segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MotoGP - Números de Vitórias por Nacionalidade do Piloto


O Mundial de Motovelocidade regulamentado pela Federação Internacional de Motociclismo começou em 1949 e já contabilizou 3.039 provas nas diversas categorias.

O quadro abaixo indica o número de vitórias por nacionalidade do piloto. A simples análise indica porque a MotoGP não é acolhida pela grande mídia, o Brasil tradicionalmente elege como esporte nacional, além do futebol, qualquer modalidade onde um tupiniquim seja campeão mundial. Já fomos o país do Tênis na época de Gustavo Kuerten, o país adotou discutiu detalhes de regras da F1 no auge das performances de Emerson Fittipaldi, Nélson Piquet e Ayrton Senna, nos dias atuais existe a demanda por notícias do Campeonato Francês de futebol, lutas MMA e Surf.

No quadro geral dos vencedores do mundial de motovelocidade o país conta com apenas 8 (oito) vitórias, 7 de Alex Barros, 4 na classe 500cc entre 1993 e 2001 e 3 na MotoGP entre 2002 e 2005, e uma de Adu Celso-Santos na classe 350cc em 1973. O Brasil se situa em 23º lugar entre os 28 países com vencedores, junto com Portugal, terra natal de Miguel Oliveira, que venceu as duas últimas etapas da Moto2.

Os números abaixo estão atualizados até 29/10/2017.



Colocação 
País
Vitórias
1
Itália
781
2
Espanha
578
3
Grã Bretanha
382
4
Alemanha
190
5
Austrália
180
6
Japão
174
7
Estados Unidos
173
8
França
86
9
Suíça
77
10
Rodésia
70
11
Holanda
57
12
África do Sul
46
13
Finlândia
40
14
Venezuela
35
15
Nova Zelândia
31
16
Irlanda
28
17
Suécia
23
18
San Marino
16
19
Hungria
13
20
Áustria
13
21
Bélgica
9
22
Argentina
9
23
Brasil
8
24
Portugal
8
25
Checo-Eslováquia
4
26
República Checa
3
27
Canadá
3
28
Malásia
2
Total de GPs
3.039



MotoGP – Interferência Extra-Pista

Mensagem para Lorenzo em Sepang


Em 1956 o então tricampeão argentino de Fórmula 1 Juan Manuel Fangio trocou a Mercedes, equipe em que conquistou os títulos de 1954 e 1955, pela Ferrari. Na prova de abertura da temporada realizada no circuito de Buenos Aires o carro de Fangio sofreu uma pane mecânica, a equipe mandou o piloto um dos carros Ferrari ceder o lugar para o argentino, procedimento permitido pelo regulamento da época, que venceu a corrida. Este exemplo mostra a linha de raciocínio dos gestores italianos de equipes em competição, independente das eventuais aspirações dos pilotos, as decisões do box devem ser seguidas. Os exemplos são inúmeros, os mais acintosos para os torcedores brasileiros foram quando Barrichello teve uma vitória sonegada no GP da Áustria em 2002 cedendo a posição para Michael Schumacher e no GP da Alemanha em 2010 onde Felipe Massa foi preterido em favor de Fernando Alonso.



A MotoGP sempre foi um esporte solitário, depois da largada todas as decisões eram tomadas exclusivamente pelos pilotos, as placas exibidas no muro da linha de chegada eram a única comunicação possível entre as motos na pista e o apoio nos boxes. Esta condição começou a mudar depois do GP da Alemanha em 2016, relembrando, a corrida iniciada em pista úmida foi vencida por Marc Márquez depois de uma troca prematura para pneus slick. Na ocasião as outras equipes monitoraram os seus tempos de volta e identificaram uma grande vantagem, então sinalizaram com placas para seus pilotos entrarem nos boxes para trocar de equipamento. Envolvidos em uma disputa feroz na pista, diversos pilotos relutaram em cumprir a determinação, a moto da Honda em diversas voltas andou mais de 7 segundos mais rápida que os até então líderes e obteve uma vitória tranquila. Depois da prova Valentino Rossi, um dos que não atenderam a indicação dos boxes e ficaram na pista, reclamou da precariedade da comunicação entre a equipe e o piloto durante uma corrida. O Regulamento Geral da Competição de 2017 incluiu a possibilidade de o piloto receber pequenas mensagens de texto em seu painel com a prova em andamento. É uma distração para o condutor e na primeira vez que foi utilizado não funcionou direito, a equipe sinalizou para Scott Redding a necessidade de cumprir uma penalização de “pass through” e o piloto não viu, acabou recebendo bandeira preta. Na prova de Phillip Island o mesmo Redding recebeu uma indicação da Ducati para não prejudicar a corrida de recuperação que Dovizioso fazia, a ordem não foi cumprida.



