coisas: configuração de suspensão, equilíbrio da moto, centro de gravidade, software de frenagem do motor e assim por diante para obter o melhor desempenho. Nem as dobradinhas (1º e 2º) em 2 provas consecutivas foram suficientes para a Ducati assumir seu favoritismo no mundial. Segundo o gerente da esquadra de Borgo Panigale, Davide Tardozzi, Marc não precisa de mais de meia temporada em suas condições físicas perfeitas para disputar o título.

O GP da França foi estranho em muitos aspectos, houve 117 acidentes no final de semana, o vencedor Jack Miller passeou pelo cascalho e foi penalizado com 2 voltas longas, dos 4 primeiros, apenas Johann Zarco não sofreu penalizações. 


 Primeira queda de Márquez

 
Desalento da equipe Honda pela queda de Márquez 




sábado, 15 de maio de 2021

Spoiler do GP da França

 



O GP da França é disputado no circuito Bugatti, um autódromo permanente construído junto ao complexo La Sarthe, onde são disputadas as 24 de Le Mans. É um traçado curto, 4,185 km (2.600 milhas) com 14 curvas e vai hospedar a única prova realizada em solo gaulês em 2021.

Em Le Mans será realizada a 5ª etapa de temporada de 2021 e de acordo com os engenheiros e técnicos da Brembo, empresa italiana que fornece sistemas de frenagens para todos os fabricantes que disputam o mundial de motociclismo, o circuito se enquadra para as exigências de freios na categoria de médio porte. Na escala de 1 a 5 utilizada pelo fabricante dos componentes é avaliada com índice de dificuldade 3, o mesmo de 8 outros traçados que hospedaram ou devem hospedar a categoria este ano.

Apesar de ter a maior reta com apenas 674 metros de comprimento, o circuito contempla trechos de alta velocidade, em 2020 o piloto Pol Espargaro com uma KTM alcançou a marca de 311,6 km/h. O percurso inclui áreas que garantem a refrigeração adequada dos discos de carbono. Para evitar o risco de não atingir a temperatura ideal para o funcionamento do disco de freio, muitos pilotos podem optar por discos com área reduzida. A recomendação é que o componente de carbono deve ser utilizado independente do clima (chuva).  

 
Layout do Circuito Bugatti em Le Mans


O material utilizado pela Brembo nas pastilhas de freio da MotoGP é o carbono, pelo excepcional coeficiente de atrito e a constância do desempenho em temperaturas operacionais, que garante uma frenagem potente, uniforme e estável, sem fenômenos colaterais como, por exemplo, alongamento do curso da alavanca. As provas de GPs exigem massa e durabilidade específicas. O peso das pastilhas para a MotoGP é de apenas 50 gramas, menos da metade da variante utilizada em motos comerciais, a duração não ultrapassa os 900 km e a temperatura máxima suportada é de 800°C.

Durante uma volta completa no circuito os pilotos acionam os freios 9 vezes, totalizando 31 segundos, equivale aproximadamente a um terço do tempo de volta, a pista é a terceira mais curta do Campeonato Mundial de 2021. O sistema de frenagem está ativo em 34% da corrida, semelhante ao que acontece nos circuitos de Jerez (4.428 m) e Valencia (5,419 m) na Espanha e em Misano (4.180 m) na Itália.

 
Sistema dianteiro de freios da Aprilia


Quando utilizam os freios durante as voltas no Circuito Bugatti os pilotos sofrem uma desaceleração de pelo menos 1 g em 5 ocasiões, em 2 o valor não é inferior a 1,2 g e há 3 curvas em que a pressão no fluido do freio excede a 10 bar. Considerando o somatório de todos os acionamentos durante um GP, a pressão na alavanca de freio exercida piloto é da ordem de 975 kg.

Um equipamento da MotoGP deve ter um peso mínimo de 157 kg, incluindo óleo, água, dispositivos de cronometragem, câmera e equipamentos de registro de dados (regulamento). Os pilotos têm em média 67 kg, a vestimenta de proteção pesa 11 kg e 22 litros de combustível contribuem com mais 17 kg, na largada de uma prova o conjunto máquina-piloto desloca 260 kg. Ao acelerar esta massa a mais de 300 km/h e aplicar uma frenagem absoluta, os engenheiros da Brembo já constataram até 2 g de força negativa, o que equivale a cerca de 1,2 megajoules, energia cinética que precisa ser dissipada através do sistema de freios.

