quinta-feira, 13 de agosto de 2020

MotoGP - O pneu mudou o equilíbrio na MotoGP

Pódio de Jerez com Rossi, Quartararo e Vinales

 

A Michelin mudou a construção e introduziu novo pneu slick traseiro na MotoGP em 2020. De acordo com a construtora francesa, este pneu deve aumentar a performance e a estabilidade para todos os pilotos e motos. A nova construção está alinhada com a abordagem de desempenho duradouro da Michelin, o que deve garantir uma performance consistente durante toda a corrida.

Com este novo componente Andrea Dovizioso e a Ducati perderam a maior oportunidade de serem protagonistas na MotoGP deste os tempos áureos de Casey Stoner. Por três anos o talento de Marc Márquez foi o único obstáculo que os impediu de dominarem a categoria, agora que piloto espanhol foi abatido pela adversidade, as esperanças do piloto e equipe italianos são arruinadas pelo novo conceito do pneu traseiro da Michelin.

Azar de uns, sorte de outros. Nas três primeiras provas desta temporada a Yamaha foi a fabricante que melhor assimilou a novidade da Michelin, seis pilotos no pódio em três GPs foi o melhor resultado que conseguiram desde a era dos Bridgestone. O desempenho do novo pneu traseiro mudou o equilíbrio de forças na MotoGP.

A nova traseira slick, com consistência mais macia, deforma com mais facilidade e permite uma área de contato maior com a pista resultando em maior aderência. Em tese, devia tornar todas as motos mais rápidas, porém como frequentemente acontece quando a especificação dos pneus é modificada, algumas motos são mais favorecidas que outras. A especificação traseira anterior talvez tenha favorecido os fabricantes que investiram na potência (motores V4), a atual pode ter alterado o equilíbrio para favorecer os motores com cilindros em linha (Yamaha & Suzuki).

Maior aderência traseira não é necessariamente uma vantagem, o pneu traseiro anterior já tinha um grip superior ao do pneu dianteiro, o novo componente torna esta característica mais acentuada.


Pneu traseiro Michelin com nova concepção

 

Motos que fazem tempos reduzindo a velocidade brutalmente e realizando a troca de direção em curto espaço utilizando o formato V, leia-se Ducati e Honda, perdem desempenho quando comparadas com motores (com cilindros) em linha, que utilizam um formato de U. Em equipamentos que investem em maior potência (motores V4), a mudança no equilíbrio de tração migrando para a traseira faz com que o pneu tenha maior aderência que o dianteiro na entrada de curvas, deste modo que a moto tem a tendência de abrir a curva. Quando isto acontece o piloto precisa ficar inclinado por mais tempo para fazer a moto trocar de direção, acelera mais tarde e perde velocidade na saída. O modo como os pilotos da Ducati e Honda contornam esta dificuldade é forçar o equipamento a deslizar a traseira para compensar a tendência de sair de frente (understeer) quando apontar veículo para o ápice.

Dovizioso está perplexo com seu próprio desempenho: “O pneu é a única diferença em relação ao ano passado. Não consigo usar o potencial da moto, não estou andando de uma maneira eficiente como na temporada passada, quando era capaz de frear com força, controlar a derrapagem e voltar muito perto do ápice para retomar a velocidade”. O próprio piloto reconhece que a dificuldade pode estar no seu modo de pilotar, que não é adequado ao novo componente. Ele lembra que todos os pilotos da Ducati acostumados com a Desmosedici como ele, Petrucci e Miller, estão com a mesma dificuldade, enquanto os resultados dos que estão tendo contato agora com as máquinas equipadas com o novo pneu, Zarco e Bagnaia, conseguem melhor resultado.

A brutal aderência dos dianteiros da Bridgestone foi essencial para o estilo agressivo de Marc Márquez se impor em 2013, agora o novo traseiro da Michelin obriga os pilotos a serem mais suaves, adotarem um estilo semelhante ao chamado “Modo Lorenzo”. Profissionais da imprensa já identificaram a mudança do estilo de pilotagem necessário para utilizar o novo pneu traseiro e lembram do espetáculo apresentado pela Honda de Márquez enquanto esteve na pista em Jerez, quando era (muito) mais rápido que todos os outros competidores. Significa que motos com diferencial de potência, como as V4, podem competir com as motos que respondem melhor com a uma condução comportada. Duas colocações no pódio na prova de Brno (KTM e Ducati) comprovam esta constatação.

 

Fábio Quartararo

 

Máquinas com motores com cilindros em V e motores em linha usam pneus traseiros de um modo diferente. As V4 perdem eficiência nas entradas e nas saídas de curvas. Enquanto os pilotos da Yamaha e da Suzuki utilizam linhas suaves e arqueadas, os pilotos da Ducati e da Honda freiam forte, viram a moto fisicamente e liberam potência. Motos em linha utilizam o pneu inteiro, as V4 dependem particularmente do ombro do pneu.

A Ducati identificou uma perda significativa onde sempre foi muito forte, na última parte das curvas onde, ainda com a moto inclinada, acionava o acelerador. Com uma configuração diferente das motos oficiais de fábrica e uma maneira menos agressiva de pilotar Johann Zarco chegou ao pódio em Brno

A KTM (motor V4) encontrou no ajuste adequado do chassi uma maneira de fazer tempo com o pneu traseiro com maior grip. Brad Binder, por ser pouco experiente com a moto, aprendeu rápido. Pol Espargaro tem que reaprender a pilotar e está conformado, ele ainda não dominou as características da novidade da Michelin, no entanto é pragmático; “O pneu não está funcionando como eu gostaria, mas é o único que temos”. Já Valentino Rossi está satisfeito, entende que a aderência entre a borda e o centro do pneu é muito semelhante, consequentemente a moto fica mais fácil de conduzir.

A Ducati admite que a mudança para a Michelin em 2016 foi favorável aos seus equipamentos, assim como a traseira de Michelin 2004 ajudou a Yamaha a conquistar o título. Pneus, por serem as únicas partes da moto em contato com a pista, são um item importante entre os muitos que ajudam uma moto a ser vencedora.

Mais informação em https://stilohouse.com.br/noticia/641/motogp-o-que-pode-decidir-uma-temporada

 

 

 

 

Conceitos importantes:

Understeer ou sair de frente, acontece quando o pneu dianteiro desliza mais que o traseiro, a moto o tem a tendência de seguir reto, não importa o comando do piloto. A única maneira de controlar é reduzindo a velocidade até a aderência voltar.

 Oversteer ou sair de traseira é a condição onde o pneu traseiro desliza mais que o dianteiro. A traseira da moto desgarra e é necessário alguma correção no sentido oposto (opposite lock).

 


Pneu traseiro de Marc Márquez depois de uma prova (2019)

Nenhum comentário:

Postar um comentário