Em Sepang a Ducati divulgou para os pilotos das oito motos da fábrica na pista, equipes oficial, Aspar, Pramac e Avintia, a orientação que deviam facilitar a corrida de Dovizioso. Durante a prova, faltando menos de 6 voltas para o final, a Ducati sugeriu ao líder Jorge Lorenzo que utilizasse o mapeamento número 8, duas voltas depois o piloto errou (?) uma tomada de curva e permitiu a ultrapassagem de Dovizioso, manobra que postergou a decisão do mundial para a última prova em Valência.



Não existe uma simetria no relacionamento entre as fábricas e equipes satélites. A Tech3, que utiliza equipamentos Yamaha, não tem nenhuma subordinação da equipe oficial. Quando Rossi foi obrigado a ficar afastado de uma etapa em função de um acidente, houve um rumor que sua ausência poderia ser coberta por Johann Zarco, que tem obtido ótimos resultados na condução de uma M1 modelo 2016. Esta possibilidade foi descartada pelo gestor da equipe, que justificou compromissos com seus colaboradores e patrocinadores para não ceder seu principal piloto. A Honda tem uma relação peculiar com a LCR, inclusive para viabilizar um segundo piloto em 2018 assumiu o compromisso de bancar o salário de Cal Crutchlow, que já participa ativamente do desenvolvimento da RC213V. As relações com a Marc VDS, a outra equipe satélite, são protocolares.



A Ducati, que disponibiliza o maior número de equipamentos no grid, promove reuniões pré e pós todas as etapas com os pilotos de seus protótipos, apresentando sugestões e recebendo feedback. Scott Redding, piloto da Octo Pramac não obedeceu a orientação de facilitar a prova de Dovizioso em Phillip Island, realizando uma ultrapassagem nos segundos finais enquanto disputava posição com Dani Pedrosa. Em retaliação o piloto, que já tem contrato assinado com a Aprilia para 2018, não foi convidado para participar da avaliação final.



Não existem dúvidas sobre a importância deste campeonato para a Ducati, cujo único título da fábrica na MotoGP foi obtido em 2007 com Casey Stoner. A equipe investiu pesado em infraestrutura de desenvolvimento e apoio, e uma montanha de dinheiro para contar com o talento do tricampeão Jorge Lorenzo. Os resultados estão surgindo, já são seis as vitórias na temporada e, embora a vantagem do atual campeão seja imensa (21 pontos faltando só uma prova), existe a possibilidade matemática de em Valência um piloto Ducati, ainda mais um italiano, conquistar o título de campeão do mundo.  



A interferência externa está chegando nas pistas da MotoGP, não mais para administrar apenas conflitos pessoais como aconteceu em 2015 entre Rossi e Márquez ou em 2016 entre Rossi e Lorenzo. Os últimos eventos identificam a aplicação de políticas de fabricantes nos resultados das provas.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

MotoGP & Fórmula 1 – Espetáculos Diferentes


Disputa pela liderança na 14ª volta

Em provas de velocidade o conceito de ultrapassagem é definido como "todas as manobras realizadas em voltas rápidas (excluindo a volta de largada), onde uma posição obtida é mantida. Neste conceito não são computados eventos causados por acidentes, problemas mecânicos ou quando um piloto consegue ou desconta uma volta de vantagem”.