Esta magnitude de valor surgiu em algumas etapas da temporada passada e em provas iniciais em 2021 e embora atuem por breves períodos, o fato inegável é que as forças de frenagem estão atingindo limites inconcebíveis em temporadas recentes.

Se a moto e o piloto atingirem cerca de 2g de desaceleração, eles efetivamente pesam em torno de 500 kg durante a frenagem máxima. A maior parte dessa força passa pelo pneu dianteiro, o que é útil porque expande a área de contato de com o piso e aumenta a aderência. 

Quando um piloto de MotoGP freia, a maior parte de seu peso (incluindo o equipamento pessoal) é suportado por seus antebraços e pulsos, o que talvez explique a ocorrência cada vez mais comum de síndromes compartimentais (Arm Pump). Nesta temporada os pilotos Jack Miller, Iker Lecuona e Fábio Quartararo já passaram por cirurgias, Aleix Espargaro está programado para a próxima semana e Alex Márquez sinalizou que talvez seja o próximo (5 pilotos do total de 23 que já estiveram no grid este ano).


 
Iker Lecuona convalescendo de uma cirurgia de Arm Pump

O circuito Bugatti tem 9 zonas de frenagem, 2 exigem atenção especial dos pilotos porque são consideradas complicadas para os freios, 5 são de dificuldade média e as 2 restantes não são muito exigentes. O trecho mais difícil para os protótipos da MotoGP é a curva 9, os equipamentos sofrem uma redução de 295 km/h para 108 km/h em 4,5 segundos de frenagem, a pressão do fluído de freio atinge 13,6 bar. Os pilotos exercem uma carga de 6,4 kg na alavanca do freio, sofrem uma desaceleração de 1,5 g e no processo percorrem 239 metros.

 

segunda-feira, 10 de maio de 2021

F1 - Hamilton & Verstappen - Mais do mesmo

 


Sir Lewis Carl Davidson Hamilton é britânico, 7 vezes campeão mundial de Fórmula 1 (2008, 2014, 2015, 2017, 2018, 2019 e 2020), considerado um dos maiores pilotos de todos os tempos. Hamilton tem 36 anos, já disputou 269 GPs e acumulou 92 vitórias. Iniciou sua carreira com a equipe McLaren em 2007 e conquistou a primeira vitória no GP do Canadá no mesmo ano. Conquistou seu primeiro mundial em 2008 em Interlagos, batendo Felipe Massa por um ponto ao conseguir a 5ª colocação no GP Brasil em uma prova disputada com mau tempo, ultrapassando o alemão Timo Glock (Toyota) na última volta. Em 2013 mudou para a Mercedes AMG e no ano seguinte iniciou uma sequência de vitórias em mundiais, interrompida apenas em 2016 por Nico Rosberg, consolidando-se como um dos atletas mais bem-sucedidos da história. 

Nascido na Bélgica e holandês por opção, Max Verstappen vem de uma família de pilotos, seu pai, Jos Verstappen disputou sem brilho 8 temporadas da Fórmula 1. Max tem 23 anos e em seu currículo constam a participação em 122 GPs e 11 vitórias. Em 2015 esteou na Fórmula 1 pela equipe Toro Rosso, conseguindo um 7º lugar em sua 2º corrida (Malásia) tornando-se com dezessete anos e 180 dias de idade o mais jovem piloto a pontuar na Fórmula 1. Em maio de 2016, dias após o GP da Rússia, a equipe Red Bull anunciou a um rearranjo de pilotos entre Max Verstappen e Daniil Kvyat. Em sua primeira corrida em uma equipe de elite, Max venceu o GP da Espanha, sendo o mais jovem piloto a vencer um GP oficial, (Mais tarde também Max roubou a namorada de Kvyat, Kelly Piquet). Este feito marca também a primeira vitória de um piloto holandês na Fórmula 1.


Max Verstappen e Kelly Piquet em Lençóis Maranhenses durante o ano novo
 

Depois de 4 GPs disputados em 2021 o britânico Lewis Hamilton tem uma vantagem de 3 vitórias contra uma do holandês Verstappen, mas pelo menos existe algum tipo de disputa nas pistas. Hamilton não é um piloto comum, e em Barcelona alcançou pela 100ª vez a primeira posição de largada. Max venceu o duelo inicial da largada, porém há muito se sabe que vence quem faz a última e não a primeira volta na frente.

Para vencer um campeonato mundial de Fórmula 1 são necessários um bom carro, a experiência do piloto, a eficácia dos mecânicos nos boxes e um bom planejamento das corridas. Em relação ao monoposto, a máquina da Red Bull impulsionada pelos motores Honda tem comprovado competitividade, o domínio absoluto da Mercedes é cada vez mais questionado. Em relação aos pilotos, ambos são excelentes. Nos boxes a eficiência dos chamados Touros (Red Bull) é pouca coisa superior, embora nesta última prova tenham deixado a desejar e Verstappen tenha compensado a pequena falha na pista.

É na estratégia que os alemães têm feito a diferença.  Nesta última prova em Barcelona, o britânico decidiu equipar seu monoposto com pneus novos a 20 voltas do final, enquanto Verstappen e a Red Bull entenderam que poderiam resistir até o fim. A diferença de 20 segundos foi insuficiente, o Hamilton com um desempenho superior não cometeu erros e ultrapassou o holandês na pista faltando poucas voltas. Restou a Verstappen trocar os pneus para macios nas últimas voltar para tentar (e conseguiu) um ponto pela volta mais rápida.


Bottas, Hamilton e Verstappen, um pódio onipresente na F1 2021


A 3ª vitória do inglês na prova foi acompanhada do 3º pódio com Hamilton, Verstappen e Bottas, que limita as expectativas de um campeonato mais disputado; Além destes 3 nomes, apenas Lando Norris já participou das solenidades de premiação ao final das provas. As disputas que existem são por equipes que disputam o 3º lugar no campeonato de construtores, com especial menção para a ressureição da Ferrari. 

A Mercedes tem a vantagem de contar com uma dupla de pilotos mais efetiva que a Red Bull, porque Sergio Pérez ainda não apresentou os resultados esperados.


Sergio Pérez e sua Red Bull


Os resultados das 4 primeiras etapas estão frustrando a esperança dos que esperavam que esta temporada pudesse oferecer algo diferente, é verdade que há mais igualdade entre os dois primeiros, porém quanto ao resto os resultados continuam sendo os usuais.

MotoGP - A luz no fim do túnel

 



O campeonato mundial de motociclismo é disputado na principal categoria por equipamentos de 6 fabricantes, 3 nipônicos (Yamaha, Suzuki e Honda), 2 italianos (Ducati e Aprilia) e 1 austríaco (KTM). Desde que a categoria assumiu a configuração de motores 4 tempos em 2002 somente em uma oportunidade, em 2007, o campeão não pilotava uma máquina não japonesa (Casey Stoner com uma Ducati italiana). Entre 2002 e 2019 pilotos da Honda e Yamaha dividiram todos os títulos.

 

Casey Stoner - Campeão de 2007 com uma Ducati
 

Então sobreveio a pandemia e trouxe com ela a imprevisibilidade.

A evolução dos regulamentos limita as diferenças entre máquinas, o medo da expansão do Covid obriga a uma condensação do calendário e restringe o número de circuitos. Depois de 4 etapas o mundial já contou com 4 líderes diferentes (Vinales, Zarco, Quartararo e Bagnaia), a Yamaha venceu as 3 primeiras etapas da temporada, a Ducati conseguiu as 2 primeiras posições em Jerez e um de seus pilotos lidera a competição, a Suzuki foi campeã em 2020 e está bem posicionada com Joan Mir e a Aprilia finalmente coloca Aleix Espargaró nas disputas. Honda e KTM são as decepções da temporada até o presente momento. A KTM ainda obteve bons resultados em temporadas recentes, enquanto a Honda depois de uma temporada épica em 2019 parece ter ingressado em um túnel sem fim.

No início de 2019 a equipe da Asa dourada montou o que muitos (incluindo este escriba) chamaram de “Equipe dos Sonhos” com os multicampeões Marc Márquez e Jorge Lorenzo. Embora a participação de Lorenzo tenha sido, por diversas razões, decepcionante, Marc Márquez conquistou praticamente sozinho a Tríplice Coroa: o título de pilotos, de equipes para a Repsol Honda e de construtores para a HRC.


