O
regulamento da Superbike exige que as máquinas participantes sejam modelos de
linhas de produção e permite poucas alterações, entretanto quando uma fábrica
decide participar da competição, o equipamento é completamente transformado
utilizando recursos do estado da arte da tecnologia. Estas modificações
preservam o projeto original e visam agregar às motos as características necessárias
para melhorar o desempenho.
Inicialmente
os engenheiros trabalham para reduzir o peso do equipamento, retirando tudo o
que é estético e não essencial. O sistema de exaustão é modificado para
utilizar melhor o fluxo interno de ar, filtros e catalizadores são removidos
porque as motos de competição não são obrigadas a aderir aos regulamentos de
controle de emissões das entidades de proteção ambiental e o comando de
válvulas passa a ser pneumático. Os
motores das Superbikes operam com potência próxima aos 220 HPs, uma melhora
sensível quando comparado com os 160 HPs das motos produzidas para o mercado.
Um
dos fatores mais importantes para obter vantagens competitivas é o upload de
diferentes configurações de parametrização para a unidade e controle eletrônico
(ECU). Uma configuração, ou mapa, é um conjunto programável de instruções que para
auxiliar o piloto a obter o desempenho mais adequado para cada pista, possibilitando
entre outras facilidades o controle de tração, anti-wheelie, uso do freio motor
e modificação no ponto de ignição. Sensores distribuídos no equipamento
sinalizam, por exemplo, quando a velocidade de giro da roda traseira é maior
que a dianteira, neste caso a ECU comanda automaticamente uma redução no torque
aplicado na roda motriz limitando o fornecimento de combustível, mudando o
ponto de ignição, ou executando ambas as tarefas.
Provas
de motovelocidade são essencialmente solitárias, o único auxílio externo ao
piloto são placas informativas apresentadas durante uma prova, porém o trabalho
prévio de uma equipe técnica competente é fundamental para obter um bom
resultado. A maior contribuição do pessoal de retaguarda é a gestão do motor
com base nos dados capturados pelos sensores distribuídos na moto. A principal
função dos engenheiros de software é encontrar, alterando as configurações
preexistentes, uma programação específica de modo a que a ECU responda de modo
eficaz às características peculiares do piloto e de cada pista.
Os
sensores de uma Superbike coletam a velocidade individual de cada roda, a
posição do acelerador, o curso da suspensão, informações sobre o motor e muitas
outras, que habilitam aos técnicos especificar mapas personalizados para cada condutor.
Este processo é renovado em cada corrida e é muito difícil uma programação
servir com igual eficiência em pistas diferentes. Condições de clima, estado da
pista e técnicas de condução determinam a melhor configuração para a disputa de
uma prova.
A
maioria das motos modernas de alto desempenho comercializadas por distribuidores
(Ducati 1299 Panigale S, Honda RC213V-S, Yamaha YZF-R1, Suzuki GSX-R 1000 e Kawasaki
ZX-10R entre outras) já incluem ECU e sensores semelhantes aos utilizados nas
motos de competição, entretanto a parametrização é genérica e não contempla as
particularidades para cada tipo de estrada.
Quando
uma moto se desloca na posição vertical, a suspensão está em constante
movimento. Para contornar uma curva, o piloto inclina-se em ângulos que podem
chegar a 65 graus e o conjunto de forças que atuam lateralmente exige mais esforço
da parede lateral do pneu, da flexibilidade do quadro, do braço oscilante e de outros
componentes. Todos estes fatores são considerados para especificar um
mapeamento de software adequado para uma corrida. Houve uma época em que as provas
eram canceladas se houvessem condições de adversas, nos dias atuais os
compromissos com patrocinadores, horários de TV e ocupação de banda em satélites
de comunicações obrigam os pilotos a competirem independente do clima. Parte do
problema é transferido para os fabricantes de pneus, que com pista molhada
trocam os slicks por intermediários ou com ranhuras concebidas para escoar a
água. A programação das reações comandadas pela ECU para a moto também deve
endereçar as características de mudança de aderência. Os pilotos podem usar
controles para comutar os mapas durante uma prova, mesmo porque o comportamento
do equipamento com pneus novos e tanque cheio muda radicalmente nas voltas
finais com menor peso e pneus comprometidos.
Outras
formas de disputas motorizadas também utilizam o recurso da eletrônica e de
mapear as pistas para facilitar a condução pelos pilotos, entretanto o problema
em veículos de quatro rodas não é tão complexo, porque a localização do centro
de gravidade não altera tão intensamente. Em monopostos, como os Fórmula 1, as variáveis
são mais limitadas na medida em que o piloto fica em uma posição estável dentro
do carro. Na Superbike os condutores estão constantemente alterando o centro de
gravidade e centro de massa do conjunto moto/piloto, mudando seu peso para frente,
para trás e em torno da moto, resultando em um desafio maior para os técnicos.
Pilotos
das categorias de elite da motovelocidade são atletas qualificados que praticam
um esporte extremamente complexo. A eletrônica, engenheiros e pessoal de
retaguarda especializado podem facilitar a disputa de uma colocação na pista,
através de mapas de software adequados para cada pista e condição ambiental.
Entender
o que muda entre uma moto de passeio e uma Superbike contribui para aumentar o
prazer em assistir, ao vivo ou pela TV, uma competição. As motos tornaram-se
menos um espetáculo de veículos andando alucinadamente em círculos e mais o
resultado de um trabalho árduo de equipe. Embora as decisões e os riscos
assumidos na pista sejam exclusivos dos pilotos, as reações do equipamento aos
comandos têm muito a ver com a programação do software realizada pela equipe de
apoio.
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