Recentemente
um conceituado jornalista, referência na Web sobre a Fórmula 1, comentando uma
infelicidade de Sebastian Vettel no GP da Alemanha escreveu que só dois pilotos
atualmente nas pistas podem ser considerados excepcionais, Lewis Hamilton e
Fernando Alonso. Acompanho a F1 a mais de 40 anos, desde os tempos de Emerson
Fittipaldi e, de certa forma, segui a evolução da carreira destes dois pilotos.
Reconheço que ao volante de um fórmula estes dois são diferenciados, entretanto
uma análise ampla do comportamento de ambos explica as razões porque um disputa
o título mundial e o outro tem dificuldades para se classificar entre os “top
ten” nos dias atuais.
Fernando
Alonso surgiu no cenário das competições da principal categoria do
automobilismo esportivo em 2001 pela Minardi, tendo como colega de equipe o
brasileiro Tarso Marquez, nenhum dos dois conseguiu um único ponto na
temporada. Em 2002 o espanhol fez parte da equipe de testes da equipe Renault.
Em 2003 assumiu como piloto oficial da equipe e iniciou a sua associação com
Flavio Briatore, um dirigente com um histórico então crescente de recorrer a
recursos não ortodoxos para vencer disputas. Alonso conquistou os seus títulos
mundiais no biênio 2005/2006 e, surfando na onda de sucesso, assinou um
contrato milionário com a McLaren para 2007.
Assumiu
na equipe britânica com o status de primeiro piloto e já nas primeiras etapas
da temporada passou a ser questionado, graças ao bom desempenho do parceiro e
piloto estreante Lewis Hamilton. Os dois colegas de equipe se engalfinharam em
uma disputa feroz, que acabou favorecendo a vitória do mundial pelo finlandês Kimi
Raikkonen da Ferrari, por um único ponto de diferença sobre a dupla da McLaren.
Pelo critério de desempate, número de segundos lugares, Hamilton ficou com o
vice e Alonso em terceiro. No folclore da F1 ficou registrado um desabafo de
Ron Dennis no GP da China, quando o piloto da Ferrari ainda estava dezessete
pontos atrás: “a McLaren não corria contra Kimi Raikkonen, mas sim contra o
próprio Alonso". Houve ainda um obscuro caso de espionagem, detalhes
técnicos confidenciais migraram da Ferrari para a McLaren, o piloto foi citado
como envolvido e depois inocentado.
Após
romper com os britânicos Alonso voltou para a Renault e em 2008 participou de
mais um episódio reprovável. No GP de Cingapura Flavio Briatore orientou
Nelsinho Piquet para criar uma situação que obrigasse a entrada do Safety Car
na volta catorze. Duas voltas antes Alonso fez uma parada antecipada e assumiu
a liderança quando todos os outros fizeram o pit-stop. Em uma pista onde era
quase impossível uma ultrapassagem, o espanhol venceu. O caso só veio a público
no ano seguinte quando Nelsinho foi demitido e, por falta de provas, Alonso foi
inocentado.
No
final de 2009 Alonso foi contratado para pilotar para a Ferrari por três
temporadas e conseguiu em 2010 vencer o seu primeiro GP pela nova equipe no
Bahrein. Duas ocorrências neste ano indicaram que talento, espírito de equipe e
respeito pelos colegas não andam juntos para Alonso. No GP da China houve um
acidente que exigiu a entrada do Safety Car, os carros que estavam na pista
foram chamados para os boxes. Felipe
estava na frente e foi ultrapassado pelo espanhol na entrada dos pits, fato que
gerou diversas críticas e um clima tenso na equipe. Sua segunda vitória nesta
temporada foi no GP da Alemanha, um dia particularmente sinistro para nós,
tupiniquins. Foi a prova em que houve uma fatídica orientação da equipe para o
então líder, Felipe Massa, que circulou por todo o planeta: “Fernando is faster
than you”. A administração do GP fez questão de divulgar a ordem da equipe na
transmissão pela TV e, depois da prova, a conversa do engenheiro elogiando a
postura magnânima, leia-se subserviente, de Felipe. A ocorrência gerou muitas
críticas porque o regulamento proibia "ordens de equipe que interfiram no
resultado da corrida". A Ferrari foi multada em cem mil dólares e o caso
encaminhado para a FIA para ser julgado.
Fernando
Alonso ficou cinco anos na Ferrari, não conseguiu nenhum título mundial e foi
vice três vezes. Em 2012 foi eleito pelo Revista AutoSport como o Piloto do Ano
em uma consulta que envolveu 12 dirigentes de equipes da F1. No início de 2013
alimentou uma disputa desnecessária ironizando o colega Felipe Massa por obter
melhores resultados no início da temporada.
Em
2015 o piloto voltou para a McLaren e acompanhou a derrocada da equipe, cujo
projeto dos carros com os motores Honda não funcionou. Em 2018 no Canadá Alonso
registrou o seu GP nº 300, quinto piloto com maior número de participações nas
pistas. Desencantado com os resultados na F1 e com a falta de oportunidade para
pilotar por uma equipe que proporcionasse a oportunidade de brilhar, Alonso
partiu em busca de novos desafios participando das 500 milhas de Indianópolis
em 2017, não conseguiu chegar ao final, mas ganhou o prêmio de Calouro do Ano.
Foi um dos pilotos da equipe Toyota Gazoo Racing que venceu a edição de 2018
das Horas de Le Mans, uma prova tradicional e apontada como o maior evento a
esportivo sobre rodas do planeta.
Fernando
Alonso é um piloto reconhecidamente talentoso e com muitos recursos,
entretanto, minha opinião pessoal, tem temperamento difícil e não tolera
competição interna. Ele só é feliz em uma equipe extremamente competitiva que
possa chamar de sua, característica complicada nos dias atuais pela crescente
profissionalização da F1.
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