A F1 implementa diversos recursos para proporcionar o maior número possível de ultrapassagens em um GP, o mais evidente é o Sistema de Redução de Arrasto (DRS - Drag Reduction System) ou “abrir a asa” na descrição singela dos locutores que ancoram as transmissões de TV, uma tecnologia cuja finalidade é alterar o perfil aerodinâmico dos carros para proporcionar maior velocidade em retas. Outros recursos podem ser comandados pelo piloto (sobre alimentação temporária resultando em maior potência) ou estratégias definidas nos boxes como a utilização de pneus com maior aderência. A própria exigência de pelo menos uma parada obrigatória e o uso de mais de um tipo de pneu por prova pode ser entendida como um estímulo para a troca de posições.

Um relatório da Pirelli, fornecedora exclusiva para a F1, indica que em 2016 na temporada mais longa da história com 21 GPs, o holandês Max Verstappen foi o piloto que protagonizou o maior número de ultrapassagens, 78. O britânico Lewis Hamilton foi o destaque em uma única competição no GP da China, largou em último lugar e realizou 18 manobras para ganhar posições. Pelos critérios do fabricante, em 2016 foram realizadas 866 ultrapassagens, uma média de 41,2 por corrida.

Embora os critérios não sejam os mesmos, estes números comparados com a MotoGP mostram porque as provas com motocicletas estão angariando tantos adeptos.  O GP da Austrália de 2015 já foi considerado um dos melhores de todos os tempos, por sua importância na definição do campeonato e por ter apresentado 52 trocas de posições entre os quatro primeiros colocados durante as suas 27 voltas. Estes números foram superados no GP deste ano por sete pilotos correndo praticamente juntos, passando e repassando uns aos outros um total de 73 vezes durante a prova. Um número expressivo considerando que uma etapa da MotoGP dura em média a metade do tempo de uma prova da F1, em torno de 45 minutos, e os equipamentos não contemplam ajustes aerodinâmicos variáveis ou outros recursos para facilitar ultrapassagens.

Outro ponto onde a MotoGP e a F1 diferem é nas orientações dos boxes. Enquanto o mundo testemunhou a troca acintosa de posições entre Vettel e Raikkonen no Circuito das Américas, em Phillip Island Valentino Rossi sepultou as chances matemáticas de seu companheiro de equipe conquistar o título mundial ao cruzar a linha de chegada 0,027 segundos na sua frente. No Box da Ducati houve um mal-estar porque o britânico Scott Redding descumpriu uma orientação para ceder a sua posição para o postulante ao título Andrea Dovizioso, em tempo, a posição em questão era a 11ª e havia um terceiro (Dani Pedrosa) envolvido.
Chegada de Redding, Pedrosa & Petrucci

A realização do GP das Américas de Fórmula 1 e da etapa da MotoGP na Austrália no mesmo domingo (22/10) proporcionou a oportunidade de comparar os dois eventos, em termos de competitividade as duas rodas apresentam um espetáculo mais sedutor.




segunda-feira, 23 de outubro de 2017

MotoGP - Phillip Island 2017



Circuito de Phillip Island - Austrália


Phillip Island é uma ilha de pouco mais de 10 mil hectares situada no sul da Austrália, ligada ao continente por uma ponte de 640 m. A economia local é baseada em turismo, criação de ovelhas e fazendas de gado. A população fixa gira em torno de 10 mil habitantes e pode exceder a 40 mil no verão. A ilha recebeu a sua primeira prova oficial de motovelocidade em 1990 e desde 1997 hospeda uma das etapas da MotoGP. Situado na beira do mar e com um clima instável, o circuito é de alta velocidade caracterizado por amplas curvas, é o que menos exige os freios em todo o calendário.

