Honda RC213V-S |
Os
números vazados do recente contrato de Jorge Lorenzo com a Ducati e a atual
escalada de valores nos salários dos pilotos da MotoGP estimulou uma
curiosidade, afinal qual o custo real de um protótipo que disputa a categoria?
O jornal americano USA Today citou um número em uma edição especial na semana
da etapa de Indianópolis em 2015, estimou o custo de cada unidade em US$ 2
milhões. Este valor não é considerado razoável pela maioria dos fabricantes,
entretanto todos concordam que é extremamente complicado chegar a uma cifra,
até por que cada unidade é construída contemplando as características únicas de
cada piloto.
O
processo de construção de um equipamento é complexo e envolve um exército de
técnicos, os melhores e mais bem pagos em cada especialidade. Os projetos são
incrivelmente minuciosos e envolvem inclusive ferramental especial para
produzir métricas e realizar os processos de montagem e manutenção.
Os
custos são elevados por diversas particularidades, a construção de cada unidade
é artesanal, as motos utilizam o estado da arte da tecnologia disponível na
indústria. Cada unidade é construída à mão, cada motor é montado
individualmente. Como a partir da primeira etapa da temporada os propulsores
são lacrados e as equipes não estão autorizadas a realizar quaisquer
modificações, os motores montados por técnicos ultra especializados são
concebidos para proporcionar o melhor desempenho e alta confiabilidade. Todo
este aparato contribui para encarecer cada unidade.
A
quantidade limitada de peças produzidas para as máquinas também eleva o custo.
Para construir as CBR 1000 RR centenas de peças são produzidas e economia de
escala contribui para reduzir o preço unitário. O cenário na MotoGP é
diferente, componentes específicos são construídos pelo fabricante ou por
terceiros e ajustados individualmente para cada piloto. Um garfo dianteiro pode
custar em torno de US$ 100.000 e o custo de cada motor pode alcançar a cifra de
US$ 220.000.
Para
obter maior resistência e menor peso, motor e carenagem são construídos com
materiais exóticos e caros como titânio, magnésio e fibra de carbono. O preço
da fibra de carbono é pelo menos 10 vezes maior que o aço. As carenagens das
motos produzidas para comercialização são moldadas em ABS e utilizam discos de
freio de ferro fundido, os protótipos utilizam compostos diferentes de fibra de
carbono em ambos os casos.
O
acionamento das válvulas dos motores de corrida é pneumático enquanto nas
unidades de estrada é feito por molas, motos de competição utilizam câmbio
ultrarrápido, não disponível em unidades de passeio. Um protótipo da MotoGP
mantém entre trinta e quarenta sensores que recolhem dados como curso da
suspensão, inclinação em curvas, temperatura e pressão do óleo e acionamento do
acelerador e dos freios. Estes dados são coletados durante uma prova para
alimentar a ECU (Unidade de Controle Eletrônico) ou para posterior análise.
Todo
o conjunto de componentes de um protótipo é exigido em condições extremas
durante uma corrida, muitas destas peças podem durar apenas algumas horas. Os
pneus e discos de freio são os exemplos mais óbvios, podem resistir a
temperaturas muito elevadas e têm uma vida útil drasticamente menor.
Os
números estimados pelo jornal não incluíram despesas de pesquisa e
desenvolvimento, que elevam exponencialmente este valor. Evidente que nenhuma
fábrica embarca nesta aventura apenas pelo espírito competitivo ou valor
publicitário equivalente pela exposição da marca, há uma infinidade de
informações que são trocadas entre linhas de produção e corridas e entre
corridas e linhas de produção. Por exemplo, o consumo de combustível na MotoGP
é uma questão fundamental, as equipes são limitadas a 22 litros para percorrer
os 95 a 130 km de cada prova. Toda a tecnologia de economia das motos de
produção é portada para as de competição, no sentido inverso está o uso da
eletrônica, desenvolvido para os protótipos e já equipando unidades de estrada.
Existem
máquinas comercializadas no varejo com características muito semelhantes aos
protótipos das pistas. A Honda RC213V-S é baseada na RC213V, lançada em 2012 e
que ganhou os títulos de 2013 e 2014. O desempenho é adequado para contemplar
uma durabilidade bem maior que duas ou três etapas da MotoGP, a versão de
estrada desenvolve até 160 HPs, enquanto a de competição alcança mais que 250
HPs. Embora possa ser encomendada em concessionárias, a RC213V-S está longe de
ser uma máquina acessível, sua produção é limitada e seu preço estimado em US$
184.000.
Yamaha-YZR-M1 |
Apresentadas em 2015, as novas Yamaha YZF-R1 e YZF-R1M foram desenvolvidas centradas no conceito “High Tech Armed Pure Sport”, ou seja, modelos superesportivos equipados com as mais recentes tecnologias. Projetadas para serem as motos mais rápidas das estradas, os novos modelos permitem aos pilotos a experiência única de beneficiarem-se das mesmas tecnologias utilizadas na YZR-M1, modelo de competição da Yamaha na MotoGP. A Yamaha YZF-R1M herda a maior parte de seus componentes eletrônicos do protótipo de competições, é uma moto com recursos como controle de tração, anti-wheelie, câmbio rápido e GPS. É também a primeira moto comercial que opera uma plataforma inercial chamada de Unidade de Medição Interna (IMU), um conjunto de giroscópios e acelerômetros para auxiliar a condução do piloto. O preço de uma YZF-R1M é mais acessível, US$ 21.990, e uma versão mais simples, YZF-R1, é comercializada a partir de US$ 16.500.
O que distingue a MotoGP dos outros esportes motorizados é que os fãs (abonados) podem encontrar nas revendedoras máquinas surpreendentemente semelhantes às que estão disputando nas pistas do Mundial. Entusiastas da Fórmula 1 não tem esta possibilidade.
Carlos Alberto Goldani
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