A Equipe dos Sonhos – Márquez e Lorenzo na Repsol Honda 2019

 

O acidente de Marc Márquez em Jerez na primeira etapa do ano passado resultou em zero vitórias durante a temporada, algo que não acontecia desde 1982. Os únicos resultados significativos foram os pódios de Alex Márquez em Le Mans e Aragon. Mesmo com o retorno tardio do octacampeão, o suplício da Honda não foi atenuado, a fábrica ocupa a 5ª posição entre os construtores, na frente por uma margem escassa de pontos da KTM.

O GP da Espanha igualou o pior desempenho da fábrica desde o início da atual fase da MotoGP em 2002, 18 provas sem vencer. A última vez que isto aconteceu foi entre o GP da a Grã-Bretanha em 2008 e o da Holanda em 2009.

Marc não está satisfeito com o atual desempenho do equipamento. Sem contar com o talento do campeão, a máquina foi ajustada para ser mais amigável ao piloto, o resultado foi que a moto perdeu velocidade no durante a viragem nos cantos e não compensa na saída das curvas, onde residiam seus pontos fortes. O problema de Márquez é tentar entender tudo o que mudou na sua ausência e, em última instância, não descarta voltar ao equipamento que tinha no início de 2020 na Andaluzia, que aliás é o responsável pelo melhor resultado da equipe na atual temporada, o 4º lugar de Nakagami em Jerez.


Takaaki Nakagami – 4º em Jerez
 

Pol Espargaró está decepcionado com seu primeiro ano na equipe: “Meus sentimentos são ruins, não consigo ser veloz nas curvas e, se tento compensar na frenagem, não consigo parar a moto. Ele está surpreso com o método de trabalho da equipe, que privilegia a individualidade. Não falta trabalho, mas como ele ainda não tem milhagem com a moto, fica dependendo do que os engenheiros e mecânicos colocam à sua disposição. Ao contrário do que acontecia na KTM, cada piloto da HRC sai com um chassi ou configurações muito diferentes.
 

Pol Espargaro e Marc Márquez – A atual formação da Repsol - Honda

 
A luz no fim do túnel ainda não está aparecendo, assim a esperança pode estar no equipamento que foi utilizado por Takaaki Nakagami, que na última prova obteve o melhor resultado de um equipamento Honda nesta temporada. Óbvio, a maiores esperanças da volta aos bons resultados dependem da melhora física do Marc.
 

A atual situação do campeonato Mundial

segunda-feira, 3 de maio de 2021

MotoGP - Postura dos pilotos

 




Conta a lenda que as primeiras reclamações de atletas em competições de velocidade sobre rodas de seus equipamentos são muito antigas. Nas corridas de bigas do tempo de Ben Hur, mais de 2000 anos atrás, já haviam justificativas como cavalos mancos, gordos, velhos ou rodas defeituosas, sempre apontados como culpados por maus resultados. 


Corrida de bigas

Nos esportes motorizados como a MotoGP as desculpas são recorrentes, ninguém perde porque os adversários adotam as melhores estratégias ou são mais competentes. Existe um sem número de desculpas que podem ser citadas, potência insuficiente do motor, falta de aceleração, mapeamento de software inadequado, dificuldades de aquecimento de pneus, falta de aderência da pista ou moto desequilibrada. 

Na cultura árabe existe um ensinamento que “Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha" -  a versão tupiniquim é mais realista, o complemento da condição é que o profeta desiste da temporada na serra. Este ensinamento pode ser portado para a MotoGP. Existem os que desenvolvem uma técnica de pilotagem e necessitam que o protótipo seja adequado, o exemplo de Jorge Lorenzo é típico, entre 2010 e 2016 ele e a sua Yamaha M1 tinham uma relação quase simbiótica e trabalhavam muito bem juntos. Quando trocou de equipamento, Lorenzo enfrentou dificuldades, sofreu no 1º ano na Ducati e fracassou na Honda. 

