Experiências
com gases costumam ser realizadas nas CNTP, condições normais de temperatura e
pressão (0 °C e 1 atm), para normalizar os resultados e permitir
comparações. Analogamente os projetistas da MotoGP especificam seus protótipos
considerando que os pilotos exigem mais do equipamento e buscam obter o melhor
desempenho em pistas secas e temperatura ambiente entre 27 e 32 °C, se uma
destas variáveis é alterada, o comportamento da moto pode mudar radicalmente.
Com a
consciência de dispor de dois dos melhores pilotos (Rossi & Lorenzo) e da
moto mais consistente (M1), Lin Jarvis, Diretor Administrativo da Yamaha,
vaticinou que 2016 seria uma temporada maluca. Ele se referia exclusivamente
aos contratos dos principais pilotos, que vencem no final deste ano, e entendia
que a dança das cadeiras poderia tumultuar os resultados nas pistas. Óbvio,
como gestor competente, procurou manter a tranquilidade dos seus pilotos e
pessoal de apoio, antecipando a prorrogação do contrato de Valentino Rossi e
definindo rapidamente um substituto (Maverick Vinales) para Jorge Lorenzo, que
foi seduzido pela Ducati.
Entretanto,
no meio da temporada, os resultados estão longe de serem os esperados por
Jarvis. Com nove provas realizadas, as Yamaha venceram cinco das seis
disputadas em pista seca e temperatura ambiente normal, porém demonstram enorme
dificuldade em condições adversas. Marc Márquez contabiliza três primeiros
lugares, dois em provas complicadas (Argentina & Alemanha) e outra em uma
pista em que mantém o monopólio de vitórias (EUA). A prova que restou foi
vencida por Jack Miller em meio a um pequeno dilúvio. Embora com o maior número
de vitórias, a Yamaha mantém um escasso ponto de vantagem sobre a Honda no
Mundial de Construtores, está 33 pontos atrás na disputa por equipes e, entre
os pilotos, Marc Márquez abriu uma quilométrica vantagem de 48 e 59 pontos
sobre Jorge Lorenzo e Valentino Rossi respectivamente.
A
temporada está decidida? Definitivamente não. Segundo os ensinamentos do
filósofo tupiniquim Abelardo (Chacrinha) Barbosa, as coisas só acabam quando
terminam. A matemática é inflexível, 48 pontos podem ser descontados em apenas
duas vitórias, desde que o piloto da Honda não se classifique entre os catorze
primeiros. O problema da Yamaha tem sido o amadurecimento de Márquez, que já
não corre riscos absurdos e é o único dos “top five” na classificação a pontuar
em todas as provas, uma só vez esteve ausente do pódio. Outro fator que pode
complicar é a disputa interna entre seus dois pilotos, Lorenzo venceu três
vezes e Rossi duas. Ambos estenderam a animosidade pessoal para as pistas, onde
são ferrenhos adversários e, embora tenham a melhor moto do grid, só estiveram
juntos entre os três primeiros em duas oportunidades. Em uma entrevista recente
a um repórter britânico, que perguntou como era a sua convivência com o “melhor
piloto do mundo”, o atual campeão da MotoGP respondeu rispidamente: “Respeito a
história de Rossi, mas não me incluo entre os que acreditam que ele ainda seja
o melhor. Seu último título foi antes de eu conquistar o meu primeiro”.
O que
esperar da segunda metade da temporada? Dino Sani, treinador nas décadas de 70
e 80, costumava dizer: “Futebol é uma caixinha de surpresas”. Portando para a
MotoGP, é lícito afirmar que resultados de corridas também podem ser
surpreendentes. Na Argentina as duas Ducati da equipe de fábrica colidiram nas
curvas finais da prova quando tinham o segundo e terceiro lugares assegurados.
Se tudo acontecer sem sobressaltos, os pilotos da Yamaha têm grandes chances de
recuperação na disputa do título, o que pode complicar é ambos dividirem
resultados e beneficiarem Márquez, ou os pilotos da Ducati criarem juízo e não
fazerem mais bobagens (com máquinas confiáveis e competitivas, ambos não
completaram quatro das nove etapas e Dovizioso ainda classificou-se em 13°
empurrando a moto na Argentina), ou finalmente se Vinales e a Suzuki
reencontrarem o desempenho dos testes pré-temporada.
O mau
desempenho das Yamaha nas últimas duas provas tem alguns pontos de
convergência, as largadas foram autorizadas na condição de “Wet Race” e a
temperatura ambiente estava baixa. A M1 aparenta ter dificuldade em aquecer os
pneus dianteiros neste ambiente e apresenta acentuada queda de rendimento.
O que
não pode prosperar é a insanidade de imaginar um tipo de Teoria da Conspiração,
onde a equipe estaria atuando com prioridade para Rossi porque Lorenzo está de
saída para a Ducati para o próximo biênio. Os números e os interesses que
balizam a MotoGP são astronômicos, nenhum fabricante ou patrocinador aceitaria
sequer imaginar um comportamento deste tipo.
Temporada
Maluca? Talvez com resultados inesperados, mas não pelas razões originais
imaginadas por Lin Jarvis.
Carlos
Alberto Goldani
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