segunda-feira, 30 de julho de 2018

MotoGP – Volta das férias de verão




Valentino Rossi & Lin Jarvis



Analisar os resultados das tomadas de tempo para as provas da MotoGP é uma maneira de comprovar as reais condições de competitividade dos protótipos que disputam o mundial. As chamadas “voltas lançadas” que decidem o grid de largada são feitas com foco total, pouco combustível no tanque, pneus novos e sempre que possível sem tráfego, proporcionando condições ideais para o piloto extrair o máximo da capacidade de seu equipamento. 


Nas últimas provas realizadas, em Barcelona a diferença na classificação para a largada entre o pole e o segundo foi apenas 0,066 segundos. Na prova seguinte, em Assen, os dois primeiros foram separados por 0,041 segundos e cinco marcas classificaram suas motos no top ten. Na última prova realizada, em Sachsenring, o intervalo entre os mais rápidos foi ainda menor, 0,025 segundos. Este desempenho muito semelhante entre diferentes máquinas comprova o acerto da Dorna, a empresa que administra o mundial da FIM, na busca da competitividade equalizando as condições entre os fabricantes via os regulamentos da competição. 


Embora o esforço dos organizadores, há detalhes que não podem ser limitados por medidas administrativas, como por exemplo a eficiência dos pilotos e os interesses comerciais. A temporada atual chegou ao seu recesso de verão com uma liderança absurda de Marc Márquez, que em absoluto pode ser atribuída exclusivamente ao seu equipamento. A segunda Honda melhor classificada é conduzida por Cal Crutchlow da satélite LCR, na 8ª colocação com menos da metade dos pontos do líder. O total de pontos de todos os pilotos que utilizaram a RC213V nesta temporada equivale a menos da metade dos obtidos até agora pelo líder (165 de Márquez, 79 de Crutchlow, 49 de Pedrosa, 19 de Morbidelli e 10 de Nakagami, Thomas Luthi e Stefan Bradl não pontuaram).


Outro item que não é endereçado pelo rígido controle dos organizadores é chamado no jargão da MotoGP de “Temporada Maluca”, a época em que são realizadas as negociações dos pilotos com as equipes para a formação do grid da próxima temporada. Este ano, o processo que normalmente ocorria a cada dois anos no último terço da temporada, foi muito antecipado. Todos os assentos das equipes oficiais de fábrica já estão ocupados e existem suspeitas que algumas das mudanças podem já estar apresentando reflexos nos resultados nas pistas. É significativo o declínio dos resultados do francês Johan Zarco, que com uma Yamaha satélite brilhou na temporada passada e nas primeiras provas deste ano, depois de ter assinado um contrato com a KTM. Informações vazadas pela Ducati indicam que não faz sentido compartilhar com Jorge Lorenzo tecnologias e desenvolvimentos que ele possa transferir para a sua nova equipe em 2019. Andrea Iannone, que perdeu a vaga na Suzuki e tem contrato assinado com a Aprilia para o biênio 2019/2020, já não tem um ambiente saudável em seu box e cortou toda a colaboração com o atual colega de equipe Alex Rins.  


Os contratos antecipados dos pilotos também influenciam a comercialização de patrocínios e eventos para a captação de recursos para as equipes. A dupla de pilotos Márquez/Lorenzo, os únicos campeões mundiais dos últimos seis anos, acumulam juntos 113 vitórias nos mundiais, venceram 7 dos últimos 9 GPs e deve agregar valor para a HRC no próximo biênio. A equipe que apresenta o melhor prospecto histórico, a Yamaha de Rossi/Vinales renovou com seus pilotos, porém não consegue uma primeira colocação a mais de ano, enquanto Dovizioso/Petrucci representam pela falta de resultados uma perda de substância para a Ducati, Danilo Petrucci  está na MotoGP desde 2012 e ainda não conseguiu uma única vitória.  


Com o reinicio das disputas da MotoGP no próximo fim de semana estarão em jogo 250 pontos, poucos consideram a possibilidade de uma reviravolta que prive o atual campeão de mais um título. A chave desta confiança é a confiabilidade do equipamento e o desempenho obtido até agora nas pistas. A boa fase do piloto da Honda iniciou no GP da Alemanha em 2017, desde então frequentou o pódio em 15 e venceu 10 das últimas 19 provas realizadas. Em 2018 Márquez não pontuou em duas oportunidades, conseguiu duas segundas colocações e venceu 5 vezes.  Seu mais próximo competidor, o multicampeão Valentino Rossi com um déficit de 46 pontos, está tendo uma temporada muito consistente, em 9 GPs disputados até agora Rossi só deixou de pontuar em uma oportunidade e já esteve no pódio em 5 provas, mas ele mesmo reconhece que nunca esteve realmente perto de uma vitória. 


Valentino Rossi está contrariado. Seus objetivos sempre foram igualar ou exceder os registros históricos de Giacomo Agostini nos mundiais da FIM, ainda faltam 7 vitorias e 1 título. Desde a saída de Jorge Lorenzo, talvez por causa disso, a Yamaha não consegue disponibilizar para seus pilotos um protótipo com desempenho superior aos demais. A marca está obtendo bons resultados, lidera o mundial por equipes e Rossi é o primeiro da relação dos que correm contra um piloto reconhecidamente excepcional. Recentemente o italiano provocou um desconforto à fábrica nipônica ao questionar publicamente se a empresa ainda estava comprometida com a MotoGP. Rossi não quer o divórcio com a Yamaha, que faz parte dos planos futuros para a sua equipe VR46, mas exige mais investimentos para tentar alcançar Márquez. Justifica a falta de melhores resultados por problemas de gestão interna e decidiu fazer o que sempre fez, apontar um culpado, no caso Lin Jarvis. O clima estabelecido entre o diretor da equipe e seu principal piloto é de divórcio eminente. Esta instabilidade interna nos boxes dos dois mais próximos perseguidores no campeonato pode facilitar a provável conquista sétimo mundial de Márquez, terceiro seguido e quinto na principal categoria.

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