Há os que preferem aceitar as características próprias do equipamento disponível e adotam um estilo de pilotagem de modo a obter o melhor resultado possível, Marc Márquez e Franco Morbidelli podem ser incluídos neste grupo. Franco Morbidelli é o único piloto Yamaha que utiliza um modelo defasado, em 2019 era uma M1 2018 e este ano herdou uma moto utilizada pela equipe oficial em 2020. Na última temporada foi o piloto Yamaha melhor classificado e utilizou nas últimas provas motores que excediam em muito a sua vida útil do projeto. Um propulsor da YZR-M1 é especificado para rodar a plena carga por volta de 800 milhas, em função da pandemia o número de motores disponível para cada piloto em 2020 foi limitado a 5, graças ao erro da Yamaha em relação às válvulas e ao acidente na Áustria o piloto da Sepang Petronas disputou as 10 últimas provas dispondo de apenas 2 motores. Em Valência, Franco alinhou para a largada com uma unidade de potência que já havia rodado em testes e competições 1.600 milhas, o dobro do limite projetado. Ninguém sabe ao certo, mas é provável que ele tenha vencido a prova com o motor com maior milhagem percorrida desde que a categoria mudou para 4 tempos em 2002. Morbidelli com certeza já enfrentou problemas mecânicos, porém nunca procurou a mídia para justificar seus fracassos culpando o equipamento. Ele entende que o protótipo que pilota é o melhor disponível e procura adequar-se para conseguir o máximo desempenho possível.

 
Franco Morbidelli  - Ex-aluno da Academia VR46


Marc Márquez pilota um protótipo RC213V, reputado por 10 entre 10 pilotos como um equipamento arisco, de condução complicada. Com um motor V4, não tem a agilidade dos 4 em linha em trechos sinuosos. Para compensar esta deficiência, o piloto espanhol emprega uma técnica eficiente e com riscos calculados, provoca o deslizamento da roda dianteira para fazer o tempo nas entradas de curvas e poder sair com maior potência. Na corrida em que se acidentou em Jerez (2020), progrediu da 17ª para a 3ª posição com uma performance excepcional girando meio segundo por volta melhor que os líderes. Desde 2013 quando foi promovido para a equipe oficial da Honda até os dias atuais nunca usou a mídia para pressionar o fabricante e exigir melhor desempenho do equipamento. Certamente não deve ter só elogios para os engenheiros, porém considera que estes assuntos devem ser tratados intramuros.  

A autoridade conferida por sua história a Valentino Rossi lhe permite atribuir sus insatisfação ao protótipo que utiliza. Em 2019 foi muito enfático ao dizer que a fábrica da Yamaha no Japão devia corrigir a M1, a divisão europeia já havia feito tudo o que podia. É uma postura estranha, a última vitória de Rossi foi em 2017 e desde então as Yamaha continuam vencendo provas com Quartararo, Vinales e Morbidelli, inclusive em 2020 venceu 7 das 14 provas da temporada. O francês Fabio Quartararo depois de um início perfeito na temporada de 2020, quando chegou a comentar que, depois de confirmado o afastamento de Márquez, o seu maior adversário para o título era a Covid 19, naufragou durante a competição e não hesitou em apontar a reponsabilidade para o equipamento. Estranho, seu colega de equipe Morbidelli com uma máquina defasada e conseguiu na segunda metade da temporada seus melhores resultados, que resultaram no vice-campeonato, Quartararo ficou em 8º. Em 2020 na disputa interna das Yamaha, até então defendendo a equipe oficial, Valentino Rossi (15º) foi o pior classificado.

Andrea Dovizioso entrou em rota de colisão com a direção técnica da Ducati no ano passado ao tornar públicas as suas críticas à linha de desenvolvimento do protótipo. Gigi Dall’Igna privilegia a potência, velocidade final e aerodinâmica, enquanto o piloto solicitava maior maneabilidade, melhor comportamento em curvas. Como resultado o contrato do italiano não foi renovado e a Ducati perdeu a maior referência técnica que teve depois de Casey Stoner.

