quinta-feira, 11 de abril de 2019

F1 - Milésimo GP na China? Há controvérsias






Quando é realizado um levantamento de ocorrências, é importante individualizar de modo inequívoco o que está sendo contabilizado. A Fórmula 1 comemora como seu milésimo Grand Prix a prova no Circuito Internacional de Xangai em 2019. A entidade organizadora do evento, Liberty Media, estava fazendo uma contagem regressiva para efeitos de marketing desde 2017. Houve até uma sugestão de alterar o calendário para o evento coincidir com a realização do GP em Silverstone, no berço da F1, para obter melhor retorno comercial.


A mídia passa a considerar o que o GP chinês como o a corrida número mil da Fórmula 1, 69 anos depois da primeira prova em um campeonato mundial patrocinado pela FIA realizada em Silverstone em 1950. Pode não ser bem assim. Os registros são confusos, incluem provas de outras competições que foram realizadas de acordo com os regulamentos da F1, mas que não constavam na programação do mundial como, por exemplo, o GP realizado em Brands Hatch em 1983.


Os prolegômenos da F1 são anteriores ao primeiro campeonato mundial de 1950, um esboço de um conjunto de regras foi divulgado pela entidade em 1947 e um Grand Prix realizado em Turim em 1946 pode ser considerado como sendo a primeira corrida de F1 na história.


Corridas avulsas para divulgação ou visando lucros financeiros, não constantes no calendário oficial, eram comuns depois da oficialização do campeonato em 1950. Emerson Fittipaldi venceu uma prova realizada em Brasília há 45 anos não válida pelo mundial, evento em que Nelson Piquet trabalhou nos boxes da equipe Brabham encarregado da limpeza do carro de Carlos Reutemann. Era uma época em que um piloto de talento era mais valorizado que alguém com um bom respaldo financeiro.


A marca #1000 em Xangai também é distorcida por diversas provas realizadas na década de 50 que, embora listadas no calendário oficial, contemplavam regras distintas e não eram tecnicamente corridas de F1.


Entre 1950 e 1960 as 500 milhas de Indianápolis fizeram parte da programação do Mundial de F1, embora seguissem as regras da American Automobile Association (AAA) de 1950 a 1955 e da United States Auto Club (USAC) entre 1955 e 1960. Os pilotos da F1 ficavam incomodados em disputar pontos em um ambiente hostil, com máquinas e condutores diferentes compartilhando uma pista oval. Em 1958 o multicampeão Juan Manuel Fangio não conseguiu sequer participar da prova, seu tempo na classificação foi considerado inaceitável. A prova foi excluída do calendário em 1961, entretanto estas 11 corridas foram acatadas para a marca obtida na China. Sem estas provas, a milésima prova seria disputada em Monza este ano, na pista que hospedou o maior número de GPs oficiais em toda a história.


Utilizando um critério mais rígido, nenhuma prova disputada nos anos de 1952 e 1953 poderia entrar nesta contagem. A decisão da Alfa Romeu em não disputar as temporadas e a ausência forçada da BRM por motivos financeiros desfalcaram o grid, que ficou com um número insuficiente de participantes. Para incluir mais equipamentos e compor um espetáculo mais atraente, a organização passou a permitir a participação de concorrentes com especificações da F2. Funcionou até 1953 quando a situação foi normalizada com a participação da Mercedes.


Se forem excluídos os 11 GPs da Indy 500 (1950 a 1960) e 15 outras etapas com regulamentos alterados para incluir mais equipamentos, o GP da China seria o número 974 e a comemoração do milésimo evento ocorreria durante a temporada europeia de 2020. A China comemora o GP 1.000, mas dependendo de como os eventos são contados, ele pode ter ocorrido antes ou talvez ainda vá acontecer.


Dois registros de números cabalísticos indicam particularidades interessantes para os brasileiros. O de número 700 aconteceu no Brasil em 2003, uma corrida caótica em função do clima, que foi encerrada prematuramente (bandeira vermelha) e os comissários de prova consideraram como vencedor Kimi Raikkonen, o líder duas voltas antes da interrupção. Um protesto julgado cinco dias depois comprovou que Giancarlo Fisichella já havia iniciado a volta 56 quando a prova foi interrompida e, pelo regulamento, foi declarado retroativamente como vitorioso.


O GP número 800 entrou na história como sendo palco do “Crashgate”, a pantomina protagonizada por Nélsinho Piquet que deliberadamente bateu com seu carro em Cingapura para provocar uma bandeira amarela, uma manobra urdida pela equipe Renault para possibilitar a vitória de Fernando Alonso.


O número 900 ocorreu em Bahrein em 2014, com uma disputa incrível entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg, no tempo em que ainda havia amizade entre eles e competiam pela mesma equipe.

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