Circuito de Phillip Island - Austrália |
Phillip Island é uma ilha de pouco mais de 10 mil
hectares situada no sul da Austrália, ligada ao continente por uma ponte de 640
m. A economia local é baseada em turismo, criação de ovelhas e fazendas de
gado. A população fixa gira em torno de 10 mil habitantes e pode exceder a 40
mil no verão. A ilha recebeu a sua primeira prova oficial de motovelocidade em
1990 e desde 1997 hospeda uma das etapas da MotoGP. Situado na beira do mar e
com um clima instável, o circuito é de alta velocidade caracterizado por amplas
curvas, é o que menos exige os freios em todo o calendário.
O circuito de Phillip Island tem um longo histórico
de provas sensacionais. Em 2013 o “rookie” Marc Márquez liderava o mundial com
298 pontos contra 255 do então campeão Jorge Lorenzo, o circuito havia sido
recapado e o fornecedor de pneus, Bridgestone, identificou que não tinha como fornecer
um produto que resistisse mais de 10 voltas no asfalto muito abrasivo. O GP foi
encurtado de 27 para 19 voltas, com troca de moto obrigatória na 10ª. O pessoal
de apoio da Honda interpretou errado as orientações da direção da prova, Márquez
foi desclassificado com uma bandeira preta e o campeonato só foi decidido na
última prova.
A etapa de 2015 é considerada uma das melhores de
todos os tempos. A disputa do mundial estava restrita aos dois pilotos da Yamaha
Rossi e Lorenzo e ambos, mais a Ducati de Iannone e a Honda de Márquez,
revezaram-se na liderança durante toda a prova. A volta final foi fantástica,
iniciou com um posicionamento dos pilotos que pareceu definido, Lorenzo
liderava seguido por Márquez, Rossi e Iannone. Nos últimos metros tudo mudou,
Márquez e Iannone ultrapassaram as Yamaha e terminaram respectivamente em
primeiro e terceiro, Rossi ficou fora do pódio.
As marcas da batalha |
Marc Marquez (Repsol Honda) foi o vencedor de uma
das corridas mais incríveis de todos os tempos, oito pilotos andaram
juntos disputando a liderança até as voltas finais. Durante a prova o atual
campeão do mundo, depois de combinar com a sua equipe que não queria ser distraído
com informações sobre a posição de Andrea Dovizioso na prova, foi flagrado pela TV
procurando o adversário quando contornava a curva 4, que proporciona uma visão
privilegiada da pista.
Para a Ducati, que está realizando uma temporada
maravilhosa este ano, a etapa da Austrália foi o pior dos pesadelos. A melhor
colocação de uma das oito motos da fábrica italiana que disputaram a competição foi a
11ª obtida por Scott Redding da satélite Pramac, as motos da equipe oficial classificaram-se
em 13º (Dovizioso) e 15º (Lorenzo). Depois da conclusão da prova o inglês (Redding)
revelou que havia recebido pelo painel de controle uma orientação para não
prejudicar a ultrapassagem de Dovizioso, que fazia uma corrida de recuperação
depois de um erro seu no início da prova, entretanto a disputa com Pedrosa na
reta final o impediu de colaborar com a pontuação do colega.
A evolução das motos nesta temporada está alterando
características básicas dos fabricantes, o desenvolvimento da RC123V baseado na
aderência absurda do pneu dianteiro da Bridgestone havia estabelecido uma vantagem
significativa para as Honda em frenagens, os Michelin transferiram esta propriedade
para as Ducati, que encontraram nos novos compostos uma condição favorável para
domar a potência de seus motores. Nas últimas provas as máquinas italianas tem
sido as mais eficientes na redução de velocidade, entretanto este detalhe não pode
ser explorado em Phillip Island porque o traçado do circuito não contempla frenagens
expressivas. Muito da evolução da Ducati, KTM, e de certa maneira também da
Honda, está centrada na excelência dos que testam os equipamentos, estas equipes
na prática já implementam o conceito de terceiro piloto. Os ajustes na GP 17
contam, além de Lorenzo e Dovizioso, com a colaboração de Danilo Petrucci, Mika
Kallio auxilia Pol Spargaro e Bradley Smith na KTM e a Honda segue na mesma
linha, a máquina de Cal Crutchlow é idêntica a utilizada por Márquez e Pedrosa.
Talvez explique em parte a pouca evolução da M1 2017 da Yamaha, que vem sendo
incomodada pelos resultados do modelo 2016 da Tech3.
Existe uma parábola sobre um copo pela metade, o
otimista diz que está meio cheio, o pessimista meio vazio e um engenheiro o define
como mal dimensionado para a sua real necessidade. Da mesma forma existem três
modos de prever o resultado do mundial deste ano, para alguns o título já está
decidido, 33 pontos é uma diferença impossível de descontar em duas provas, outros
entendem que tudo pode acontecer, até Márquez não completar as provas
restantes, o mais seguro é seguir a orientação do filósofo tupiniquim Abelardo
Barbosa, “Só acaba quando termina”.
Os resultados das pistas costumam ser imprevisíveis,
em 2016 para Márquez conquistar o título com antecipação em Motegi era necessário
um conjunto de eventos altamente improvável, vencer a prova e os dois pilotos
da Yamaha, também candidatos, não marcarem pontos. Pela primeira vez em muitos
anos os dois equipamentos de uma equipe ainda na disputa caíram em uma mesma
prova e o piloto da Honda conquistou o troféu. Em 2006 na última etapa da
temporada em Valência, Valentino Rossi encaminhava seu sexto título consecutivo
ao iniciar a prova com 8 pontos a mais que Nicky Hayden, seu mais próximo
concorrente. No encontro com a imprensa que antecede aos GPs o americano
declarou que tudo o que precisava era um dia perfeito para ele e muito ruim
para o italiano. Valentino caiu durante a prova, recuperou o equipamento e
conseguiu a 13ª colocação, Hayden ficou em 3º e foi campeão por 5 pontos, o
mesmo número que Rossi havia perdido na prova anterior (Estoril) para Toni
Elias, por exatos 0,002 segundos.
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