“O xadrez é um esporte
que, quando praticado com assiduidade, desenvolve a capacidade de ... jogar
xadrez”
Tem uma série de TV disponível no Netflix chamada “O
Gambito da Rainha”, direcionada para pessoas que jogam ou admiram o xadrez, um
esporte, que também pode ser considerado como arte ou ciência. As novas
gerações, habituadas à cultura de comunicações rápidas curtas do Twitter
dificilmente se encantam com o poderio bélico de Torres, a retidão eclesiástica
de Bispos, a agilidade dos Cavalos, a descartabilidade dos Peões para proteção
do rei e ao incomparável poder da Rainha, que são a essência do xadrez.
Os dicionários da língua portuguesa definem o termo
gambito como um substantivo masculino que define um ardil para derrotar um
adversário, um lance inicial do xadrez onde o sacrifício de um peão permite
adquirir uma vantagem posicional ou causar a perda de uma peça importante do
adversário.
As KTM de
Binder e Oliveira sem concessões em 2021
A temporada de 2020 da MotoGP, que alguns consideram
como épica por oportunizar a disputa do título por contendores que seriam considerados
descartados em função dos registros históricos, ou insossa segundo a ótica de
outros por acontecimentos que tiraram o foco de pilotos consagrados, apesar da
pandemia, e de todas as dificuldades, está chegando ao final.
Os registros oficiais dos 72 anos de competições
indicam que houve épocas onde a superioridade de alguns pilotos na classe
principal foi incontestável. Marc Márquez é o recordista por vitórias em uma
única temporada, 13 conquistas em 2014, e ainda compartilha com Mick Doohan o segundo
índice por ano,12 primeiras colocações obtidas por Marc (2019) e por Mick
(1997). Valentino Rossi e Giacomo Agostini compartilham a marca de 11 triunfos
em um único ano, Rossi em 2001, 2002 (Honda) e 2005 (Yamaha) e Agostini em 1972
(MV Agusta). Casey Stoner e Agostini venceram 10 vezes, Stoner em 2
oportunidades (2007 com Ducati e 2011 com Honda) e Agostini em 3 (1968, 1969
& 1970, todas com MV Agusta). Em apenas duas temporadas o mesmo piloto
venceu todas as provas realizadas, John Surtees em 1959 (7 GPs) e Agostini em
1968 (10 GPs), ambos equipados com MV Agusta.
O último grande ponto de inflexão técnica do mundial
de motovelocidade aconteceu em 2002 quando, pressionados por políticas
ambientais, as equipes migraram dos poluidores dois tempos para quatro tempos.
Desde então já foram disputados 325 GPs, dos quais 248 (76,31%) foram vencidos
por apenas 4 pilotos, Rossi, Lorenzo, Stoner, Pedrosa e Márquez.
Nicky Hayden
- Campeão em 2006
Nem sempre foi assim. O histórico do campeonato
mundial contabiliza disputas acirradas, onde o vencedor do título só foi
conhecido na última prova. O mais significativo aconteceu na conquista do norte
americano Nicky Hayden (Kentucky Boy) em 2006. Valentino Rossi estava com
condições amplas de conquistar o título e era necessária uma sequência muito
improvável de eventos para o italiano não emplacar seu sexto campeonato
consecutivo. Nas próprias palavras de Hayden: “Preciso ter muita sorte e Rossi
muito azar”. O inesperado aconteceu, no último GP do ano Rossi caiu, recuperou
a sua Yamaha e conseguiu ainda a 13ª colocação, Hayden fez uma prova
burocrática e com seu 3º lugar garantiu os pontos suficientes para conquistar o
título.
Circuito
Ricardo Tormo – Valência
A estranha temporada de 2020 está próxima do final, as
três últimas provas, duas em Valência e a última no Algarve, devem ocorrer nos
próximos fins de semana, 75 pontos possíveis no total, e o campeonato está em
aberto com, pelo menos, 6 candidatos. A temporada condensada se aproxima do
final com uma vantagem de 14 pontos do líder, em um campeonato de 14 provas, 11
já foram disputadas com 8 vencedores diferentes, 6 pilotos têm chances reais ao
título com a curiosidade do líder da competição ainda não contabiliza nenhuma
vitória.
