terça-feira, 2 de agosto de 2016

MotoGP – Os Números de Agostini e Rossi

Giacomo Agostini


A base da equipe Movistar Yamaha MotoGP está situada em Lesmo, Itália, a menos de três quilômetros do circuito de Monza (as curvas 6 e 7 do traçado são chamadas de “Duas de Lesmo”). A sede operacional da MV Agusta, cuja participação na motovelocidade está atualmente centrada na Superbike, é em Varese, Itália, a menos de cinquenta quilômetros de distância de Lesmo. Em ambas as localidades, aficionados das corridas de motos acompanham os esforços de Valentino Rossi para alcançar e ultrapassar alguns dos recordes estabelecidos por Giacomo Agostini entre 1964 e 1977, cuja carreira foi desenvolvida em sua fase mais vitoriosa a bordo de motos MV Agusta.

Não existe um modo de estabelecer uma comparação justa entre pilotos ou equipes.  A MV Agusta tem realizações difíceis de serem igualadas, entre 1958 e 1974 venceu dezessete mundiais seguidos da classe principal, realização improvável de ser repetida, e entre os anos de 1968 e 1971 Agostini participou com motos MV Agusta de 68 provas, 38 da 500cc e 30 da 350cc, venceu todas. A equipe, entretanto, não acompanhou em tempo a evolução tecnológica dos fabricantes japoneses e abandonou a categoria máxima do motociclismo no meio dos anos 70.

É necessária e oportuna uma contextualização, a superioridade da MV Agusta na época era esmagadora e Agostini nunca enfrentou um rival com um equipamento equivalente ao seu. Mike “The Bike” Hailwood, que havia conquistado o tetracampeonato pela equipe, migrou para a Honda alegando uma indisfarçável preferência do Conde Agusta pelo conterrâneo italiano.

Os tempos e a tecnologia eram outros. A moto de Agostini utilizava quadro tubular de aço, tanque de combustível enorme e centro de gravidade próximo da roda traseira. Os pneus sequer eram radiais, o grip limitado e a técnica de pilotagem mais eficiente recomendava manter a moto aprumada o maior tempo possível. Existem poucos registros visuais da época e todos mostram o capacete do piloto perfeitamente alinhado com eixo longitudinal do equipamento durante as curvas.

Os números dos dois pilotos são impressionantes. Os arquivos oficiais indicam que na principal categoria, desde a primeira temporada em 1949, já foram disputadas 831 provas, com 104 vencedores diferentes. Valentino, em sua décima sexta temporada (500cc e MotoGP) chegou em primeiro em 88 delas e Agostini em 68. A diferença entre estes números pode ser creditada à maior frequência de participações, Rossi esteve no grid de largada (500cc + MotoGP) em 279 ocasiões, o número de provas por temporada na época de Agostini era menor e em 14 anos de atividade participou de 117 corridas (550cc).

Considerando todas as categorias Agostini tem 122 vitórias em 194 corridas e Valentino 114 em 339. Em termos de eficiência, a vantagem de Agostini é imensa, venceu 63% das provas que participou, enquanto o número de Rossi é muito menor, 34%. Agostini reinou soberano em uma época onde tinha de longe o melhor equipamento e prioridade absoluta na equipe, o caminho de Valentino tem sido mais árduo, disputas equilibradas entre fabricantes e concorrência acirrada com novos pilotos. Enquanto Agostini desistiu das pistas quando houve um ponto de inflexão na tecnologia, Rossi continua se reinventando para ser competitivo e acumula vitórias em um esporte cada vez mais exigente e disputado.  

O mundo da MotoGP mudou muito desde a ascensão do Grupo Dorna, o estímulo à inovação e o desenvolvimento de soluções criativas está sendo desencorajado em função de proporcionar maior competitividade para equipes com menor orçamento. A limitação gradativamente do gap tecnológico entre participantes via Regulamento das Competições indica que dificilmente haverá espaço para uma equipe exercer amplo domínio, como foi o da MV Agusta no apogeu da era Agostini. Nos dias atuais é impensável um único piloto monopolizar as vitórias de toda uma temporada e, nestes termos, a perseguição de Valentino aos números de Agostini é muito mais complicada. Acrescente-se a isto a concorrência de uma talentosa geração de novos pilotos da escola espanhola, representada por Jorge Lorenzo e Marc Márquez, que dividiram juntos os últimos cinco campeonatos mundiais.


Faltam 8 vitórias para Valentino Rossi alcançar as 122 de Giacomo Agostini em todas as categorias. Na temporada de 2015, a sua melhor desde seu regresso para a Yamaha, venceu 4 vezes, este ano, com metade das etapas cumpridas, já conseguiu dois primeiros lugares. Com mais meia temporada e o contrato fechado com a equipe para o próximo biênio, é muito provável que ele consiga igualar e superar a lenda italiana. Isto credencia Valentino Rossi a obter o consenso em ser reconhecido como o melhor piloto de todos os tempos? Dificilmente. Não é apenas um conflito de numerologia ou gerações, quem é o melhor sempre depende da idade e nacionalidade de quem opina.

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