O circuito de Phillip Island tem um longo histórico de provas sensacionais. Em 2013 o “rookie” Marc Márquez liderava o mundial com 298 pontos contra 255 do então campeão Jorge Lorenzo, o circuito havia sido recapado e o fornecedor de pneus, Bridgestone, identificou que não tinha como fornecer um produto que resistisse mais de 10 voltas no asfalto muito abrasivo. O GP foi encurtado de 27 para 19 voltas, com troca de moto obrigatória na 10ª. O pessoal de apoio da Honda interpretou errado as orientações da direção da prova, Márquez foi desclassificado com uma bandeira preta e o campeonato só foi decidido na última prova.

A etapa de 2015 é considerada uma das melhores de todos os tempos. A disputa do mundial estava restrita aos dois pilotos da Yamaha Rossi e Lorenzo e ambos, mais a Ducati de Iannone e a Honda de Márquez, revezaram-se na liderança durante toda a prova. A volta final foi fantástica, iniciou com um posicionamento dos pilotos que pareceu definido, Lorenzo liderava seguido por Márquez, Rossi e Iannone. Nos últimos metros tudo mudou, Márquez e Iannone ultrapassaram as Yamaha e terminaram respectivamente em primeiro e terceiro, Rossi ficou fora do pódio.

As marcas da batalha

A corrida deste ano foi, de longe, a mais imprevisível e a mais agressiva da temporada. Durante toda a competição houve disputas acirradas entre diversos pilotos pela liderança, nem sempre amistosas. No parque fechado, onde após o encerramento se reúnem os três primeiros colocados e o melhor das equipes independentes, os pilotos ostentavam marcas de borracha de pneus nos macacões e a rabeta da Honda de Márquez foi danificada por uma colisão. Há um sentimento de desconforto entre os pilotos com o comportamento agressivo do francês Johann Zarco, que tem obtido bons resultados com uma Yamaha M1 2016 da Tech3. Lorenzo e Rossi já tiveram problemas com ele por manobras arrojadas que resultaram em contato durante disputas. Na prova da Austrália este ano ele voltou a apresentar o mesmo comportamento e aparentemente contaminou os outros pilotos, em sua entrevista no final da corrida no Parc Fermé Valentino Rossi, o segundo colocado, afirmou que "quando todos estão muito agressivos, a única opção é ser tão ou mais estúpido que eles".
Marc Marquez (Repsol Honda) foi o vencedor de uma das corridas mais incríveis de todos os tempos, oito pilotos andaram juntos disputando a liderança até as voltas finais. Durante a prova o atual campeão do mundo, depois de combinar com a sua equipe que não queria ser distraído com informações sobre a posição de Andrea Dovizioso na prova, foi flagrado pela TV procurando o adversário quando contornava a curva 4, que proporciona uma visão privilegiada da pista.
Para a Ducati, que está realizando uma temporada maravilhosa este ano, a etapa da Austrália foi o pior dos pesadelos. A melhor colocação de uma das oito motos da fábrica italiana que disputaram a competição foi a 11ª obtida por Scott Redding da satélite Pramac, as motos da equipe oficial classificaram-se em 13º (Dovizioso) e 15º (Lorenzo). Depois da conclusão da prova o inglês (Redding) revelou que havia recebido pelo painel de controle uma orientação para não prejudicar a ultrapassagem de Dovizioso, que fazia uma corrida de recuperação depois de um erro seu no início da prova, entretanto a disputa com Pedrosa na reta final o impediu de colaborar com a pontuação do colega.
A evolução das motos nesta temporada está alterando características básicas dos fabricantes, o desenvolvimento da RC123V baseado na aderência absurda do pneu dianteiro da Bridgestone havia estabelecido uma vantagem significativa para as Honda em frenagens, os Michelin transferiram esta propriedade para as Ducati, que encontraram nos novos compostos uma condição favorável para domar a potência de seus motores. Nas últimas provas as máquinas italianas tem sido as mais eficientes na redução de velocidade, entretanto este detalhe não pode ser explorado em Phillip Island porque o traçado do circuito não contempla frenagens expressivas. Muito da evolução da Ducati, KTM, e de certa maneira também da Honda, está centrada na excelência dos que testam os equipamentos, estas equipes na prática já implementam o conceito de terceiro piloto. Os ajustes na GP 17 contam, além de Lorenzo e Dovizioso, com a colaboração de Danilo Petrucci, Mika Kallio auxilia Pol Spargaro e Bradley Smith na KTM e a Honda segue na mesma linha, a máquina de Cal Crutchlow é idêntica a utilizada por Márquez e Pedrosa. Talvez explique em parte a pouca evolução da M1 2017 da Yamaha, que vem sendo incomodada pelos resultados do modelo 2016 da Tech3.
Existe uma parábola sobre um copo pela metade, o otimista diz que está meio cheio, o pessimista meio vazio e um engenheiro o define como mal dimensionado para a sua real necessidade. Da mesma forma existem três modos de prever o resultado do mundial deste ano, para alguns o título já está decidido, 33 pontos é uma diferença impossível de descontar em duas provas, outros entendem que tudo pode acontecer, até Márquez não completar as provas restantes, o mais seguro é seguir a orientação do filósofo tupiniquim Abelardo Barbosa, “Só acaba quando termina”.
Os resultados das pistas costumam ser imprevisíveis, em 2016 para Márquez conquistar o título com antecipação em Motegi era necessário um conjunto de eventos altamente improvável, vencer a prova e os dois pilotos da Yamaha, também candidatos, não marcarem pontos. Pela primeira vez em muitos anos os dois equipamentos de uma equipe ainda na disputa caíram em uma mesma prova e o piloto da Honda conquistou o troféu. Em 2006 na última etapa da temporada em Valência, Valentino Rossi encaminhava seu sexto título consecutivo ao iniciar a prova com 8 pontos a mais que Nicky Hayden, seu mais próximo concorrente. No encontro com a imprensa que antecede aos GPs o americano declarou que tudo o que precisava era um dia perfeito para ele e muito ruim para o italiano. Valentino caiu durante a prova, recuperou o equipamento e conseguiu a 13ª colocação, Hayden ficou em 3º e foi campeão por 5 pontos, o mesmo número que Rossi havia perdido na prova anterior (Estoril) para Toni Elias, por exatos 0,002 segundos.


terça-feira, 3 de outubro de 2017

WSBK - SSP 300 Ana Carrasco Faz História


Chegada eletrizante em Portimão



Ana Carrasco Gabarrón como se escreve na Espanha, Gabarrón é o nome da família da mãe, é uma garota de apenas 20 anos que fez história no motociclismo esportivo, de novo. Ana nasceu em março de 1997, ganhou sua primeira minimoto aos 3 anos e participou de sua primeira prova em um campeonato oficial em 2011 com apenas 14 anos. Foi a primeira representante do sexo feminino que conseguiu pontuar na classe 125cc disputando o campeonato espanhol de velocidade. Migrou em 2013 para a Moto3 disputando o mundial pela equipe Calvo, onde compartilhou o box com Maverick Vinales. Em sua primeira temporada pontuou no GP da Malásia, o primeiro registro de pontos de uma piloto em uma prova do mundial promovido pela FIM desde que a alemã Katja Poensgen, em 2001, classificou-se em 14º na classe 250cc do GP da Itália. Ana esteve neste mesmo ano (2013) na zona de pontuação no último GP da temporada em Valência com um oitavo lugar. Participou da Moto3 nas temporadas de 2013 a 2015, disputando um total de 46 GPs e pontuando em apenas dois.

Em 2016 participou sem brilho do campeonato Europeu de Moto2 e em 2017 foi inscrita no Mundial de Supersport 300, uma série de criada nesta temporada para fornecer oportunidades para pilotos promissores. Este ano ela se tornou a primeira mulher a vencer uma corrida em um campeonato mundial patrocinado pela FIM, a primeira prova da sétima rodada da série SSP 300 realizada em 17/09 no Autódromo Internacional Algarve, a 12 km de Portimão, Portugal.

