terça-feira, 24 de maio de 2016

MotoGP – Rescaldo de Mugello


O domingo da motovelocidade em Mugello foi completo. As três categorias apresentaram disputas acirradas que só foram decididas nos metros finais, a diferença entre os dois primeiros na MotoGP foi de apenas 0,019 segundos, na Moto2 de 0,030 segundos e a maior diferença ficou com a Moto3, 0,038 segundos. Quem pagou o ingresso ou acordou cedo no domingo e investiu horas na frente da TV foi muito bem recompensado.



Na MotoGP a corrida começou a ser decidida nos últimos momentos da derradeira sessão de treinos livres, durante uma volta de ajuste final da configuração da moto houve uma pane no motor da Yamaha M1 de Jorge Lorenzo, que gerou uma enorme coluna de fumaça. Foi uma surpresa geral, o motor era relativamente novo, foi utilizado na prova de Jerez e equipou a moto em 12 sessões de treinos. Lorenzo já havia utilizado dois outros motores nesta temporada, duas provas cada e com 21 e 23 sessões de treinos respectivamente. Lembrando que o regulamento deste ano permite o uso de até sete motores, perder o terceiro antes da sexta prova pode sinalizar dificuldades no final da temporada.

O que pareceu muito azar do atual campeão do mundo provou ser exatamente o contrário. Durante a prova, na nona volta, o motor da Yamaha de Valentino Rossi sofreu uma pane semelhante, Lorenzo perdeu um motor para o resto da temporada, seu companheiro de equipe perdeu um motor e a chance de conquistar uma vitória em casa, que não acontece desde 2008. A frustração de Valentino foi imensa, desde o acidente traumático de 2010 quando fraturou a tíbia e a fíbula, independe de sua colocação, Rossi sempre subiu ao pódio para saudar seu público no final das corridas em Mugello, gesto que evitou este ano.

Uma fábrica com a excelência técnica e os recursos da Yamaha perder dois motores em um único dia é um fato inédito e coloca algumas questões importantes, (1) pode haver algum problema estrutural no projeto dos motores e (2) por que a unidade da moto de Valentino Rossi também não foi trocada. 

O circuito de Mugello é particularmente exigente com os motores, que trabalham muito tempo no limite máximo de rotação. A longa reta permite velocidades acima de 350 km/h e, ao final, existe uma troca de níveis onde as rodas perdem o contato com o asfalto. Nesse ponto os motores estão muito próximos de sua rotação máxima e, quando a roda traseira descola da pista, o acelerador dispara e o giro, mesmo por poucos instantes, excede o limite aceitável. Outro fato importante é que Rossi passou oito voltas praticamente “colado” em Lorenzo, recebendo muito pouco ar frontal para ajudar no arrefecimento. Não há certeza que os dois motores tenham tido o mesmo problema, ambos já seguiram para a fábrica no Japão para serem analisados e é muito provável que a Yamaha nunca divulgue o que realmente aconteceu. Para garantir durabilidade, os motores cedidos para a satélite Tech3 são equipados com limitadores de giro, uma solução óbvia, porém implica em perda de potência e não é utilizada nos equipamentos da equipe oficial. 

Os profetas do acontecido reclamam que, quando o motor de Lorenzo falhou na sessão de testes livres, a Yamaha deveria ter optado por trocar também o de Rossi. Agora é fácil entender que teria sido a medida correta a ser tomada, porém em favor da decisão da equipe existem dois argumentos robustos, ninguém tem ideia do que deu errado com o propulsor de Lorenzo e a quilometragem do motor de Rossi estava dentro dos parâmetros seguros definidos em seu projeto. 

A saída precoce da Yamaha #46 frustrou as legiões de fãs que lotaram o circuito de Mugello. A batalha entre o italiano e os dois espanhóis, acusados de conluio no ano passado para evitar oitavo campeonato mundial de Rossi, era ansiosamente esperada. Menos mal que o suposto compadrio entre Lorenzo e Márquez não existiu na pista e a corrida foi eletrizante até o final. A última volta da prova também sepultou um mito persistente que Lorenzo é cerebral demais para pôr em risco pontos já garantidos, a disputa acirrada, porém leal com Márquez, mostrou um piloto determinado e apostando tudo para vencer.

A vitória de Lorenzo contou com uma discreta colaboração da Honda, cujas limitações de competitividade foram expostas nos momentos finais da prova. Nas últimas cinco voltas Marc Márquez estava, literalmente, andando mais que o equipamento permitia e assumindo riscos enormes para vencer a corrida, não conseguiu.


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