Dois eventos foram ansiosamente aguardados no ano de 2016
pelos que cultivam grandes emoções, a nova temporada do Jogo dos Tronos e o
Mundial de MotoGP. Enquanto o criador da saga dos Sete Reinos de Westeros é
implacável com seus heróis e poucos sobrevivem, o campeonato mais importante da
motovelocidade conserva seu seleto grupo de pilotos vitoriosos, restrito nos
últimos anos aos condutores das equipes oficiais da Yamaha e Honda.
Pouco antes da corrida de abertura do campeonato no
Catar, Lin Jarvis, diretor da Yamaha profetizou que 2016 seria uma temporada
maluca, e justificou enumerando várias razões, último ano de contrato dos
principais pilotos, uso compulsório da eletrônica padronizada, novo fornecedor
de pneus, progressos no desenvolvimento dos protótipos da Ducati e Suzuki e
ascensão de novos talentos, centrada principalmente no espanhol Maverick
Vinales. Os presságios de Jarvis não mencionaram outro detalhe que também
monopoliza as atenções neste primeiro quarto de temporada, as winglets.
O rearranjo de pilotos está em pleno andamento e os dois
principais nomes da Yamaha já definiram seus próximos endereços, Rossi fica
onde está e Lorenzo migra para a Ducati. Normalmente a movimentação de cadeiras
(assentos?) é realizada no terço médio da temporada, entre a sétima e a décima
segunda provas, e é quando o maior número de definições devem acontecer.
Aos poucos as equipes descobrem os segredos da eletrônica
padronizada e, como não há nenhuma outra opção, são forçadas a trabalhar com
ela. A maior dificuldade dos pilotos é que o software responde de forma linear,
não adaptativa, uma configuração ideal para o início de uma prova, com pneus
novos e tanque cheio, é inadequada para o final com a moto mais leve e os
compostos desgastados.
Com os pneus a situação é mais complexa. Depois de uma
corrida aparentemente sem sobressaltos no Catar, a prova no asfalto quase sem
uso de Rio Hondo foi um desastre para a Michelin, a curva agressiva de torque
das Ducati desintegrou o pneu traseiro de Scott Redding, gerando um clima de
intranquilidade. Por recomendação do fabricante a prova foi encurtada e houve a
troca obrigatória de motos, cada conjunto rodou apenas entre 10 e 13 voltas. O
pneu traseiro utilizado em Austin e Jerez foi o chamado "pneu de segurança",
um tipo de construção diferente e que não havia sido produzido para
competições, mas que a Michelin tinha certeza faria a distância da corrida sem
surpresas desagradáveis. Em Jerez o feedback dos pilotos foi que em algumas
condições o pneu traseiro derrapava até acelerando em linha reta. A fabricante
levou para a França um novo pneu traseiro, com técnica de construção mais
elaborada, mas com compostos idênticos aos anteriores. O objetivo foi atender
às demandas dos pilotos para gerar maior aderência nas bordas. A empresa está
simplificando os processos reduzindo o número de opções e disponibilizando uma
única construção de pneu dianteiro. O maior problema da fabricante é
desenvolver um produto igualmente adequado para uma miríade de variáveis,
rugosidade (atrito) das pistas, peso dos pilotos (Pedrosa pesa 51 kg e Loris
Baz 79 kg), técnica de pilotagem (limpa ou agressiva) e curvas de acelerações
dos motores, entre outras. Na prova da França 8 pilotos caíram, número
excessivo para uma única corrida com tempo seco e provavelmente houve alguma
colaboração do binômio software/pneus. Aliás, esta temporada registra um
comportamento atípico, os cinco pilotos melhor classificados no campeonato já
sofreram quedas, tudo isso em apenas cinco etapas.
Os resultados da esperada ascensão técnica da Ducati e
Suzuki ainda não aconteceram. A Ducati apresenta um bom desenvolvimento da
Desmosedici, provavelmente uma das razões o que contribuíram para a opção de
Lorenzo, entretanto seus dois pilotos tem o estranho hábito de terminar as provas
antecipadamente na brita, em cinco etapas os dois Andrea contabilizam três
quedas cada. Talvez a disputa para ser o companheiro de Lorenzo esteja fazendo
que assumam riscos excessivos. A esperada arrancada de Vinales rumo ao
estrelato está custando a acontecer, o pódio conquistado em Le Mans foi o seu
melhor resultado até agora, mas muito deste feito deve ser
creditado às múltiplas quedas de pilotos que estavam na sua frente.
Jarvis não mencionou em seus prognósticos no início da
temporada a importância das winglets. A precursora nesta tecnologia, Ducati,
defende ferozmente os dispositivos aerodinâmicos, que não são unanimidade entre
construtores e pilotos. Em Rio Hondo um toque no início da prova entre uma das
Ducati e a Honda 93 ceifou a câmera traseira de Marc Márquez, que ficou
pendurada durante toda a primeira etapa da prova. O bicampeão de 2013 e 2014 em
recente entrevista afirmou que as asas geram turbulência e dificultam as
disputas na pista, quando se posiciona a moto para ultrapassagens é muito fácil
perder a frente. A Honda, o último dos grandes fabricantes a aderir à novidade
utiliza conjuntos de aletas para criar pressão aerodinâmica no pneu dianteiro,
e assim aumentar a sua aderência. As winglets entraram na alça de mira dos
promotores da MotoGP e provavelmente, se não forem banidas, devem ser melhor
regulamentadas.
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