quarta-feira, 25 de julho de 2018

F1 - Fernando Alonso



Recentemente um conceituado jornalista, referência na Web sobre a Fórmula 1, comentando uma infelicidade de Sebastian Vettel no GP da Alemanha escreveu que só dois pilotos atualmente nas pistas podem ser considerados excepcionais, Lewis Hamilton e Fernando Alonso. Acompanho a F1 a mais de 40 anos, desde os tempos de Emerson Fittipaldi e, de certa forma, segui a evolução da carreira destes dois pilotos. Reconheço que ao volante de um fórmula estes dois são diferenciados, entretanto uma análise ampla do comportamento de ambos explica as razões porque um disputa o título mundial e o outro tem dificuldades para se classificar entre os “top ten” nos dias atuais. 


Fernando Alonso surgiu no cenário das competições da principal categoria do automobilismo esportivo em 2001 pela Minardi, tendo como colega de equipe o brasileiro Tarso Marquez, nenhum dos dois conseguiu um único ponto na temporada. Em 2002 o espanhol fez parte da equipe de testes da equipe Renault. Em 2003 assumiu como piloto oficial da equipe e iniciou a sua associação com Flavio Briatore, um dirigente com um histórico então crescente de recorrer a recursos não ortodoxos para vencer disputas. Alonso conquistou os seus títulos mundiais no biênio 2005/2006 e, surfando na onda de sucesso, assinou um contrato milionário com a McLaren para 2007. 


Assumiu na equipe britânica com o status de primeiro piloto e já nas primeiras etapas da temporada passou a ser questionado, graças ao bom desempenho do parceiro e piloto estreante Lewis Hamilton. Os dois colegas de equipe se engalfinharam em uma disputa feroz, que acabou favorecendo a vitória do mundial pelo finlandês Kimi Raikkonen da Ferrari, por um único ponto de diferença sobre a dupla da McLaren. Pelo critério de desempate, número de segundos lugares, Hamilton ficou com o vice e Alonso em terceiro. No folclore da F1 ficou registrado um desabafo de Ron Dennis no GP da China, quando o piloto da Ferrari ainda estava dezessete pontos atrás: “a McLaren não corria contra Kimi Raikkonen, mas sim contra o próprio Alonso". Houve ainda um obscuro caso de espionagem, detalhes técnicos confidenciais migraram da Ferrari para a McLaren, o piloto foi citado como envolvido e  depois inocentado.


Após romper com os britânicos Alonso voltou para a Renault e em 2008 participou de mais um episódio reprovável. No GP de Cingapura Flavio Briatore orientou Nelsinho Piquet para criar uma situação que obrigasse a entrada do Safety Car na volta catorze. Duas voltas antes Alonso fez uma parada antecipada e assumiu a liderança quando todos os outros fizeram o pit-stop. Em uma pista onde era quase impossível uma ultrapassagem, o espanhol venceu. O caso só veio a público no ano seguinte quando Nelsinho foi demitido e, por falta de provas, Alonso foi inocentado.


No final de 2009 Alonso foi contratado para pilotar para a Ferrari por três temporadas e conseguiu em 2010 vencer o seu primeiro GP pela nova equipe no Bahrein. Duas ocorrências neste ano indicaram que talento, espírito de equipe e respeito pelos colegas não andam juntos para Alonso. No GP da China houve um acidente que exigiu a entrada do Safety Car, os carros que estavam na pista foram chamados para os boxes.  Felipe estava na frente e foi ultrapassado pelo espanhol na entrada dos pits, fato que gerou diversas críticas e um clima tenso na equipe. Sua segunda vitória nesta temporada foi no GP da Alemanha, um dia particularmente sinistro para nós, tupiniquins. Foi a prova em que houve uma fatídica orientação da equipe para o então líder, Felipe Massa, que circulou por todo o planeta: “Fernando is faster than you”. A administração do GP fez questão de divulgar a ordem da equipe na transmissão pela TV e, depois da prova, a conversa do engenheiro elogiando a postura magnânima, leia-se subserviente, de Felipe. A ocorrência gerou muitas críticas porque o regulamento proibia "ordens de equipe que interfiram no resultado da corrida". A Ferrari foi multada em cem mil dólares e o caso encaminhado para a FIA para ser julgado. 


Fernando Alonso ficou cinco anos na Ferrari, não conseguiu nenhum título mundial e foi vice três vezes. Em 2012 foi eleito pelo Revista AutoSport como o Piloto do Ano em uma consulta que envolveu 12 dirigentes de equipes da F1. No início de 2013 alimentou uma disputa desnecessária ironizando o colega Felipe Massa por obter melhores resultados no início da temporada.


Em 2015 o piloto voltou para a McLaren e acompanhou a derrocada da equipe, cujo projeto dos carros com os motores Honda não funcionou. Em 2018 no Canadá Alonso registrou o seu GP nº 300, quinto piloto com maior número de participações nas pistas. Desencantado com os resultados na F1 e com a falta de oportunidade para pilotar por uma equipe que proporcionasse a oportunidade de brilhar, Alonso partiu em busca de novos desafios participando das 500 milhas de Indianópolis em 2017, não conseguiu chegar ao final, mas ganhou o prêmio de Calouro do Ano. Foi um dos pilotos da equipe Toyota Gazoo Racing que venceu a edição de 2018 das Horas de Le Mans, uma prova tradicional e apontada como o maior evento a esportivo sobre rodas do planeta.


Fernando Alonso é um piloto reconhecidamente talentoso e com muitos recursos, entretanto, minha opinião pessoal, tem temperamento difícil e não tolera competição interna. Ele só é feliz em uma equipe extremamente competitiva que possa chamar de sua, característica complicada nos dias atuais pela crescente profissionalização da F1.






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