Quando a HRC renovou o com Marc Márquez por um período de 4 anos algumas pessoas estranharam, um prazo muito longo e inédito na categoria. O acidente de Jerez no início de 2020 que tirou o piloto da temporada de certo modo deu razão aos críticos, a aposta do fabricante nipônico era de alto risco. Os resultados obtidos pelos equipamentos Honda em 2020 e no início de 2021 entretanto absolvem e justificam a atitude da empresa. Após a brilhante campanha de 2019, Márquez conquistou praticamente sozinho a tríplice coroa para a Honda, os mundiais de pilotos, equipes e fabricantes. Até a 2ª prova deste ano, coincidindo com o seu afastamento os resultados desapareceram. Nas duas primeiras etapas da temporada 2021 os resultados são pífios. A Honda continua sendo uma potência e é a maior vencedora da motovelocidade mundial, entretanto é dependente de seu melhor piloto, que está atuando com limitações físicas. A equipe satélite, a LCR, não conseguiu marcar um único ponto nas duas etapas iniciais, e 4º lugar da máquina de Takaaki Nakagami na última prova é o melhor resultado da temporada. O fabricante na classificação geral não comparece entre os top ten. Pol Espargaro, que foi contratado para compor a equipe com Márquez, em 4 participações acumulou apenas um ponto a mais que Marc que disputou apenas 2. 

 
Arm Pump -  Um mal que assombra os pilotos


O desempenho das Yamaha neste início de temporada em Losail e no Algarve foi tão convincente quanto possível: 3 vitórias conquistadas pelos pilotos oficiais, considerando que as duas no Catar entram para a história como as corridas mais rápidas e com o menor intervalo entre os top ten da história. Não é exatamente uma novidade para a fábrica japonesa, Quartararo venceu as 2 primeiras corridas de 2020 e Maverick Vinales as duas primeiras provas de 2017, porém no restante das 2 temporadas deu tudo errado. Losail particularmente é sempre estranho, uma pista incomum e condições únicas, que têm pouca relevância para os outros 16 circuitos atualmente no calendário de 2021. E este ano foi mais estranho do que nunca, porque esta é a primeira vez que uma temporada começa com duas corridas no mesmo circuito depois de cinco dias de testes. Entretanto a vitória com autoridade de Quartararo em Portugal sugeriu que este ano poderia ser diferente. Na prova da Espanha o piloto francês estava liderando com sobras quando sofreu um desconforto chamado de “Arm pump” ou síndrome compartimental, os músculos do antebraço são submetidos a esforços brutais em uma prova e incham até quase dobrar de tamanho. Como a membrana que encapsula os músculos não expande, causa uma dor aguda ao realizar qualquer movimento. Quartararo arrastou-se até a 13ª ´posição e marcou apenas 3 pontos.


 Valentino Rossi depois de mais uma jornada frustrante


O que comentar sobre Valentino Rossi. O mais longevo e mais laureado piloto em ação está tendo um início de temporada horroroso. Na pista onde no ano passado ele havia conquistado o único pódio de 2020, este ano terminou a corrida em 17º lugar, a 22 segundos do vencedor Jack Miller. Nem Valentino consegue encontrar uma explicação para mais uma performance ruim: "No papel tudo é muito parecido com 2020. A moto não é a mesma, pelo projeto deveria ser melhor, mas por alguma razão eu sou mais lento do que no ano passado", disse no final do GP. O mau desempenho do decano dos pilotos frustra as esperanças da Sepang Petronas de repetir os resultados obtidos em 2020. A nota positiva do fim de semana para o piloto de Tavulia foi a presença de 2 de seus ex-alunos, Francesco Bagnaia e Franco Morbidelli, no pódio.

Pol Espargaro cruzou a linha em Jerez na 10ª colocação, a pouco mais de um segundo de Marc Márquez na primeira corrida que ambos terminaram como  companheiros de equipe. Pol estava decepcionado e confuso após a prova porque os 4 equipamentos Honda na pista eram diferentes uns dos outros. Ele não sabe a que atribuir o seu mau desempenho quando ficou na frente apenas do “wild card” Stefan Bradl na disputa particular entre os protótipos da HRC.

MotoGP - VR46 assina contrato com árabes para disputar as temporadas de 2022-2026

 




Bernie Ecclestone transformou a Fórmula 1 em um mega espetáculo e em uma máquina de fazer dinheiro procedendo de acordo como foi descrito na letra de Milton Nascimento e Fernando Brant em “Nos bailes da vida”, gravado em 1981: “ Todo o artista tem que ir aonde o povo está ”.  

