Gigi Dall'Igna durante a premiação em Rio Hondo |
A esperança da Ducati era utilizar o dispositivo “holeshot” para contornar a primeira curva na liderança em Rio Hondo. A distância da largada até a curva é curta e o resultado não foi o esperado. A fábrica apostava todas as fichas em Dovizioso na primeira fila (3º) e Miller logo atrás (5º), já que Petrucci largaria da quarta fila (10º) e teria poucas chances. A ilusão durou pouco, o pole Marc Márquez ignorou toda a parafernália de apoio engendrada pela mente criativa de Gigi Dall’Igna, pulou na frente e abriu um quase segundo só na primeira volta.
Logo ficou evidente para todos os espectadores presentes no circuito ou assistindo pela TV que estavam presenciando duas provas distintas, uma contra o relógio do atual campeão e outra com a participação de todos os outros competidores. Perto do final da prova Marc chegou a estar com 15 segundos de vantagem sobre os concorrentes que disputavam a 2ª colocação, uma eternidade em termos de MotoGP. Durante toda a realização da prova só dois pilotos conseguiram consistentemente percorrer os 4.850 metros do traçado do circuito com tempos abaixo de 1’39, o vencedor Marc Márquez e a Honda de Cal Crutchlow que, mesmo penalizado com um “pass through” por ter queimado a largada, chegou em 13º.
A segunda corrida, envolvendo todos os outros pilotos, só foi decidida na última volta quando Valentino Rossi ultrapassou Andrea Dovizioso por dentro na curva 7 para assumir a 2ª colocação. A disputa entre eles foi o ponto alto do espetáculo e durou quase toda a prova. Jack Miller, na GP19 da Pramac e com bom desempenho em todo o fim de semana chegou em 4º, na frente Alex Rins da Suzuki, que com uma excelente participação na corrida progrediu da 16ª posição na largada para a 5ª no final. Danilo Petrucci repetiu a 6ª colocação do Catar, resultado aceitável para uma equipe satélite, mas claramente insuficiente para uma Ducati de fábrica. Franco Morbidelli e Maverick Vinales protagonizaram uma excelente disputa até decidirem afrontar o princípio físico que dois corpos não podem, a um mesmo tempo, ocupar o mesmo lugar no espaço. Colidiram faltando pouco mais de meia volta, deixando as colocações seguintes para Takaaki Nakagami (7º), Fabio Quartararo (8º), Aleix Espargaro (9º) e Pol Espargaró (10º). Todas as seis fábricas incluíram representantes entre os top ten.
Alguns resultados desta prova foram significativos, Rossi voltou ao pódio depois de uma ausência que durou 11 GPs, lembrando que sua última vitória foi Assen em junho de 2017. Continua o calvário de pilotos renomados como Jorge Lorenzo e Johann Zarco, que mesmo competindo por equipes de fábrica (Repsol-Honda e Red Bull KTM) conseguiram classificarem-se apenas em 12º e 15º.
A cobertura de TV, com geração de imagens da própria MotoGP, mostrou o desalento do gestor da Ducati Gigi Dall’Igna sentado em uma mureta observando as comemorações no final da prova. Perder a segunda colocação na última volta teve um gosto amargo.
Depois de duas etapas Marquez lidera a corrida ao título da temporada com 45 pontos, Dovizioso tem 41 e Rossi em terceiro com 31 pontos. O campeonato está no início, historicamente as três primeiras provas são realizadas em circuitos com características não homogêneas, diferentes das encontrados na etapa europeia. O próximo GP é no Circuito das Américas em Austin, que desde a sua inauguração conheceu um único vencedor. Marc Márquez disputou dez provas nos EUA, incluindo as realizadas em Laguna Seca e Indianápolis e nas classes de acesso, ganhou todas.
