A base da equipe
Movistar Yamaha MotoGP está situada em Lesmo, Itália, a menos de três
quilômetros do circuito de Monza (as curvas 6 e 7 do traçado são chamadas de
“Duas de Lesmo”). A sede operacional da MV Agusta, cuja participação na
motovelocidade está atualmente centrada na Superbike, é em Varese, Itália, a
menos de cinquenta quilômetros de distância de Lesmo. Em ambas as localidades,
aficionados das corridas de motos acompanham os esforços de Valentino Rossi
para alcançar e ultrapassar alguns dos recordes estabelecidos por Giacomo
Agostini entre 1964 e 1977, cuja carreira foi desenvolvida em sua fase mais
vitoriosa a bordo de motos MV Agusta.
Não existe um modo de estabelecer
uma comparação justa entre pilotos ou equipes. A MV Agusta tem realizações difíceis de serem
igualadas, entre 1958 e 1974 venceu dezessete mundiais seguidos da classe
principal, realização improvável de ser repetida, e entre os anos de 1968 e 1971
Agostini participou com motos MV Agusta de 68 provas, 38 da 500cc e 30 da 350cc,
venceu todas. A equipe, entretanto, não acompanhou em tempo a evolução
tecnológica dos fabricantes japoneses e abandonou a categoria máxima do
motociclismo no meio dos anos 70.
É necessária e oportuna
uma contextualização, a superioridade da MV Agusta na época era esmagadora e
Agostini nunca enfrentou um rival com um equipamento equivalente ao seu. Mike “The
Bike” Hailwood, que havia conquistado o tetracampeonato pela equipe, migrou
para a Honda alegando uma indisfarçável preferência do Conde Agusta pelo conterrâneo
italiano.
Os tempos e a tecnologia
eram outros. A moto de Agostini utilizava quadro tubular de aço, tanque de combustível
enorme e centro de gravidade próximo da roda traseira. Os pneus sequer eram
radiais, o grip limitado e a técnica de pilotagem mais eficiente recomendava
manter a moto aprumada o maior tempo possível. Existem poucos registros visuais
da época e todos mostram o capacete do piloto perfeitamente alinhado com eixo
longitudinal do equipamento durante as curvas.
Os números dos dois
pilotos são impressionantes. Os arquivos oficiais indicam que na principal
categoria, desde a primeira temporada em 1949, já foram disputadas 831 provas,
com 104 vencedores diferentes. Valentino, em sua décima sexta temporada (500cc
e MotoGP) chegou em primeiro em 88 delas e Agostini em 68. A diferença entre
estes números pode ser creditada à maior frequência de participações, Rossi
esteve no grid de largada (500cc + MotoGP) em 279 ocasiões, o número de provas
por temporada na época de Agostini era menor e em 14 anos de atividade
participou de 117 corridas (550cc).
Considerando todas as
categorias Agostini tem 122 vitórias em 194 corridas e Valentino 114 em 339. Em
termos de eficiência, a vantagem de Agostini é imensa, venceu 63% das provas
que participou, enquanto o número de Rossi é muito menor, 34%. Agostini reinou
soberano em uma época onde tinha de longe o melhor equipamento e prioridade
absoluta na equipe, o caminho de Valentino tem sido mais árduo, disputas equilibradas
entre fabricantes e concorrência acirrada com novos pilotos. Enquanto Agostini desistiu
das pistas quando houve um ponto de inflexão na tecnologia, Rossi continua se
reinventando para ser competitivo e acumula vitórias em um esporte cada vez
mais exigente e disputado.
O mundo da MotoGP mudou
muito desde a ascensão do Grupo Dorna, o estímulo à inovação e o desenvolvimento
de soluções criativas está sendo desencorajado em função de proporcionar maior
competitividade para equipes com menor orçamento. A limitação gradativamente do
gap tecnológico entre participantes via Regulamento das Competições indica que
dificilmente haverá espaço para uma equipe exercer amplo domínio, como foi o da
MV Agusta no apogeu da era Agostini. Nos dias atuais é impensável um único
piloto monopolizar as vitórias de toda uma temporada e, nestes termos, a
perseguição de Valentino aos números de Agostini é muito mais complicada.
Acrescente-se a isto a concorrência de uma talentosa geração de novos pilotos da
escola espanhola, representada por Jorge Lorenzo e Marc Márquez, que dividiram juntos
os últimos cinco campeonatos mundiais.
Faltam 8 vitórias para
Valentino Rossi alcançar as 122 de Giacomo Agostini em todas as categorias. Na
temporada de 2015, a sua melhor desde seu regresso para a Yamaha, venceu 4
vezes, este ano, com metade das etapas cumpridas, já conseguiu dois primeiros
lugares. Com mais meia temporada e o contrato fechado com a equipe para o
próximo biênio, é muito provável que ele consiga igualar e superar a lenda
italiana. Isto credencia Valentino Rossi a obter o consenso em ser reconhecido
como o melhor piloto de todos os tempos? Dificilmente. Não é apenas um conflito
de numerologia ou gerações, quem é o melhor sempre depende da idade e
nacionalidade de quem opina.
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