Alex Rins no Circuito da
Americas - 2019
Costuma ser atribuído ao desenhista, humorista, dramaturgo, poeta, escritor, tradutor e jornalista brasileiro Millôr Fernandes o enunciado de um paradoxo: Se toda regra tem exceção, então esta mesma regra também tem exceção e deve haver perdidas por aí algumas regras absolutamente sem exceções. Um dos princípios da matemática, uma ciência exata, confirma este paradoxo, a fórmula de Bhaskara utilizada para a solução de equações de 2º grau não admite exceções.
Um ditado comum que costuma frequentar o ambiente da MotoGP é que existem apenas três certezas na vida: morte, impostos e Marc Márquez vencer um GP organizado nos EUA. Esta regra existe desde que o espanhol disputou a primeira prova de Moto2 em solo americano, a exceção aconteceu recentemente, na terceira etapa da temporada de 2019 no Circuito das Américas.
A prova deste ano evidenciou duas conclusões lógicas: (1) nos EUA só Marc Márquez consegue derrotar Marc Márquez e (2) para chegar em primeiro, primeiro é necessário chegar. Durante o fim de semana antes de sua queda no transcorrer da prova, Márquez conseguiu a pole (2’03.787) e a volta mais rápida (2’04.277), também conservou a marca de volta mais rápida em corrida no circuito obtida no GP de 2014 (2’03.575) e de pole mais veloz (2’02.135) em 2015. Quando perdeu o controle da sua moto estava com 3seg de vantagem para o segundo colocado (Rossi) e apenas mantendo o seu ritmo, sem exigir muito do equipamento. O próprio Marc não sabe explicar o que aconteceu, mas tem uma certeza, foi erro dele e não uma falha mecânica.
O GP dos EUA é sempre um evento fantástico, todos adoram o ambiente de festa montado para a etapa, onde todos os recursos estão disponíveis e tudo é muito bem organizado. Os únicos que não ficam maravilhados são os pilotos, que consideram o piso excessivamente ondulado, complicado para manter um ritmo estável.
Alex Rins venceu a prova com uma Suzuki, Valentino Rossi foi o segundo colocado com a Yamaha e Jack Miller fechou o pódio com uma Ducati independente. Das 6 fábricas representadas no grid, cinco estiveram presentes no top ten (4 Ducati, 3 Yamaha, 1 Suzuki, 1 KTM e 1 Honda), com especial atenção para a participação de Takaaki Nakagami, 10º colocado com a única Honda classificada na prova. Márquez, Lorenzo e Crutchlow não completaram a corrida, Marc e Cal caíram e Jorge teve problemas com o equipamento. Foi um dia nefasto para a equipe nipônica que só conseguiu 6 dos 74 pontos possíveis.
Alguns fatos durante os três dias do GP são dignos de maior análise. Além do desastre total da Honda, a TV captou nos boxes da Ducati a expressão de desconsolo dos gestores da equipe com o resultado do Q1 no sábado quando nos últimos minutos Danilo Petrucci conseguiu a segunda vaga, deixando o líder do campeonato e presumível primeiro piloto da equipe Andrea Dovizioso fora do Q2. A queda de Márquez em um contorno de baixa velocidade também foi notável pela tenacidade demonstrada pelo piloto que ficou com a moto até a sua completa imobilização.
A Suzuki provou que tem equipamento para vencer provas nesta temporada. Alex Rins mostrou personalidade ao ultrapassar Valentino Rossi nas últimas voltas, prolongando o jejum do “Velho Leão” que não visita o degrau mais alto do pódio desde Assen em 2017. Miller, da equipe independente Pramac foi a melhor Ducati classificada, Franco Morbidelli (5º) e Fabio Quartararo (9º) colocaram as duas Yamaha da Petronas na frente da M1 da equipe oficial de Vinales (11º), a KTM de Pol Espargaró (8º) chegou 5 posições à frente da grande aposta da equipe para 2019, o francês Johann Zarco (13º).
Durante o fim de semana também foi comemorado o milésimo GP de Fórmula 1 em Xangai. Para efeitos de comparação o primeiro mundial de motovelocidade aconteceu em 1949, um ano antes da oficialização do mundial de F1 em 1950. A motovelocidade contempla mais de uma prova na programação de cada etapa e, no último evento, alcançou a marca de 3.105 provas disputadas em 9 categorias (*). Contabilizando apenas a prova principal de cada etapa (500cc & MotoGP) o número indica um total de 879 GPs. A classe individual com maior número de contribuições para chegar aos 3.105 GPs foi a 125cc, disputada entre 1949 e 2011, com um total de 722 provas. O menor número registrado é da 80cc que participou de disputas entre 1984 e 1989 totalizando 47 competições.
O atual formato MotoGP foi introduzido em 2002, último ano de equipamentos equipados com motores 500cc 2 tempos, que compartilharam as pistas com os 990cc 4 tempos. Em 2007 a capacidade dos motores foi reduzida para 800cc e no ano de 2012 foi fixada em 1000cc. Devido ao pequeno número de inscritos, a organização dos GPs aceitou a participação em 2012/2013 das subclasses CRT (Claiming Rule Team) e em 2014/2015 da Open, ambas com custos reduzidos por não serem exclusivamente protótipos e utilizarem elementos de motos comerciais. As especificações que individualizam a Moto2 datam de 2010 e da Moto3 de 2012.
O maior vencedor desde a introdução da MotoGP em 2002 é o italiano Valentino Rossi, que participou de todas as 18 temporadas e contabiliza 76 vitórias, seguido por Jorge Lorenzo que compete desde 2008 (11 temporadas) conquistou 47 GPs. Marc Márquez em 7 temporadas já venceu 45 provas.
Existe um consenso entre os autoproclamados especialistas da mídia que cobrem o Mundial da MotoGP que o verdadeiro campeonato mundial começa na temporada europeia. As etapas do Catar, Rio Hondo e CotA são consideradas apenas o aquecimento. As atenções agora convergem para Circuito Angel Nieto em Jerez de la Frontera, na Espanha, onde será disputada a próxima prova do mundial programada para 5 de maio.
(*) 50cc, 80cc, 125cc, 250cc, 350cc, 500cc, Moto2, Moto3 & MotoGP
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