quinta-feira, 30 de setembro de 2021

MotoGP - Fatores de risco

A exposição a riscos de acidentes pode surpreender.



Pessoas em geral, incluindo pilotos de motovelocidade, são muito ruins em calcular probabilidades negativas. Passam muito tempo confiando em suas próprias habilidades, preocupadas com eventos menos comuns, embora mais traumatizantes, assaltos, impactos de meteoros, balas perdidas, quando deveriam estar preocupadas com, e prevenidas contra, riscos mais triviais como AVCs, ataques cardíacos e diabetes que têm muito maior chance de encurtar suas vidas. Muitos dos que tem medo de morrer em um desastre aéreo não se preocupam em dirigir falando ao celular.
 
Pilotos de motovelocidade são particularmente vulneráveis, os esforços dos organizadores em privilegiar a competitividade equalizando os recursos dos equipamentos faz os competidores andarem muito juntos, potencializando as oportunidades de acidentes.
 


 
O motociclismo esportivo pode ser extremamente cruel em algumas ocasiões, como ilustra o acidente que causou óbito de Dean Vinales. Dean tinha 15 anos, depois de competir algumas corridas da Talent Cup em 2020, estava disputando a sua primeira temporada completa na SuperSport 300, fez sua estreia este ano na categoria pilotando a uma Yamaha para a Vinales Racing Team, equipe chefiada por Angel Vinales, pai de Maverick Vinales. Faltando 3 voltas para o encerramento da prova, o jovem piloto espanhol saiu da pista na curva 1 devido a um contato com outro competidor, perdendo o controle e caiu, sendo atingido por outros corredores. O pronto atendimento médico e a transferência para o hospital foram inúteis, o óbito foi confirmado poucas horas depois devido a um duplo trauma, cabeça e tórax.
 
Acidentes são, por definição, eventos indesejados, inesperados e não intencionais, que podem causar danos físicos e materiais. Provas de motovelocidade contemplam uma miríade de possibilidades de acidentes, que incluem colisões, quedas e atropelamentos.


 Red Bull Ring 2020
 
Alguns são espetaculares e impressionam por não causar danos significativos aos pilotos, como o ocorrido entre Franco Morbidelli e Johann Zarco no GP da Áustria em Red Bull Ring em 2020. Na ocasião a Tech3 Ducati de Zarco cortou a frente da Petronas Yamaha de Morbidelli e causou uma colisão. Ambas as motos saíram em alta velocidade pela área de escape. O equipamento de Zarco bateu em um airfence e foi catapultado cruzando a pista enquanto a prova prosseguia, passou feito um bólido a centímetros de distância das duas Yamaha de Maverick Vinales e Valentino Rossi. Por detalhes o acidente não causou maiores danos.
 

Acidente de Shoya Tomizawa
 

Shoya Tomizawa faleceu com 19 anos em 2010 durante a disputa do GP de San Marino na Moto2. Durante a 12ª volta perdeu a aderência sobre a zebra e caiu, foi atropelado pelas motos dos pilotos Alex de Angelis e Scott Redding.
 
O italiano Marco Simoncelli, conhecido como “Super Sic", morreu em outubro de 2011 durante o GP da Malásia no Circuito Internacional de Sepang.  Durante a segunda volta, sua a moto perdeu tração na curva 11 e começou a deslizar para o cascalho, os pneus recuperaram o grip e o equipamento voltou para a pista, no caminho de Colin Edwards e Valentino Rossi. Simoncelli foi atingido na parte inferior do corpo por Edwards e na cabeça por seu conterrâneo Rossi. O piloto, de 26 anos, teve o óbito anunciado ainda na pista.


Marco Simoncelli em Sepang


O acidente com Luis Salom aconteceu durante o 2º treino livre da Moto2 para o GP disputado no circuito da Catalunha em Barcelona. O piloto perdeu o controle na curva Europcar, uma das mais rápidas do traçado, a moto foi em direção à barreira de pneus e, após atingi-la, caiu sobre o piloto. O espanhol de Palma de Maiorca de 24 anos de idade foi a óbito.
 
O suíço Jason Dupasquier perdeu o controle de sua moto na saída da curva Arrabbiata 2 no final do treino classificatório para o GP da Itália da Moto3, em Mugello.Foi atropelado pelo japonês Ayumu Sasaki. Depois de ser atendido na pista com procedimentos de estabilização, foi encaminhado para o Hospital Carregi, onde não resistiu aos ferimentos. Faleceu aos 19 anos de idade. 
 
Em julho deste ano, no campeonato Espanhol de Velocidade, Hugo Millan de apenas 14 anos morreu em decorrência de um acidente na etapa de Aragon da Talent Cup Europeia. Millán caiu com 13 voltas para o fim da primeira corrida da Talent Cup. A queda foi forte, mas o impacto maior aconteceu na sequência. O polonês Milan Leon Pawelec vinha atrás, não conseguiu desviar e acabou atropelando o espanhol. Hugo Millán chegou a ser levado para o hospital com vida, mas não resistiu.