Joan Mir, piloto da Suzuki nascido em Palma de
Mallorca, lidera em número de pontos o mundial. Em um ano caótico, Mir tem sido
o rei da consistência e ainda persegue a sua primeira vitória na classe
principal. Se conseguir em uma das 3 provas que faltam, a temporada de 2020
deve igualar o recorde de 2016 em número de vencedores (9), se não alcançar
este objetivo e manter a sua regularidade, pode ser o primeiro piloto da classe
principal a conquistar o título sem ter pisado no degrau mais alto do pódio.
Seis pilotos podem ser considerados como candidatos ao
título, além de Mir, Fábio Quartararo, Maverick Vinales, Franco Morbidelli,
Andrea Dovizioso e Alex Rins, 3 Yamaha, 2 Suzuki e 1 Ducati (cadê as
onipresentes Honda?). Uma equipe independente, a Petronas SRT é a única cujos
pilotos já repetiram vitórias, 3 de Quartararo e 2 de Morbidelli, este com um
modelo 2019.
Nunca houve em toda a história da classe principal da
MotoGP um campeão sem pelo menos uma vitória na temporada. Se Mir conseguir
este feito, seu título terá o mesmo valor de um disputado até a última prova
como foi o de Nick Hayden em 2006 ou de um folgado como o último de Marc
Márquez em 2019. O livro de regras da MotoGP define como vencedor da competição
o piloto que durante todos os GPs do campeonato acumular o maior número de
pontos. Vencer corridas é a melhor maneira de acumular pontos e no final do ano
o título é dado ao piloto que tem mais, não para quem obteve mais vitórias,
mais poles ou mais voltas rápidas. Um piloto ter mais vitórias que o campeão
significa apenas que foi mais rápido em algumas provas, mas não foi rápido ou
consistente o suficiente durante toda a temporada. Há quem faça uma alusão à
parábola da lebre e da tartaruga, a lebre é claramente mais rápida, sua
estratégia de corrida é falha e a vitória final é da tartaruga.
Emilio Alzamora
- Campeão mundial de 125cc em 1999 sem nenhuma vitória
Nas classes de acesso existem registros de campeões
mundiais sem vencer durante a temporada. O caso mais recente é o de Emilio
Alzamora, assessor pessoal dos irmãos Márquez, que conquistou o título mundial
de 125cc de 1999 sem vencer nenhum dos 14 GPs. No mesmo ano, seu adversário,
Marco Melandri, venceu cinco. A história de Emilio na temporada de 1999 pode
ser equiparada a uma rua que existe em Copacabana, Rio de Janeiro, chamada
Bulhões de Carvalho, que o bom humor carioca rebatizou como “Quase-Quase”.
Alzamora quase foi vitorioso em diversas ocasiões, ficou a 0,10 seg em Sepang,
0,01 seg em Barcelona, 0,18 seg em Sachsenring. Na prova final em Buenos Aires,
Melandri venceu Alzamora por uma fração de segundo, porém não foi o suficiente.
No final da temporada o mentor dos irmãos Márquez acumulou 227 pontos, 1 a mais
que Melandri (226). Dez anos antes, Manuel Herreros ganhou o último título
mundial das 80cc com uma Derbi sem vencer uma única corrida, supreendentemente
o seu vice-campeão Stefan Dorflinger também terminou a temporada sem vitória. O
homem mais rápido do ano o foi Peter Ottlque venceu 3 GPs, mas não conseguiu
terminar outros 2, enquanto Herreros e Dorflinger marcaram pontos em todas as 6
provas da temporada. Motociclismo esportivo não é uma competição só de
velocidade, a confiabilidade dos pilotos e equipamentos também é importante.
Xadrez e MotoGP têm algo em comum, a estratégia é
fundamental. Evitar quedas e marcar pontos é mais importante que eventuais
vitórias, como deve ter aprendido o 6 vezes campeão do mundo (na principal
categoria) Marc Márquez. O espanhol vacilou em Jerez estava com o pódio
garantido e tentou vencer, caiu e fraturou o braço, está pagando um preço muito
alto.
Não há registros de fraturas em jogadores de xadrez
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