Na visão comercial de Ecclestone não havia lugar para amadores, como eram a maioria dos garagistas (nome  atribuido pelo Comendador Ferrari para as equipes que montavam protótipos, sem no entanto produzirem seus próprios motores). Era necessário atrair os orçamentos das grandes fábricas e levar a competição para onde estavam as grandes fortunas, na crescente indústria dos países asiáticos e nos produtores de petróleo. O próprio Bernie afirmou uma vez que preferia espectadores de mais idade com relógios Rolex no pulso que jovens que não tinham dinheiro para gastar com os produtos dos patrocinadores.
 

Príncipe Abdulaziz bin Abdullah Al Saud e o logo da nova equipe
 

Talvez por causa disso poucos estranharam  a notícia recentemente divulgada pela Tanal Entertainment Sport & Media, a holding que controla os negócios de HRH (Her/His Royal Highness – Sua Alteza real) Príncipe Abdulaziz bin Abdullah Al Saud da Arábia Saudita.   O reino do príncipe controla a maior reserva conhecida de petróleo do mundo. O comunicado da holding anunciando o patrocínio da equipe VR46 para as temporadas de 2022 e seguintes não causou muita surpresa.  Nos esportes motorizados o nome de Valentino Rossi é praticamente um sinônimo de motociclismo esportivo.

A associação da empresa de Valentino Rossi com a Tanal Entertainment Sport & Media em conjunto com parceiros internacionais da Coreia do Sul e Itália desempenha um papel especial na promoção da Saudi Vision 2030, uma estrutura estratégica para reduzir a dependência da Arábia Saudita do petróleo, diversificar a sua economia e desenvolver setores de serviços públicos, como saúde, educação, infraestrutura, recreação e turismo.
 
O patrocínio da Tanal para a VR46 inclui a promoção de outras duas marcas já presentes no mundo dos esportes motorizados: KSA (Kingdom of Saudi Arabia) New Cities e  MAIC Technologies, uma holding saudita, italiana e coreana que desenvolve a implementação de projetos industriais no setor da mobilidade com o objetivo de criar veículos híbridos, elétricos e a hidrogênio, além de um centro de pesquisa e desenvolvimento no setor de materiais compósitos, formados pela união de outros materiais com o objetivo de se obter um produto de maior qualidade. A síntese de materiais compósitos resulta de misturar compostos de naturezas diferentes com o intuito de agregar novas propriedades ao produto final.
 
Valentino Rossi disputou o seu primeiro GP na classe 125cc em 1995, está na sua 26ª temporada, 22ª na classe principal (500cc + MotoGP) e seus resultados desde os 3 vice-campeonatos seguidos de 2014/2015/2016 não apresentam o mesmo brilho. Nesta temporada, sua primeira depois de perder a sua condição de piloto oficial da Yamaha, o campeão italiano está enfrentando muitas dificuldades e se preparando para ser o administrador ou piloto de sua própria equipe.  Já acomodou o piloto Luca Marini na equipe Esponsorama (Ducati) e garantiu apoio para uma equipe completa na MotoGP a partir de 2022.
 

Luca Marini disputa a MotoGP com a equipe Esponsorama, satélite da Ducati
 

“A equipe VR46 estreará no próximo ano na classe MotoGP como parceira da Tanal Entertainment Sport & Media e contando com o patrocínio master da Saudi Aramco para o período 2022-2026", menciona um comunicado de imprensa divulgado pela Tanal Entertainment Sport & Media. Exclusivamente para fins de ilustração foram apresentados grafismos de uma máquina VR46 com logotipos da marca Aramco, o chassi utilizado foi o de uma Yamaha YZR M1.
 
Este ano a Yamaha, além do salário de Valentino Rossi, fornece equipamentos para a Sepang Petronas, equipe que apresentou excelentes resultados nas temporadas de 2019 e 2020.Nenhum acordo foi anunciado oficialmente com a bem-sucedida equipe malaia para 2022, embora haja notícias que as negociações de renovação estão em estágio avançado. Não apenas as M1 estão disponíveis no mercado para equipar a VR46, Aprilia e Suzuki já admitiram a possibilidade de operar com equipes satélites em um futuro próximo, enquanto a Esponsorama pode ceder espaço para a VR46 que, neste caso, poderia utilizar a motorização Ducati.
 
