O domingo da motovelocidade
em Mugello foi completo. As três categorias apresentaram disputas acirradas que
só foram decididas nos metros finais, a diferença entre os dois primeiros na
MotoGP foi de apenas 0,019 segundos, na Moto2 de 0,030 segundos e a maior
diferença ficou com a Moto3, 0,038 segundos. Quem pagou o ingresso ou acordou
cedo no domingo e investiu horas na frente da TV foi muito bem recompensado.
Na
MotoGP a corrida começou a ser decidida nos últimos momentos da derradeira sessão
de treinos livres, durante uma volta de ajuste final da configuração da moto
houve uma pane no motor da Yamaha M1 de Jorge Lorenzo, que gerou uma enorme
coluna de fumaça. Foi uma surpresa geral, o motor era relativamente novo, foi
utilizado na prova de Jerez e equipou a moto em 12 sessões de treinos. Lorenzo
já havia utilizado dois outros motores nesta temporada, duas provas cada e com
21 e 23 sessões de treinos respectivamente. Lembrando que o regulamento deste
ano permite o uso de até sete motores, perder o terceiro antes da sexta prova
pode sinalizar dificuldades no final da temporada.
O que pareceu muito azar
do atual campeão do mundo provou ser exatamente o contrário. Durante a prova,
na nona volta, o motor da Yamaha de Valentino Rossi sofreu uma pane semelhante,
Lorenzo perdeu um motor para o resto da temporada, seu companheiro de equipe perdeu
um motor e a chance de conquistar uma vitória em casa, que não acontece desde
2008. A frustração de Valentino foi imensa, desde o acidente traumático de 2010
quando fraturou a tíbia e a fíbula, independe
de sua colocação, Rossi sempre subiu ao pódio para saudar seu público no final
das corridas em Mugello, gesto que evitou este ano.
Uma fábrica com a excelência técnica
e os recursos da Yamaha perder dois motores em um único dia é um fato inédito e
coloca algumas questões importantes, (1) pode haver algum problema estrutural no
projeto dos motores e (2) por que a unidade da moto de Valentino Rossi também não
foi trocada.
O circuito de Mugello é particularmente exigente com os motores,
que trabalham muito tempo no limite máximo de rotação. A longa reta permite
velocidades acima de 350 km/h e, ao final, existe uma troca de níveis onde as
rodas perdem o contato com o asfalto. Nesse ponto os motores estão muito
próximos de sua rotação máxima e, quando a roda traseira descola da pista, o
acelerador dispara e o giro, mesmo por poucos instantes, excede o limite aceitável.
Outro fato importante é que Rossi passou oito voltas praticamente “colado” em
Lorenzo, recebendo muito pouco ar frontal para ajudar no arrefecimento. Não há
certeza que os dois motores tenham tido o mesmo problema, ambos já seguiram
para a fábrica no Japão para serem analisados e é muito provável que a Yamaha nunca
divulgue o que realmente aconteceu. Para garantir durabilidade, os motores
cedidos para a satélite Tech3 são equipados com limitadores de giro, uma
solução óbvia, porém implica em perda de potência e não é utilizada nos
equipamentos da equipe oficial.
Os profetas do acontecido reclamam que, quando
o motor de Lorenzo falhou na sessão de testes livres, a Yamaha deveria ter optado
por trocar também o de Rossi. Agora é fácil entender que teria sido a medida correta
a ser tomada, porém em favor da decisão da equipe existem dois argumentos
robustos, ninguém tem ideia do que deu errado com o propulsor de Lorenzo e a
quilometragem do motor de Rossi estava dentro dos parâmetros seguros definidos
em seu projeto.
A saída precoce da Yamaha #46
frustrou as legiões de fãs que lotaram o circuito de Mugello. A batalha entre o
italiano e os dois espanhóis, acusados de conluio no ano passado para evitar oitavo
campeonato mundial de Rossi, era ansiosamente esperada. Menos mal que o suposto
compadrio entre Lorenzo e Márquez não existiu na pista e a corrida foi
eletrizante até o final. A última volta da prova também sepultou um mito
persistente que Lorenzo é cerebral demais para pôr em risco pontos já garantidos,
a disputa acirrada, porém leal com Márquez, mostrou um piloto determinado e apostando
tudo para vencer.
A vitória de Lorenzo contou com
uma discreta colaboração da Honda, cujas limitações de competitividade foram expostas
nos momentos finais da prova. Nas últimas cinco voltas Marc Márquez estava,
literalmente, andando mais que o equipamento permitia e assumindo riscos
enormes para vencer a corrida, não conseguiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário