quarta-feira, 27 de julho de 2016

SBK - Da Linha de Produção para as Pistas



O regulamento da Superbike exige que as máquinas participantes sejam modelos de linhas de produção e permite poucas alterações, entretanto quando uma fábrica decide participar da competição, o equipamento é completamente transformado utilizando recursos do estado da arte da tecnologia. Estas modificações preservam o projeto original e visam agregar às motos as características necessárias para melhorar o desempenho.

Inicialmente os engenheiros trabalham para reduzir o peso do equipamento, retirando tudo o que é estético e não essencial. O sistema de exaustão é modificado para utilizar melhor o fluxo interno de ar, filtros e catalizadores são removidos porque as motos de competição não são obrigadas a aderir aos regulamentos de controle de emissões das entidades de proteção ambiental e o comando de válvulas passa a ser pneumático.  Os motores das Superbikes operam com potência próxima aos 220 HPs, uma melhora sensível quando comparado com os 160 HPs das motos produzidas para o mercado.

Um dos fatores mais importantes para obter vantagens competitivas é o upload de diferentes configurações de parametrização para a unidade e controle eletrônico (ECU). Uma configuração, ou mapa, é um conjunto programável de instruções que para auxiliar o piloto a obter o desempenho mais adequado para cada pista, possibilitando entre outras facilidades o controle de tração, anti-wheelie, uso do freio motor e modificação no ponto de ignição. Sensores distribuídos no equipamento sinalizam, por exemplo, quando a velocidade de giro da roda traseira é maior que a dianteira, neste caso a ECU comanda automaticamente uma redução no torque aplicado na roda motriz limitando o fornecimento de combustível, mudando o ponto de ignição, ou executando ambas as tarefas.

Provas de motovelocidade são essencialmente solitárias, o único auxílio externo ao piloto são placas informativas apresentadas durante uma prova, porém o trabalho prévio de uma equipe técnica competente é fundamental para obter um bom resultado. A maior contribuição do pessoal de retaguarda é a gestão do motor com base nos dados capturados pelos sensores distribuídos na moto. A principal função dos engenheiros de software é encontrar, alterando as configurações preexistentes, uma programação específica de modo a que a ECU responda de modo eficaz às características peculiares do piloto e de cada pista.

Os sensores de uma Superbike coletam a velocidade individual de cada roda, a posição do acelerador, o curso da suspensão, informações sobre o motor e muitas outras, que habilitam aos técnicos especificar mapas personalizados para cada condutor. Este processo é renovado em cada corrida e é muito difícil uma programação servir com igual eficiência em pistas diferentes. Condições de clima, estado da pista e técnicas de condução determinam a melhor configuração para a disputa de uma prova.

A maioria das motos modernas de alto desempenho comercializadas por distribuidores (Ducati 1299 Panigale S, Honda RC213V-S, Yamaha YZF-R1, Suzuki GSX-R 1000 e Kawasaki ZX-10R entre outras) já incluem ECU e sensores semelhantes aos utilizados nas motos de competição, entretanto a parametrização é genérica e não contempla as particularidades para cada tipo de estrada.

Quando uma moto se desloca na posição vertical, a suspensão está em constante movimento. Para contornar uma curva, o piloto inclina-se em ângulos que podem chegar a 65 graus e o conjunto de forças que atuam lateralmente exige mais esforço da parede lateral do pneu, da flexibilidade do quadro, do braço oscilante e de outros componentes. Todos estes fatores são considerados para especificar um mapeamento de software adequado para uma corrida. Houve uma época em que as provas eram canceladas se houvessem condições de adversas, nos dias atuais os compromissos com patrocinadores, horários de TV e ocupação de banda em satélites de comunicações obrigam os pilotos a competirem independente do clima. Parte do problema é transferido para os fabricantes de pneus, que com pista molhada trocam os slicks por intermediários ou com ranhuras concebidas para escoar a água. A programação das reações comandadas pela ECU para a moto também deve endereçar as características de mudança de aderência. Os pilotos podem usar controles para comutar os mapas durante uma prova, mesmo porque o comportamento do equipamento com pneus novos e tanque cheio muda radicalmente nas voltas finais com menor peso e pneus comprometidos.

Outras formas de disputas motorizadas também utilizam o recurso da eletrônica e de mapear as pistas para facilitar a condução pelos pilotos, entretanto o problema em veículos de quatro rodas não é tão complexo, porque a localização do centro de gravidade não altera tão intensamente. Em monopostos, como os Fórmula 1, as variáveis são mais limitadas na medida em que o piloto fica em uma posição estável dentro do carro. Na Superbike os condutores estão constantemente alterando o centro de gravidade e centro de massa do conjunto moto/piloto, mudando seu peso para frente, para trás e em torno da moto, resultando em um desafio maior para os técnicos.

Pilotos das categorias de elite da motovelocidade são atletas qualificados que praticam um esporte extremamente complexo. A eletrônica, engenheiros e pessoal de retaguarda especializado podem facilitar a disputa de uma colocação na pista, através de mapas de software adequados para cada pista e condição ambiental.


Entender o que muda entre uma moto de passeio e uma Superbike contribui para aumentar o prazer em assistir, ao vivo ou pela TV, uma competição. As motos tornaram-se menos um espetáculo de veículos andando alucinadamente em círculos e mais o resultado de um trabalho árduo de equipe. Embora as decisões e os riscos assumidos na pista sejam exclusivos dos pilotos, as reações do equipamento aos comandos têm muito a ver com a programação do software realizada pela equipe de apoio.

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