O acordo Aramco-VR46 inclui a continuação na Moto2, a marca saudita substitui efetivamente a Sky Italia nas motos VR46.
 
O contrato de Rossi com a Sepang Petronas é apenas para esta temporada, o que abre um amplo leque de possibilidades para o piloto sobre seus planos futuros.
 
O próprio Rossi ainda não decidiu se vai correr em 2022, o nove vezes campeão mundial pode considerar a estreia da equipe VR46 MotoGP ao lado de seu meio irmão mais novo (Marini), ou assumir a gestão da equipe e buscar uma das estrelas formadas em sua Academia e atualmente disputando a Moto2 para segundo piloto.
 

O comunicado de imprensa divulgado pela Tanal Entertainment Sport & Media é o seguinte:
 
A Tanal Entertainment Sport & Media, holding do príncipe Abdulaziz bin Abdullah Al Saud, tem o prazer de anunciar um importante acordo estratégico com a Equipe VR46, empresa de Valentino Rossi, para o futuro próximo da Moto GP.
 
Em 2022, a Equipe VR46 estreará na principal classe do motociclismo esportivo (MotoGP) juntamente com a Tanal Entertainment Sport & Media, tendo como patrocinador principal a Saudi Aramco em acordo válido para o período 2022 a 2026, A nova Equipe ARAMCO Racing VR46 será apoiada por outros patrocinadores importantes do cenário mundial. A Saudi Aramco, que já esteve envolvida no automobilismo, inclusive na F-1, entrará, portanto, no Campeonato Mundial de MotoGP através da Equipe VR46.
 
Uma ampla parceria entre a Tanal Entertainment Sport & Media e a Equipe VR46, que visa endereçar os principais projetos desenvolvido após o contrato de patrocínio anterior para a temporada esportiva de 2021 com seus parceiros.
 
Estratégias e visão compartilhadas, síntese de objetivos de compartilhamento mútuo, levaram à ampliar essa parceria ao assinar este importante acordo de cinco anos: uma extensa joint-venture entre a Tanal Entertainment Sport & Media e a Equipe VR46, que também inclui a ativação e gestão da comunicação.
 
Além da tradicional promoção comercial através da atividade da Equipe VR46, uma estratégia de comunicação será voltada para a promoção dos programas relacionados ao projeto Visão Saudita 2030.
 
Com base na Visão 2030, a Tanal Entertainment Sport & Media apresentará os novos cenários da vida futura que serão criados na Arábia Saudita, começando por infraestruturas esportivas e de entretenimento para o público em geral, até envolver grandes projetos urbanos em nome da sustentabilidade tendo em mente a vocação verde que caracteriza a marca KSA New Cities.
 
KSA New Cities é a marca que promove projetos majestosos de novas cidades da Arábia Saudita que incluem NEOM e Najima The Fantastic City. Projeto desenvolvido com o apoio da equipe coreana KMHG e a contribuição criativa de arquitetos italianos e sauditas. Novas cidades que envolverão o esporte na vanguarda com diferentes formas de entretenimento, como a criação de pista de corrida para jovens pilotos e novas competições.
 
Uma comunicação dedicada aos diversos projetos e  também em apoio a programas industriais internacionais no mundo do motosport, motociclismo e automobilismo, desenvolvida por Sua Alteza Real Príncipe Abdulaziz bin Abdullah Al Saud em conjunto com a MAIC Technologies.
 
Patrocinador da equipe VR46 e da equipe Bardahl VR46 Riders Academy, MAIC Technologies visa desenvolver e incrementar a produção de veículos rodoviários na Arábia Saudita. Além disso, a MAIC Technologies produzirá o primeiro protótipo de uma motocicleta off-road de tração nas quatro rodas com propulsão híbrida, térmica e elétrica, em conjunto com vários parceiros da indústria automotiva.

A joint-venture com a EQUIPE VR46 confirma suas intenções de levar o projeto esportivo para a classe MotoGP a partir de 2022, mantendo sua presença na classe Moto2. A Equipe VR46 mais uma vez demonstra seu compromisso e capacidade em promover novos talentos mostrando seu horizonte ambicioso.
 
Luca Marini (Esponsorama)  & Valentino Rossi (Sepang Petronas)