Hugo Millan em Aragon 2021

 
O esporte motorizado é uma atividade de alto risco. Os organizadores desenvolvem um trabalho contínuo para melhorar a segurança dos circuitos e competidores, mas não existe proteção que possa garantir a integridade física de pilotos envolvidos em acidentes resultantes de disputas acirradas. Tomizawa, Simoncelli, Dupasquier, Millan e Vinales perderam suas vidas em circunstâncias semelhantes. Depois de quedas que normalmente não teriam maiores consequências, foram atropelados por pilotos que corriam atrás.
 
Quando acontecem incidentes em que possa haver a contribuição do traçado da pista as providências são imediatas. O circuito de Suzuka cujas características podem ter colaborado com o evento que vitimou Daijoro Kato (26 anos) em 2003, foi considerado inseguro para motovelocidade e expurgado do calendário. A curva cujo desenho colaborou para a morte de Luis Salom já não existe.
 
Para preparar melhor as novas gerações de pilotos e atender as exigências de motores menos poluentes, as características das máquinas da Moto2 e Moto3 foram redimensionadas. Na Moto2 os motores 250cc de 2 tempos foram substituídos por 4 tempos com 765cc, a Moto3 trocou os 125cc 2T por monocilíndricos de 250cc 4 tempos.
 
Desde o acidente que vitimou Daijoro Kato em 2003 até o início desta temporada a MotoGP em todas as classes contabilizou 5 acidentes fatais, uma média 1 a cada 3,6 temporadas. Houve um hiato grande entre os óbitos de Daijiro Kato e Shoya Tomizawa em 2010, 16 anos, porém este ano está sendo particularmente trágico.
 
Três mortes de Moto3/WorldSSP300 em circunstâncias idênticas em menos de quatro meses requerem uma análise mais profunda. O piloto do GP de Moto3 Dupasquier morreu em maio, o da Moto3 ETC Millan se acidentou em julho e o da WorldSSP300 Vinales em setembro.
 
Esta taxa de mortalidade atual é inaceitável depois de décadas da IRTA, Dorna e fabricantes de equipamentos investirem para aumentar a segurança de circuitos e pilotos. O problema é que para aumentar a competitividade dos equipamentos e oferecer um espetáculo mais justos, as motos são muito semelhantes e, nas classes menores, fáceis de pilotar. Todos têm essencialmente o mesmo desempenho do motor e os equipamentos são basicamente clones uns dos outros.
 
Não é coincidência que Vinales, Millan e Dupasquier tenham perdido a vida em acidentes muito semelhantes, não por erros próprios, mas pelo acaso de estarem na hora errada no local errado. Os 3 foram a óbito em eventos da organizados pela Dorna; MotoGP, mundial de Superbike e a chamada Road to MotoGP, então a empresa precisa encontrar uma solução urgente tralhando em conjunto com a FIM, parceiros e patrocinadores.
  
A MotoGP é um misto de competição e espetáculo, as pessoas não frequentam autódromos para testemunhar “incidentes lamentáveis”.
 





quinta-feira, 23 de setembro de 2021

MotoGP - Fator competitividade


Todos que cultivam o hábito de acompanhar regularmente os esportes motorizados a algum tempo são praticamente unânimes em eleger a melhor primeira volta da história a protagonizada por Ayrton Senna em 1993 no único GP realizado no circuito de Donington Park. Disputada em clima úmido, quando a largada foi autorizada os carros se transformaram em uma névoa de spray.

Senna (McLaren) largou em 4º e buscava uma melhor colocação quando foi bloqueado por Michael Schumacher (Benetton) e perdeu a posição para Karl Wendlinger (Sauber). 


 Largada do GP Europa de 1993 em Donington Park


Antes de um quarto da primeira volta ser concluída Senna passou pela Benetton de Schumacher, superou o jovem alemão da Sauber e assumiu a 3ª posição, com meio circuito percorrido ultrapassou Damon Hill (Williams)e no grampo já no 3º setor deixou Alain Prost (Williams) para trás, assumindo a liderança antes de completar a 1ª volta. As duas Williams-Renault eram muito superiores a todos os carros do grid, a McLaren de Senna era impulsionada por um motor Ford depois de perder o Honda da temporada anterior. As condições da pista mascararam as diferenças de desempenho dos carros. A capacidade dos pilotos, em especial de Ayrton Senna, em competir em condições desfavoráveis fez a diferença. 

