Última volta em Phillip
Island
Tempos
atrás havia na mídia impressa um comercial de uma marca de uísque interessante,
uma fotografia de uma modelo de costas, ocultando uma garrafa do produto com o
seguinte chamada: “O que você pode dar para quem tem tudo é um pouco mais do
que ele já tem”.
Quem acompanha o esporte de duas rodas tenta
imaginar o que Marc Márquez ainda pode realizar na MotoGP neste final de
temporada. O título mundial, sexto na classe e quarto consecutivo, foi
conquistado na Tailândia com antecedência de 4 provas. O título de fabricantes
para a Honda foi confirmado em Motegi com uma antecipação de 3 provas. A
competição por equipes ainda é liderada pela Ducati Team que acumula 409
pontos, 240 de Andrea Dovizioso e 169 de Danilo Petrucci, a Repsol Honda tem
408, 375 dos quais obtidos por Márquez (Jorge Lorenzo contribuiu com 23 e
Stefan Bradl com 10), o campeão já declarou que vai atrás também deste título.
Antes do GP da Austrália equipe italiana tinha uma vantagem de 17 pontos, os 25
da obtidos em Phillip Island menos os 9 da 7ª colocação de Dovizioso reduziram
a diferença para apenas 1, Lorenzo e Petrucci não pontuaram.
A etapa de Phillip Island foi complicada por
problemas do clima, chuva e ventos fortes alteraram a rotina dos pilotos e as
tomadas de tempo para formação do grid de largada foram postergadas para o dia
de realização da prova. Em termos de estratégia Márquez não alterou o seu
padrão, utilizou os testes livres para evitar o Q1 e trabalhou na adequação da
moto para a prova sem a preocupação de marcar tempos. Uma queda de Quartararo
no TL1 obrigou o francês a ausentar-se do TL2 e permitiu os protagonismos de
Yamaha de Maverick Vinales e da Ducati de Jack Miller na sexta-feira. Vinales
comandou os testes livres no sábado e ficou com a pole no domingo,
compartilhando a primeira fila com Quartararo e Márquez.
A largada foi confusa, Valentino Rossi pulou da 6ª
posição para a liderança, Danilo Petrucci foi catapultado da moto (highside) na
2ª curva e, na queda, tirou a Yamaha de Quartararo da prova. Cal Crutchlow com
uma Honda e Andrea Iannone com uma inesperada Aprilia ocuparam as posições
seguintes. Rossi liderou por 3 giros, Iannone por um pequeno trecho e Crutchlow
por nove voltas, até a disputa ficar reduzida entre Vinales e Márquez. Os dois
livraram alguma diferença do 3º, Crutchlow, que por sua vez abriu sobre os
demais.
Existe uma regra não escrita que motores V4 (Honda,
Ducati, Aprilia & KTM) entregam maior torque, apresentam maior velocidade
final em retas, e propulsores com cilindros em linha (Yamaha & Suzuki)
proporcionam melhor desempenho em curvas. Não foi o que aconteceu na prova, nas
16 voltas seguintes Márquez não procurou ultrapassar Vinales na grande reta e o
piloto da Yamaha não conseguiu abrir uma distância confortável nos trechos
sinuosos. Foi a reedição de um roteiro conhecido, já aconteceu em Silverstone
quando Rins ficou na perseguição de Márquez e o venceu na última volta, em
Misano e Buriram Márquez não permitiu a fuga de Quartararo e o ultrapassou nos
momentos finais de ambas as provas. Até as gaivotas que sobrevoavam o circuito
sabiam que o campeão ultrapassaria com a força do motor na última vez que
percorresse a longa reta, foi o que aconteceu e, ao tentar retomar a posição no
trecho sinuoso, Vinales se excedeu e caiu. Márquez ficou com a pista livre para
obter a sua 11ª vitória nesta temporada, Cal Crutchlow herdou a 2ª posição com
um atraso de mais de 11 segundos do líder e o australiano Jack Miller (3º)
ficou muito feliz em obter um lugar no pódio em seu GP caseiro.
O resultado final apresentou algumas surpresas,
Peco Bagnaia conduziu sua Ducati (Pramac) para a 4ª posição, a Suzuki de Joan
Mir ficou em 5º, seguido da surpreendente Aprilia de Iannone (6º) e da Ducati
de Dovizioso (7º). A Yamaha de Valentino Rossi, que entusiasmou o público no
início da prova, ficou com a 8ª colocação, na frente de Rins (Suzuki) e da
segunda Aprilia de Aleix Espargaro. Foi a primeira vez em muitas provas que Valentino
conduziu a Yamaha melhor colocada na classificação final.
Enquanto o desempenho da Aprilia, duas máquinas
entre os 10 primeiros, foi digno de elogios, a ausência da KTM no Top 10 foi a
decepção do dia,. Talvez a única alegria para a fábrica austríaca tenha sido
Pol Espargaro que, disputando a 12ª posição, bateu Johann Zarco em sua estreia
na Honda por 0,1 segundo. Jorge Lorenzo prosseguiu em seu calvário e finalizou
a prova com um intervalo superior a 1 minuto do líder.
Este fim de semana foi particularmente ilustrativo
porque proporcionou a oportunidade de comparar duas concepções de circuitos
para esportes motorizados. Na Austrália foi realizada a etapa da MotoGP em
Phillip Island, um cenário paradisíaco onde o traçado é da escola antiga,
construído privilegiando competições e não projetado para oferecer espetáculos
ao público. No mesmo dia a Fórmula 1 visitou o circuito Hermanos Rodriguez na
Cidade do México, uma pista reconstruída com base no antigo autódromo,
introduzindo cantos geométricos e criando um desenho adequado para servir de
palco para espetáculos com grande número de espectadores. Na reforma o
autódromo mexicano perdeu um dos seus pontos mais representativos, a Curva
Peraltada, e ganhou uma passagem pelas arquibancadas de um antigo estádio de
beisebol para proporcionar um desfile de carros para os espectadores. A
Peraltada era uma longa curva de 180º que antecedia a reta principal, de certa
forma semelhante a Parabólica do Circuito de Monza. Segundo o projetista
Hermann Tilke, responsável pela readequação do Hermanos Rodriguez, a curva foi
descaracterizada por motivo de segurança, não haveria espaço do lado externo
para área de escape.