Ana pilotou uma Kawasaki Ninja 300 e venceu a corrida mais eletrizante das onze realizadas na etapa, partiu da terceira posição no grid e disputou a liderança durante toda a prova, cruzando a linha de chegada com 0,057 segundos à frente de Afonso Coppola e 0,062 segundos de Marc Garcia, ambos com motos Yamaha YZF-R3. Na entrevista obrigatória do final da etapa a espanhola mostrou uma serenidade incompatível com a sua idade e o tamanho da sua realização, agradeceu aos membros de sua equipe e a todos os patrocinadores que lhe proporcionaram a oportunidade de competir em condições de igualdade com todos os outros pilotos.

Alguns atribuem a Ana Carrasco vantagens indevidas em função da sua compleição diminuta, ela pesa apenas 53 kg e mede 1,56 m de altura. Estes mesmos argumentos foram utilizados para criticar Dani Pedrosa no início de sua carreira em 2001, ele pesa 51 kg, tem 1,60 m e contabiliza pelo menos uma vitória por temporada nos 16 anos que participa da MotoGP. Não há como entender benefícios em ser leve e pequena para controlar uma Kawasaki Ninja 300 de 164 kg em uma prova da classe SSP 300 da WSBK.

O espanhol Marc Garcia é o atual líder do campeonato com 126 pontos, seguido do italiano Afonso Coppola com 122. Ana Carrasco está na nona colocação com 57 pontos.

Ana Carrasco no Parc Fermé em Portimão
Ana Carrasco 


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

MotoGP – A Fila Anda

Vinales, Márquez & Rossi


Pelé havia decidido encerrar a sua carreira e disputava seus últimos compromissos pelo Santos. A equipe venceu um jogo complicado na Vila Belmiro pelo placar mínimo, com um gol extraordinário de um rapaz chamado Lairton. Uma bola foi alçada e, a uns cinco metros da linha da grande área, o atacante conseguiu um voleio com ela ainda no ar acertando o ângulo da meta adversária, lá onde os locutores mais estilosos costumam dizer que “a coruja dorme”. Depois do jogo encerrado um repórter mais afoito aproximou-se para entrevistar o jogador e fez a seguinte colocação: “Belo gol, você deu muita sorte no lance”. Decepcionado, Lairton respondeu: “Veja como são as coisas, se fosse o crioulo com a número dez (na época não era crime racial chamar um afrodescendente de crioulo) vocês diriam ter sido um golaço do rei, como foi o Lairton, deu sorte”. Assim é a vida, é complicado para uma pessoa ter o seu talento reconhecido em um esporte onde existe um ídolo consolidado, reconhecido e adorado pelas massas.  

Além se suas inegáveis qualidades, a evolução das comunicações transformou Valentino Rossi em um dos pilotos com maior sucesso em todos os tempos. Rossi é um multicampeão mundial, com sete títulos na classe principal e dois conquistados nas categorias menores. Sua carreira sempre foi vitoriosa, começou a correr no mundial da FIM com uma Aprilia 125cc em 1966, conquistou seu primeiro título mundial já em 1997. Evoluiu para a 250cc ainda com a Aprilia em 1998 e venceu a temporada do ano seguinte. No início da década de 2000 enfileirou títulos em série na classe de elite, 500cc com Honda em 2001, MotoGP em 2002 e 2003 com Honda e em 2004 e 2005 com Yamaha. Depois de perder os títulos de 2006 (Nicky Hayden - Honda) e 2007 (Casey Stoner - Ducati), Valentino retomou o protagonismo em 2008 e 2009, seus últimos mundiais. Depois de 5 anos sem sucesso, Rossi esteve próximo de vencer em 2015, liderando a maior parte do campeonato e sendo ultrapassado no número de pontos por Jorge Lorenzo na última prova da temporada, depois de ter sido penalizado para largar do fim do grid por uma manobra controversa envolvendo Marc Márquez na etapa anterior na Malásia.