As entidades que administram a MotoGP, Federation Internationale de Motocyclisme (FIM), DORNA Sports (DORNA), International Road Racing Teams Association (IRTA) e Motorcycle Sports Manufacturers Association (MSMA) foram muito felizes (e competentes) ao criar uma regulamentação que privilegiou a competitividade, de modo que a obtenção de milésimos de segundo está centrada em detalhes. Os resultados estão sendo comprovados, até agora nesta temporada 8 pilotos e 5 fabricantes diferentes já venceram competições. As diferenças dos tempos que separam os pilotos na classificação e nas voltas durante as provas são mínimas. As temporadas em que havia a hegemonia de uma (MV Agusta) ou duas equipes (Honda e Yamaha) são coisas do passado. Entre 2011 e 2015 foram disputados 89 GPs, todas as vitórias foram conquistadas exclusivamente por equipamentos produzidos pelos fabricantes nipônicos Honda e Yamaha.

Embora todos tenham as mesmas especificações técnicas, conjuntos de pneus semelhantes e auxílio eletrônico padronizado, os protótipos são diferentes entre si. O projeto desenvolvido para cada equipamento contempla ênfase em características que o fabricante considera importantes para obter melhor desempenho, velocidade em retas e contornos, eficiência nas frenagens e rapidez na retomada de aceleração. Em uma análise extremamente simplista, equipamentos com cilindros em linha (Yamaha e Suzuki) são mais lentos e com manejo mais fácil, enquanto os 4 cilindros em V (Honda, KTM, Aprilia e Ducati) são mais rápidos, porém bem mais difíceis de controlar.

 
 
Circuitos Anti-horário de Sachsenring e Aragon


Os motores V4 desenvolvem maior potência porque tem um virabrequim mais curto, rígido, com menor vibração e menores perdas de energia, enquanto os com cilindros em linha são mais amigáveis nas curvas graças ao seu virabrequim mais longo. Os pilotos de equipados com cilindros em linha tem alguma vantagem em treinos classificatórios porque podem realizar voltas super-rápidas com pista livre. Quando encaixotados entre V4s com maior velocidade final, a coisa complica. Utilizar o vácuo de um equipamento ajuda a acelerar mais rápido, a falta de resistência do ar faz com que a moto desacelere mais lentamente, porém controlar uma moto ao aplicar os freios em um turbilhão é um pesadelo. 

Em situações de corrida, a velocidade superior em retas dos V4 não é o único problema para os quatro-em-linha. As máquinas V4 não gostam tanto de curvas, então seus pilotos usam linhas mais agudas em forma de V, freando até o ápice, girando agressivamente a moto no meio da curva e acelerando para a saída. Os quatro-em-linha estão no seu melhor ambiente nas curvas, então os pilotos usam trajetórias em forma de U, percorrendo um arco para conseguir o máximo de velocidade possível.

A linha V do piloto de um V4 exige que ele freie mais agressivamente, por isso é mais fácil conduzir um quatro- em-linha. Uma vez que um V4 está na frente, o quatro-em-linha não pode usar sua velocidade de curva superior. A mesma coisa acontece nas saídas de curvas, o piloto do quatro-em-linha perdeu a velocidade e sai mais lento na retomada de aceleração.

Basicamente, os quatro-em-linha podem ser mais rápidos que os V4s na maioria dos circuitos se tiverem ampla liberdade para manobrar nas trocas de direção, a pista só para eles, como acontece nas classificações. Fabio Quartararo consegue suas vitórias da única maneira que realmente parece funcionar para os quatro-em-linha, sair na frente o mais rápido possível e não deixar os V4 se aproximarem o suficiente para interferir na velocidade em curva.

A personalidade de um equipamento depende também da orientação utilizada pelos engenheiros durante o projeto. A RC213V, por exemplo, foi concebida na era dos pneus Bridgestone e explora as características do pneu dianteiro, que era o forte da fábrica japonesa. Na prática implica que é uma moto diferente das V4 tradicionais e exige um modo de condução específico. Pilotos experientes e talentosos como Jorge Lorenzo e Pol Espargaro custaram ou custam a se adaptar, o protótipo Honda tem um comportamento diverso de todos os concorrentes. Marc Márquez se destaca graças ao controle absurdo que tem do pneu dianteiro. O RC213V é conhecido por não ter aderência traseira, e a sua retomada de aceleração perde para as Ducati, KTM e Aprilia. 