Spoilergate
A Honda, literalmente, chutou o balde. Houve na última semana de março o julgamento do recurso interposto pela equipe, em conjunto com a Aprilia, Suzuki e KTM, contra o uso do spoiler fixado no braço oscilante da Ducati GP19. A direção da HRC ficou extremamente irritada com a explicação da fábrica italiana que foi aceita pelos juízes, o apêndice foi projetado para resfriar o pneu traseiro, se resultou em “downforce”, como efetivamente resultou, foi apenas um efeito colateral.
O risco que as recorrentes alertaram, e queriam evitar, é de uma possível uma escalada de custos no desenvolvimento de soluções aerodinâmicas. O CEO da Aprilia Racing, Massimo Rivola, que assumiu suas funções na equipe em janeiro deste ano depois de 21 anos na Fórmula 1 com passagens pela Minardi/Toro Rosso e Ferrari, sabe que o custo do desenvolvimento da área aerodinâmica é alto e os resultados na maioria das vezes não são os esperados. Muito da contrariedade da Aprilia, que é compartilhada por Honda, Suzuki e KTM, é o uso recorrente da chamada Lei de Gérson (levar vantagem em tudo) pelo gestor da Ducati Gigi Dall’Igna. A Yamaha havia utilizado um recurso semelhante no final da temporada passada, em tese para remover a água da chuva da frente dos pneus. Abandonou o projeto por produzir força descendente e, talvez por esta razão, não tenha se associado com as outras fábricas na reclamação ao FIM. Para licenciar seu dispositivo em pistas secas a Ducati alegou que era para refrigerar o pneu traseiro, estranho foi utilizar a geringonça em Losail, onde a maioria dos pilotos teve problemas para manter o pneu aquecido.
Desde que o tribunal de apelação da FIM estabeleceu seu veredicto, o principal assunto da MotoGP voltou a ser aerodinâmica, que estava em compasso de espera desde que o uso das winglets foi disciplinado. A estrovenga no braço oscilatório da Ducati redirecionou o foco das equipes de engenharia para este objetivo.
A decisão do tribunal, longe de encerrar a questão que na mídia europeia é chamado de “Spoilergate”, contribuiu para acirrar os ânimos. Informações que circularam na sexta-feira anterior ao GP em Rio Hondo indicam que a Honda apresentou um projeto de spoiler para o braço oscilante da RC213V, que recebeu a aprovação de Danny Aldridge, Diretor Técnico da MotoGP. Seria um fato corriqueiro, caso a equipe não tivesse apresentado o mesmo spoiler no dia anterior que foi considerado ilegal. A justificativa para esta aparente contradição é que na quinta-feira a equipe apresentou o spoiler especificando que sua função principal era reorientar o fluxo de ar na roda e criar downforce aerodinâmico, como contraria as diretrizes em vigor foi rejeitado. No dia seguinte a explicação era de aumentar a rigidez do braço oscilante, não havia nenhuma referência a efeitos colaterais, Aldridge não teve escolha senão permitir.
Em tempo, as diretrizes especificam que anexos no braço oscilante são permitidos desde que “seu propósito não seja gerar forças aerodinâmicas”. Quando a Honda apresentou seu spoiler na quinta mencionou downforce, na sexta o propósito para a peça era outro. Tudo se resumiu a uma questão de semântica.
A Honda conseguiu com este pequeno artifício expor a lacuna escancarada nas regras, mas não impressionou o grupo de trabalho que formalmente codifica e monitora as regras técnicas do MotoGP. O grupo que inclui Danny Aldridge, o Diretor de Tecnologia da MotoGP Corrado Cecchinelli e o diretor de provas Mike Webb têm a função de interpretar as regras apresentadas pela MSMA, a associação dos fabricantes de equipamentos para a MotoGP. A razão para existir a brecha é que a MSMA permitiu.
Não parece razoável que a RC213V apareça com spoilers fixados no braço oscilante nas próximas provas. A finalidade da aplicação da Honda junto ao diretor Aldridge foi mais foi simbólica que prática. Se a intensão era expor ao ridículo como as regras estão sendo aplicadas, com certeza obtiveram êxito.
Carlos Alberto
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