Integrante da restrita elite de pilotos desde 2000, este ano ao vencer em Assen no GP da Holanda Valentino agregou mais um recorde em sua já extensa coleção, aos 38 anos de idade é o piloto mais velho a vencer um GP na classe principal, superando a antiga marca do australiano Troy Bayliss.

Um currículo com tanta densidade criou rivalidades históricas, talvez a mais acirrada tenha sido com Max Biaggi que se iniciou na década de 90 atingiu o seu ponto máximo em 2001 durante a etapa do GP do Japão, na prova Biaggi realizou uma manobra arriscada que poderia ter tirado Rossi da pista. Voltas depois ao ultrapassar o desafeto, a TV mostrou para todo o mundo Rossi mostrando o dedo médio na vertical para o rival. Na mesma temporada na Catalunha, ambos os pilotos partiram para o que o jargão policial chama de “vias de fato” durante a cerimônia de premiação no final da prova de 500cc, conflito que incluiu alguns participantes das equipes.

Rossi arregimentou uma legião de torcedores por todo o planeta ao personificar um atleta vitorioso, um homem de negócios de sucesso e uma pessoa sociável, como se costuma exemplificar, o genro que toda a mãe gostaria de ter. Herdou o número 46 da moto utilizada por seu pai em uma curta carreira e foi o segundo piloto a recusar a honra de utilizar o número 1, exclusiva do vencedor da temporada anterior (Barry Sheene foi o primeiro). O ídolo italiano percebeu que conservar o seu número habitual como campeão fortalece o apelo comercial de sua marca registrada (VR46).

Valentino tem algumas excentricidades, o seu macacão de competições ostenta um adesivo com as letras WLF sem uma explicação oficial, à boca pequena comenta-se que seja o acrônimo de uma referência chula (“ViVa La Figa” – uma expressão italiana que pode ser traduzida como “longa vida à vagina”). O piloto não foi enquadrado pelos rígidos regulamentos da MotoGP porque a primeira letra é um W e não dois “V”s, o que desautoriza a associação com a frase. Rossi é supersticioso e cumpre alguns rituais como, por exemplo, o alongamento antes de montar na moto, a meditação agachado junto ao equipamento e um último ajuste em seu macacão em pé com a moto já no pit lane. Ele utiliza sempre a mesma ordem de sequência para calçar luvas e botas, só monta no equipamento por seu lado direito. Desde o início de sua carreira Rossi utiliza exclusivamente vestuário e dispositivos de proteção produzidos pela Dainese. Entre 1996 e 1997 a concorrente Alpinestars foi patrocinadora de sua equipe, porém forneceu para ele somente as botas, a Yamaha onde esteve entre 2003 e 2010 e deste 2013 até os dias atuais utiliza oficialmente os produtos Alpinestars, a Ducati (2011 e 2012) tinha contrato com a Puma, em todo este tempo Rossi honrou a sua associação com a com o fabricante italiano e sempre usou produtos Dainese.

O reconhecimento de Valentino no mundo do motociclismo esportivo atual é semelhante ao de Pelé no futebol em anos passados. Assim como aconteceu com o Rei do Futebol, o ocaso do ídolo fatalmente vai acontecer, sua ascendência no esporte já é questionada e existem pilotos que apresentam capacidade igual ou superior a do italiano. Na atual safra de espanhóis, por exemplo, o talento precoce de Marc Márquez e a eficiência espartana de Jorge Lorenzo colecionam vitórias sobre Rossi nos últimos anos, embora nenhum deles seja páreo para seu carisma. Nesta temporada, os resultados do seu “padawan” Maverick Vinales superam os obtidos pelo velho mestre.

As transmissões do mundial de MotoGP para o Brasil estão atreladas a uma única emissora de TV, centradas em um locutor e um comentarista. Ambos são entusiastas, preparados e desempenham bem as suas funções, embora por vezes não disfarcem a simpatia por Valentino Rossi. As coberturas oficiais da MotoGP (streaming pela Internet) e da BT Sports (parabólicas) são mais ricas em informações e não privilegiam qualquer piloto.