 
 Observem a orientação das rodas da moto #93 no épico GP vencido por Márquez no GP da Tailândia em 2018


Fábio Quartararo – Liderança inconteste na Yamaha


No somatório geral, embora os 6 fabricantes adotem abordagens distintas, o resultado é equilibrado e cresce a importância dos pilotos. As colocações no mundial (até a etapa de Misano/2021) mostram que equipamentos semelhantes obtém tem resultados distintos. Dos 397 pontos conquistados por protótipos Yamaha, 234 foram obtidos por Fábio Quartararo. Um cenário semelhante, porém, não tão significativo, pode ser encontrado nas máquinas desenvolvidas pela Honda. Marc Márquez, que não está em sua condição física ideal e sequer foi inscrito nas duas primeiras etapas, tem 92 dos 276 pontos acumulados por máquinas da marca japonesa. O #93 também foi o único piloto Honda que esteve presente no pódio das provas realizadas nesta temporada. A infelicidade de Marc Márquez iniciou quando fraturou o braço direito em uma queda na primeira etapa da temporada de 2020 em Jerez. Um misto de precipitação, diagnósticos equivocados e erros médicos resultou em seu afastamento por toda a temporada, seu braço direito ainda não se recuperou totalmente.

 
Marc Márquez utiliza intensamente os cotovelos


O piloto, cuja técnica de condução utiliza muito o cotovelo, sempre teve predileção por circuitos com sentido anti-horário, com maior número curvas à esquerda, como os traçados de Sachsenring e Aragon. Márquez venceu na Alemanha foi o 2º em Motorland. A próxima prova está programada para o Circuito das Américas em Austin, que é disputado no sentido anti-horário, onde o espanhol coleciona vitórias.

 

terça-feira, 14 de setembro de 2021

F1 - A lei é para todos

 


Deve haver uma edição especial do livro de regras da Fórmula 1 circulando na sede e/ou boxes da Red Bull Racing, indicando que, independentemente do contexto, Max Verstappen sempre tem prioridade, uma espécie de Lei de Gerson que só se aplica para ele. Quando a equipe contratou Sérgio Perez para esta temporada, Christian Horner e Helmut Marko foram explícitos ao anunciar que estavam trazendo um piloto para ajudar Max Verstappen a ser campeão do mundo. A dupla defende com ferocidade qualquer atitude do piloto, mesmo as que atentam contra a lógica.
 
A carreira do belga que defende as cores da Holanda foi meteórica, ele disputou apenas uma temporada do Campeonato Europeu de Fórmula 3 em 2014 (3º colocado) antes de ser contratado pela Equipe Toro Rosso da Fórmula 1 em 2015. Durante suas temporadas iniciais, Max foi assessorado pelo pai, o ex-piloto Jos Verstappen que competiu na Fórmula 1 por oito anos e, apesar de ter conquistado dois pódios, é mais conhecido pelo incêndio durante um pitstop no GP da Alemanha de 1994.

 
Incêndio no carro de Jos Verstappen em 1994


Max é um excelente piloto, porém sua história na F1 é permeada de incidentes. No GP do Brasil em 2018 perdeu a vitória ao rodar por ser impaciente ao ser ultrapassado por um retardatário (Steban Ocon) na saída do S do Senna, Verstappen falou um palavrão para o francês e o chamou de idiota no rádio para a Red Bull, ainda mostrou o dedo do meio (gesto obsceno) para o piloto da Force Índia.
 

Interlagos 2018 – Ocon vs Verstappen
 

Também em 2018 no GP do Azerbaijão disputado em Baku, Max provocou um choque com seu colega de box Daniel Riccardo em uma tentativa de evitar uma ultrapassagem. O australiano afirma que não gostou da maneira com a qual a equipe austríaca lidou com a situação e que o incidente contribuiu para a sua saída para a Renault
 
 
GP do Azerbaijão em 2018
 
 
No GP dos EUA em Austin, 2017, ultrapassou Kimi Raikkonen na última volta para conquistar a 3ª colocação ignorando totalmente os limites da pista. Foi punido com a perda do pódio e comunicado enquanto esperava na sala que antecede a cerimônia de premiação. Ficou indignado porque, segundo ele, a manobra era a única alternativa possível no circuito. Em tempo, a decisão de punir o piloto, que acintosamente descumpriu as regras estabelecidas, foi muito criticada pelo locutor que fazia a cobertura da TV para o Brasil. Segundo sua lógica a penalidade contrariou o espírito da Fórmula 1, seja lá o que isto significa.
 
No início deste ano, em Ímola, Hamilton optou por sair para a zebra enquanto a dupla corria lado a lado na primeira chicane


Ímola 2021 – Hamilton vs Verstappen


Na corrida seguinte em Portugal, Hamilton cedeu na Curva 1 quando Verstappen o ultrapassou por fora, antes de repassar o piloto da Red Bull mais tarde. Na Espanha os dois estiveram próximos de colidir quando o ataque agressivo de Verstappen na Curva 1 forçou Lewis a ceder. O britânico também recusou forçar a situação na Curva 1 na França ao reduzir a aceleração.

Em todas essas ocasiões, Lewis Hamilton evitou o conflito.
 
