Ducati Desmosedici GP14.2 |
Foram necessárias onze etapas de
2016 para a MotoGP, finalmente, definir o grid da temporada de 2017. Eugene
Laverty, que era a última ponta solta, decidiu voltar para a WorldSBK,
desistindo de disputar com Yonny Hernandes a vaga de companheiro do já
contratado Álvaro Bautista na equipe Ducati Aspar Racing.
Eugene Laverty construiu uma
carreira nas categorias de acesso e principal da WorldSBK, chegou à MotoGP em
2015 na Classe Open com uma moto Honda RC213V-RS da Aspar. Em 2016 a equipe
mudou o equipamento para a Ducati Desmosedici GP14.2, Laverty, que esteve à
frente das GP16 de fábrica até a sexta etapa, ocupa a décima primeira posição
na tabela do campeonato, esteve na zona de pontuação em dez (das onze) provas da
temporada e sua melhor colocação foi o quarto lugar em Rio Hondo, na Argentina.
O clube de vencedores da MotoGP
é muito seletivo e as vagas são prioritárias para os pilotos das equipes de
fábrica. Em uma equipe privada, embora com apoio da fábrica, as únicas chances
de conseguir o primeiro lugar dependem de circunstâncias alheias ao esporte,
como as condições instáveis de clima que proporcionaram as vitórias de Jack Miller
na Alemanha e Cal Crutchlow na República Tcheca.
O principal motivo da decisão de
Laverty foi o fato da Aspar optar por Álvaro Bautista para pilotar a GP16
enquanto para ele restou a GP15. A diferença
entre as duas motos é relativamente pequena, a GP16 desgasta menos os pneus, o
que representa uma vantagem significativa ao longo da distância de uma prova.
Em termos de uma única volta a diferença de desempenho dos dois equipamentos é mínima,
mas o acumulado no final de uma corrida pode ser medido em segundos, não em décimos
de segundo. Como é esperada uma evolução semelhante para a GP17, a distância de
entre o que poderia ser sua moto e a que vai ser pilotada por Jorge Lorenzo e
Andrea Dovizioso é estimada em dezenas de segundos ao final de uma prova.
A opção de Eugene Laverty na
WorldSBK é uma Aprilia de fábrica. A Aprilia RSV4-RF não contempla muitas
atualizações nos últimos anos, mas no paddock todos concordam que, com apoio e
assistência técnica da fábrica, pode ser um equipamento altamente competitivo.
O piloto irlandês já passou dos trinta anos e não visualiza mais chances de
alcançar o panteão dos grandes vencedores da MotoGP.
Houve um tempo em que a MotoGP
era considerada a evolução natural para os talentos revelados pela WorldSBK,
entretanto nos dias atuais há o consenso que ambas as categorias trilham
caminhos próprios e as transferências no sentido inverso não são mais
consideradas deméritos. Nick Hayden, campeão da MotoGP em 2006, realizou este
caminho no início de 2016, já compareceu em pódios e venceu corridas,
resultados impensáveis se continuasse a disputar a MotoGP em uma equipe
satélite.
Embora a MotoGP seja,
indiscutivelmente, o maior show em termos de competições em duas rodas, com
presença de público nos circuitos e audiência da televisão três vezes maior que
a WorldSBK, para os pilotos a segunda opção talvez possa ser economicamente
mais rentável. Os limites de uma máquina do Mundial de SuperBike, contemplados
pelo Regulamento Técnico, implicam em funcionar bem também em velocidades e
pisos compatíveis com o trânsito em cidades e as motos são projetadas para ser
construídas a um custo baixo. As diferenças são mais visíveis no motor, na
WorldSBK os componentes utilizados são compartilhados com veículos comerciais,
produzidos para durar mais de 200 mil quilômetros. A maioria dos motores da MotoGP
são usinados a partir de um único bloco de alumínio, mantendo apenas o material
mínimo necessário, suficiente para rodar no máximo 10 mil quilômetros.
Existem diversas razões que
motivam um profissional a escolher a WorldSBK, realização pessoal e financeira
são apenas duas. Pilotos são competitivos por definição e a máxima do barão de Coubertin, que o importante é competir, não se aplica a eles. O ego de um
piloto é alimentado por vitórias. Se o pódio da MotoGP é monopolizado por
pilotos de fábrica, a opção dos “não-fábrica” pela WorldSBK é mais atrativa.
Mudar de categoria pode fazer
muito sentido também no lado financeiro. A expressiva exposição da MotoGP
resulta em uma violenta distorção nos salários dos pilotos, devido a oferta
limitada de assentos e demanda ilimitada de candidatos. Os pilotos de fábrica, com
equipamentos mais competitivos, conseguem melhores resultados e bons salários,
enquanto outros correm de graça, talvez até incluindo patrocinadores pessoais
no pacote para equipes de com lugares disponíveis. Na WorldSBK, por contemplar
motos produzidas para serem comercializadas ao público, os custos não são
absurdos e parte do orçamento pode ser direcionada para os pilotos. A mudança
para o Mundial de Superbike também pode ser lucrativa do ponto de vista dos
patrocinadores pessoais, na medida em que podem ser negociados bônus por bons resultados,
que não são exclusividade de uns poucos escolhidos.
Eugene Laverty é reconhecido
como um dos melhores pilotos que disputam a MotoGP por equipes satélite, porém
as chances de ter seu talento recompensado são remotas. A decisão de mudar do
paddok da MotoGP para a WorldSBK, para uma equipe com condições de vencer
corridas e obter recompensa financeira, parece ser um simples exercício de
lógica.
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