O cenário mudou no GP da Inglaterra. Pela primeira vez, Hamilton decidiu pagar para ver, o resultado foi um acidente na Curva Copse. Hamilton foi demonizado pela mídia e punido pelos comissários de pista, embora Verstappen pudesse ter evitado, ceder a posição e permanecer na corrida. Na mesma prova, em duas manobras muito semelhantes o britânico ultrapassou Norris (McLaren) e Leclerc (Ferrari) sem incidentes.


Acidente em Silverstone 2021


No GP de Monza houve um quase contato na segunda chicane durante a volta inicial, Hamilton recuou enquanto Max utilizou a linha interna.

No incidente ocorrido na Curva 1 nenhum dos pilotos estava disposto a desistir. Enquanto Hamilton poderia ter dado mais espaço a Verstappen, Max também teve a opção de evitar a colisão saindo pela área de escape. O holandês acreditou que Lewis facilitasse sua manobra, o que não aconteceu. O choque foi inevitável.
 

Acidente em Monza 2021
 

Vários observadores sugerem que Max deliberadamente atingiu o rival na disputa pelo campeonato. A velocidade, destemor e consistência de Verstappen fazem dele um forte candidato para o título e como atual líder na contagem de pontos, Max e a Red Bull devem começar a fazer planos a longo prazo. As batalhas tem que ser escolhidas com sabedoria, um acidente toda vez que ele e Hamilton disputarem roda a roda a roda não é uma maneira eficaz de ganhar o título mundial.
 
Hamilton sabe que quando estiver em disputa com o holandês, deve considerar o seu estilo agressivo.
 
Com a disputa pelo título tão perto, Verstappen não pode permitir uma repetição de Silverstone, onde mesmo que a maior parte da culpa fosse de Hamilton, ele perdeu 25 pontos.
 
Em Monza, ambos os pilotos não pontuaram na prova principal, ou seja, no final Max ainda levou 2 pontos da corrida curta em um fim de semana em que a Mercedes tinha o carro mais rápido.
 
Talvez da próxima vez ele não tenha tanta sorte.

Em algum momento da parte final da temporada, ele terá que ser mais frio e calculista, pode ter que se contentar com menos para o bem maior se quiser ser campeão.
 
 Por último, a pergunta de 1 milhão de dólares. Alguém ainda considera que o HALO é feio e desnecessário?
 

cg
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domingo, 5 de setembro de 2021

W Series

 




Acidente na curva Eau Rouge durante a qualificação no GP da Bélgica (2021)


A Eau Rouge é a curva mais icônica, traiçoeira e complicada das provas de velocidade. Suas peculiaridades são associadas ao clima instável da região de colinas montanhosas de Ardenas, onde se situa o circuito de Spa-Francorchamps na Bélgica. Eau Rouge tem características diferenciadas, é uma curva em “S” tomada em alta velocidade, antecedida por um longo trecho em descida.

Uma das poucas curvas do atual calendário da Fórmula 1 em que os pilotos tem que administrar os efeitos da força G vertical e não lateral. No bizarro GP realizado no circuito em 2021 houve diversos acidentes muito em função da imprevisibilidade do clima. O mais espalhafatoso aconteceu durante a qualificação da W Series, um incidente de grandes proporções que envolveu nada menos de seis carros.

O sinistro aconteceu quando Sarah Moore perdeu o controle de seu carro saindo da curva rápida Eau Rouge e bateu na barreira que limita a área de escape até a Raidillon. Moore foi rapidamente seguida por Abbie Eaton, Beitske Visser e Ayla  Agren antes de Belen Garcia entrar de frente nos carros descontrolados em uma a uma velocidade que se aproximava de 230 km/h. O impacto jogou Visser para cima na parede de pneus, depois ela ainda sofreu uma colisão na lateral pelo carro de Fabienne Wohlwend. Seu veículo foi arremessado para o meio da pista. Visser rastejou do carro antes de cair e rolar no asfalto. Foi imediatamente assistida e recolhida para o centro médico, em estado de choque. Em declarações posteriores ao evento a piloto holandesa declarou que “Todas aceitam os riscos inerentes ao esporte a motor. Fui treinada para lidar com isso e tenho total acesso aos protocolos de gerenciamento de crises. Esses documentos, que conheço de cor, não ensinam como lidar com um acidente desta magnitude e com o impacto emocional que resulta dele".

O objetivo da W Series é validar mulheres em um contexto de corrida. Quatro das envolvidas disputaram normalmente a corrida no dia seguinte. Visser e Agren que foram hospitalizadas e teriam competido se não tivessem sido proibidas pelos médicos, demonstrando a capacidade das mulheres de lidar com carros velozes nas condições mais exigentes.

Para muitos o que aconteceu pode ser um ponto de inflexão sobre a participação das mulheres no esporte a motor. Elas assumem os mesmos riscos que os pilotos de F1, F2 e F3. Quando todas aquelas pilotos voltaram para os boxes, tudo o que queriam era descobrir uma maneira de consertar os carros para que elas pudessem competir no dia seguinte. Todas menos Ayla e Beitske fizeram exatamente isso. Pessoas normais dificilmente teriam essa reação.


W SERIES
A W Series é um campeonato com acesso facilitado (free-to-enter), lançado em outubro de 2018, que oferece oportunidades iguais para as mulheres ao eliminar as barreiras financeiras que historicamente as impediram de fazer carreira no automobilismo de alto desempenho. 



 

As pilotos da W Series são selecionadas exclusivamente por sua habilidade, os carros são mecanicamente idênticos, o que significa que as corridas e campeonatos da serão vencidos pelas mais talentosas, sem a influência de altos investimentos por apoiadores.

Quanto mais talentos femininos de alto desempenho puder identificar, a categoria acredita que inspirará cada vez mais meninas a andar de kart, trazendo mais mulheres para os grids do automobilismo. Assim como no Brasil a Fórmula 1 virou paixão nacional ao aparecerem na mídia talentos como Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna e Nélson Piquet, a missão da W Series é a divulgar os feitos de mulheres ao volante, criando um ambiente em que o sucesso depende exclusivamente da dedicação e força de vontade. 

De certa forma, o hábito de acompanhar a W Series ficou prejudicado em Pindorama porque a rede do Jardim Botânico sentiu a perda da Fórmula 1 e comprou a exclusividade para as transmissões ao vivo na TV pelos canais da SporTV, que não cultivam a fidelidade dos espectadores. Além do reduzido número de provas (8 na temporada 2021), a cobertura ficou perdida na programação. Quando o evento é uma prova de Fórmula (1, 2 & 3) a Rede Bandeirantes dá as cartas e joga de mão, na motovelocidade e cobertura das provas da Nascar o endereço procurado é um dos canais da Disney (Fox & ESPN). A W Séries ficou escondida na SporTV, embora a conte  com o atrativo da presença de uma brasileira, Bruna Tomaselli, cujas performances ainda não são entusiasmantes. 


 
Bruna Tomaselli – representante tupiniquim na W Series


Em 2021 o calendário da W Series coincide com a Fórmula 1 em oito finais de semana de Grandes Prêmios.


 
Carros na pista e o conjunto de pilotos da W Series
 

O carro da W Series


O carro utilizado pela W Series é o Tatuus T-318, homologado pela FIA para a F3. Tem um motor Alfa Romeo e utiliza pneus Hankook. Este é um equipamento com especificação diferente do FIA F3 que participa como categoria de acesso à F1, como costuma acontecer em competições regionais.

Em sua outra série, o T-318 corre com motor diferente e pneus diferentes, mas a concepção é o mesmo chassi básico. Todos os carros são produzidos pela Tatuus na Itália. 

Por estar sujeito a homologação, o carro tem que atender aos mesmos padrões de segurança que todos os monopostos FIA, obedece a critérios de projeto e passa por testes de colisão para garantir a máxima proteção para as pilotos. O carro é equipado com um HALO e estruturas de colisão e estofamento do cockpit, além da certificação de componentes de segurança.

O peso mínimo é 590kg sem a piloto, o motor tem a potência de 270cv (utilizando um preciosismo técnico, 1 CV = 0,98632 HP). O principal downforce é produzido pela aerodinâmica da carroceria e o T-318 permite um ótimo desempenho em pistas de corrida.


Pilotos que competem no campeonato de 2021
O grid de participantes inscritas para 2021 inclui pilotos de 13 países, a maioria das pilotos (6) é britânica, 3 são espanholas e existem representantes da Noruega, Holanda, Australia, Finlândia, Liechtenstein, Polonia, Rússia, Japão, EUA, Itália e Brasil. As idades são variadas, a mais velha tem 32 anos e as mais jovens (2) apenas 18.
 

 
Abbi Pulling
Inglesa, 18, campeã britânica de kart e com aspirações de fazer carreira na Fórmula 1. Competiu na Fórmula 4 do Reino Unido em 2020.

 

Abbie Eaton
 Britânica, 29 anos começou sua carreira no Junior Saloon Car Trophy, terminando entre os três primeiros. Em seu primeiro ano de troféu sênior de carros de produção (stock car) venceu 15 das 18 corridas e foi campeã da SuperCopa MX5. Mudou para a British GT, correndo um com Maserati GT4 e ficou em segundo lugar no Campeonato Pro-Am. Competiu no Blancpain Endurance GT3, onde venceu sua classe.

 
 
Alice Powell
Inglesa, 28 anos, em 2009 aos 16 anos ela competiu no Campeonato Britânico de Fórmula Renault, tornando-se a mais jovem piloto feminina em qualquer disputa da categoria. No ano seguinte, ela se tornou a primeira mulher a vencer um Campeonato de Fórmula Renault, e em 2012 a primeira mulher a marcar pontos na GP3 Series.
 

 
Ayla Agren
Norueguesa, 28, mudou para os EUA em 2012 onde foi aceita na Skip Barber Racing School. Em 2014, venceu a Fórmula Ford-spec F1600. Depois de vários sucessos na F1600, ela se mudou para Road Indy, onde completou uma temporada completa, antes de ser forçada a parar por falta de financiamento. Ayla trabalha como observadora oficial para a Indy 500.

  
Beitske Wisser
Holandesa, 26, ganhou um kart em seu quinto aniversário e vários prêmios da FIA durante uma brilhante carreira internacional de kart que começou em 2007. Fez sua estreia no ADAC Formel Masters cinco anos depois e se juntou ao programa Red Bull Junior em 2013, competindo contra vários pilotos atuais da F-1 na Fórmula Renault 3.5 Series no ano seguinte. Foi a primeira mulher a participar do programa Junior da BMW Motorsport três anos depois, vencendo várias corridas GT4 para a marca alemã.

 
 
Belen Garcia
Espanhola, 28, devido à falta de orçamento sua carreira de corrida nas  pistas começou relativamente tarde, competiu no kart aos 15 anos e teve sua primeira oportunidade de correr na Fórmula 4 espanhola aos 20 anos, onde venceu uma das provas da temporada. Foi a primeira mulher a vencer uma corrida oficial da FIA em um monoposto.


Bruna Tomaselli
Brasileira, 23, realizou a sua primeira corrida no kart aos sete anos. Apesar de ser a única garota na pista, e correr contra garotos muito mais experientes, ficou em terceiro lugar. Sua primeira prova internacional foi em Las Vegas 2011, que ela novamente terminou em terceiro lugar competindo com mais de 80 pilotos. Entrou no campeonato brasileiro de Fórmula Junior em 2013 e continuou no circuito internacional de kart, conquistando um pódio em sua primeira temporada e uma vitória em 2014. Migrou para a Fórmula 4 sul-americana em 2015. Depois de uma mudança para os EUA em 2017, competiu no Road Indy, Campeonato Nacional de F2000 dos EUA, onde em 2019 conseguiu um top-5 na prova de Mid-Ohio. 
 
 
Caitlin Wood
Australiana, 24, é a primeira mulher de sua nacionalidade a competir com sucesso na Europa em tempo integral, em corridas de circuitos. Começou sua carreira no automobilismo profissional em 2013 em um campeonato de Fórmula Ford, passando a competir no Australian Formula Ford Championship, GT4 European Series, Blancpain Sprint e Endurance Series, bem como na European Lamborghini Super Trofeo Series.
 
 

Emma Kimilainen
Finlandesa, 32, competiu pela primeira vez com 5 anos de idade. Mudou do kart para monopostos aos 15 e competiu no Campeonato de Fórmula Ford do Norte europeu em 2005. Três anos depois, ela se juntou à Audi como piloto de fábrica e competiu na Fórmula Masters Series em 2008. No ano seguinte financiou seu próprio caminho para a Fórmula Palmer Audi, terminando em quinto lugar após quatro pódios. Depois de uma pausa, em 2014 voltou a correr no Campeonato Escandinavo de Carros de Turismo. Ela terminou em quinto lugar no W Series Championship 2019, vencendo a corrida em Assen. 

 
Fabienne Wohlwend
Nascida no Liechtenstein, 23, iniciou em um kart e sua família comprou uma van e viajou para diferentes pistas em Liechtenstein e na Suíça, antes de Fabienne progredir para a corrida de carros em Aragon e no Campeonato Italiano de F4 de 2016. Um ano depois, ela estava competindo na Audi Sport TT Cup e no Ferrari Challenge European Championship.

 
Gosia Rdest
Polonesa, 28, aos 16 anos já corria profissionalmente, vencendo o Campeonato Polonês de Kart apenas dois anos depois. Venceu as 24 Horas de Dubai em 2018. Competiu na British Formula 4, VW Scirocco R-Cup, Audi Sport TT Cup, ADAC TCR germânica e GT4 European Series.


Irina Sidorkova
Russa, 18, é a mais jovem piloto a competir na W Series. Aos sete anos fez sua estréia em competições na italiana 50cc Easykart, na qual ficou em quinto lugar entre 80 competidores. Ficou em terceiro lugar no Campeonato Russo Rotax em 2015, quando tinha apenas 11 anos. Realizou a transição de karts para carros aos 12 anos, e aos 13 terminou em segundo lugar no Campeonato Júnior do Circuito Russo, em uma série de carros de turismo competindo com um Volkswagen Polo. Em 2017 venceu o Ice Circuit Racing Cup em São Petersburgo e foi medalhista de prata do Campeonato Nacional Júnior da Russian Circuit Racing, no ano seguinte venceu o RCRS. Como parte do atual programa da equipe SMP Racing, ela participou em provas da FIA de Fórmula 4 na Espanha com o DriveX Team no ano passado e conseguiu o pódio duas vezes na F4 russa.

 

Jamie Chadwick
Britânica, 24, foi a mais jovem e primeira mulher a vencer um Campeonato Britânico de GT, depois se tornou a primeira vencedora de uma corrida de Fórmula 3 britânica BRDC e do MR Challenge Championship. Duas vitórias em corridas e três outros pódios foram suficientes para Jamie conquistar o título inaugural da W Series em 2019, quando também foi contratada como piloto de desenvolvimento da equipe Williams F1. 


 
Jessica Hawkins
Inglesa, 26, com apenas 12 anos, Jessica venceu o campeonato britânico de kart e em 2008, também venceu o Honda Cadete British Open Championship. Alcançou um pódio na Copa Michelin Clio de 2014 e foi vice-campeã do Mini Challenge em 2017. Jessica atuou como dublê profissional nos filmes Velozes e Furiosos e em No Time to Die de James Bond, 


Marta Garcia
Espanhola, 21, aos seis anos de idade venceu o Troféu CIK-FIA de Kart e o Trofeo delle Industria em 2015, sendo esta última a corrida de kart mais antiga do mundo, com vencedores anteriores incluindo os campeões mundiais de F-1 Lewis Hamilton e Sebastian Vettel. Participou de teste de Prema F4 organizado pela Ferrari Driver Academy. Antes de sua estreia na F4 em 2016, ela subiu para o kart sênior e terminou em quarto lugar no Campeonato Europeu CIK-FIA. A vitória em Norisring e o pódio em Hockenheim viram a ex-piloto da Renault Sport Academy terminar em quarto lugar no W Series Championship 2019, e ela foi vice-campeã da W Series Sports League em 2020. 
 

 
Miki Koyama
Japonesa, 23, competiu no Campeonato Japonês de F4 da FIA. Ela também ganhou o campeonato feminino da Copa Kyojo em três anos seguidos. Em 2018, ela venceu a convidada e futura companheira de equipe da W Series, Beitske Visser. Antes da W Series, Miki nunca havia competido na Europa, mas realizou performances sólidas, incluindo a volta mais rápida da corrida em Hockenheim e excelentes participações nos treinos em Misano.


Nerea Marti
Espanhola, 19, seu pai construiu uma pista de kart privada quando ela tinha nove anos. Em 2017, ela quebrou recordes ao se tornar a primeira piloto a conquistar o título no Campeonato de Karting de la Comunidad de Valencia. Em 2018, conquistou o campeonato valenciano pela segunda vez e conquistou o segundo lugar no pódio da Série Rotax España. Em 2019, com o apoio dos especialistas em kart Praga Motorsport, ela deu o passo para a Fórmula Carros, competindo com a Fórmula de Campeones no Campeonato Espanhol de F4.


Sabré Cook
Norteamericana, 27, começou a andar de kart aos oito anos e venceu seu primeiro Campeonato Mundial em um kart júnior aos 13 anos. Apenas quatro anos depois, foi a primeira mulher a vencer o Campeonato Nacional Skusa Pro Tour.


Sarah Moore
Inglesa, 27, começou a competir a partir dos oito anos de idade. Sarah participou do Ginetta Junior Championship em 2007 e em 2009 conquistou o título, tendo conquistado cinco vitórias e marcado dezesseis pontos a mais que o vice-campeão. Ela também se tornou a primeira piloto feminina a vencer uma corrida em uma série que fazia parte do pacote TOCA, a primeira vitória de uma série de gênero misto no Reino Unido e foi premiada com o status BRDC Rising Star. Em 2011 avançou para a nova série do Campeonato InterSteps e correu em várias outras séries nos anos seguintes. Em 2019, Sarah combinou suas corridas na W Series com a série Ginetta G50.
Militante LGBTQ+ pretende ajudar a comunidade com sua participação no esporte.


Vicky Piria
Italiana, 27, começou a andar de kart em 2003, competindo principalmente na Itália e progredindo das categorias juniores para a categoria KF3 em 2008. Ela também correu na Fórmula Abarth por dois anos e foi pioneira em competir na GP3 pela equipe Trident. Largou em 16 corridas de GP3 em 2012, depois competiu na Euro 3, terminando em 4º lugar em Jerez e em Le Castellet. Após uma pausa, realizou seu retorno às corridas na W Series em 2019 como a única piloto italiana no Campeonato.


Carlos Alberto Goldani