sexta-feira, 27 de maio de 2016

MotoGP – Fim da Temporada Maluca




A temporada de 2016 recém completou um terço e as atenções já estão centradas em 2017. A “Temporada Maluca” acabou antes de iniciar o mês de junho, os principais pilotos, com uma exceção, já oficializaram seus contratos para os próximos dois anos.
 
As seis primeiras etapas da temporada não apresentaram nenhuma novidade expressiva e o monopólio de vitórias continua restrito aos pilotos das equipes oficiais da Yamaha e Honda. Pelas observações do que já ocorreu este ano é lícito supor que 2017 talvez seja a melhor chance de Valentino Rossi alcançar seu almejado décimo título mundial, que este ano parece ter sido sabotado pela queda nos EUA e pelo estouro do motor em Mugello. Óbvio, Valentino ainda tem chances nesta temporada, entretanto a distância em pontos e, sobretudo a regularidade de Lorenzo, indicam que é um caminho muito difícil.

O cenário montado para o próximo ano sugere que o equilíbrio do poder na MotoGP pode sofrer uma mudança tão significativa quanto a chegada de Marc Márquez há quatro anos. Lorenzo na Ducati é o fator que gera mais expectativas, a técnica de pilotagem coreográfica e precisa do atual campeão do mundo é o complemento ideal para as características da Yamaha M1, enquanto o comportamento da Desmosedici GP16 tem sido inconstante, embora com sensíveis melhoras nos contornos de curvas. O espanhol, um dos desafetos declarados de Valentino Rossi, vai encontrar um ambiente familiar na equipe italiana e já conquistou títulos mundiais (Aprilia, 250cc) com o manager Gigi Dall’Igna. A Ducati conta ainda com o auxílio de Casey Stoner no desenvolvimento da GP17 e, na atual temporada, só as trapalhadas dos pilotos evitaram um número maior de presenças em pódios nas primeiras provas.  

 

Maverick Vinales herdou a vaga de Lorenzo na Yamaha e deve ter chances reais de obter vitórias. O comportamento da Suzuki GSX-RR é semelhante ao da M1 e a única dúvida sobre seu futuro desempenho é sua estrutura emocional para conviver com Valentino Rossi, que não perde uma única oportunidade de referir-se a ele como o “Segundo Piloto” da Yamaha. Vinales já participou de 90 grandes prêmios (23 na MotoGP), contabiliza 16 vitórias nas categorias de acesso e ocupa a quinta colocação na atual temporada.

 

Valentino Rossi entra em 2017 pilotando uma máquina que conhece muito bem, a próxima temporada será sua décima segunda com uma M1, máquina que ajudou a desenvolver. A moto não tem segredos para ele, conhece seu comportamento em cada pista, com piso seco ou molhado, frio ou calor e sabe que tipo de traçado deve ser feito para extrair o melhor desempenho em cada curva. A maioria dos homens de sua equipe convive com ele a mais de uma década, sabe como extrair o melhor deles e eles sabem como Valentino se sente mais confortável. O maior vencedor das últimas duas décadas terá 38 anos em 2017 e a idade não aparenta reduzir sua capacidade de pilotar ou seu apetite por vitórias.

 

Lorenzo e Vinales não são os únicos obstáculos para impedir que Rossi vença mais um campeonato, como postulante ao título também aparece no grid a Honda #93 de Marc Márquez.

 

No recente GP da Itália, em Mugello, por mais que a multidão esperasse uma vitória do ídolo local, o duelo final entre Márquez e Lorenzo compensou em parte a tristeza causada pelo abandono de Rossi. Vaias e assobios foram inevitáveis na comemoração do pódio, mas qualquer um que não tenha se emocionado com a disputa nas últimas voltas até a bandeirada final não tem octanas no sangue, não é um apaixonado por motovelocidade.

 

Ninguém duvida do enorme talento de Marc Márquez, entretanto ele necessita de uma moto confiável para tentar, em 2017, reprisar seus feitos de 2014. Márquez não venceu a corrida de Mugello porque sua RC213V levantou a frente na arremetida final. O Anti-Wheelie é o mais básico de todos os recursos auxiliares que o piloto dispõe, não é tão sofisticado quanto o controle de tração ou gestão de torque porque não é considerado um problema de segurança. A HRC - a única fábrica totalmente nova para kit Magneti Marelli - está levando mais tempo para conseguir ajustar adequadamente seus parâmetros para o novo pacote eletrônico. A telemetria indica que o software detectou uma condição que acionou o Anti-Wheelie e comandou uma redução na entrega de torque, fechando as borboletas do acelerador por uma fração de tempo, reduzindo a velocidade.

 
Entrega de Potência Screamer vs Big Bang

O motor da Honda é provavelmente o mais agressivo da MotoGP e desperta a atenção pelo barulho que produz quando o piloto abre o acelerador em uma retomada de velocidade. Os fabricantes utilizam todos os recursos que resultem em vantagens competitivas, incluindo a temporização da ignição dos cilindros, a maioria das fábricas optou pela opção Big Bang enquanto a Honda utiliza a configuração Screamer (Gritador pelo dicionário, eu prefiro chamar de Escandaloso). Existem vantagens e desvantagens associadas a cada uma das opções. Para os não iniciados em mecânica, um motor Screamer é o que utiliza tempos iguais entre a ignição dos cilindros durante a rotação da manivela. Um motor gira duas vezes a manivela para completar o ciclo de quatro tempos, admissão, compressão, ignição e exaustão. Em um motor de quatro cilindros, a configuração Screamer tem um cilindro disparando a cada 180 graus de rotação do eixo. A Big Bang utiliza um intervalo muito curto entre a ordem de ignição de cada cilindro, e uma pausa estendida até a retomada do ciclo. Na configuração Big Bang todos os cilindros fazem a ignição em um intervalo angular da manivela muito pequeno (em torno de 90 graus). O objetivo de variar os tempos de ignição é alterar as características de distribuição de energia do motor, a ignição regular (Screamer) produz distribuição equilibrada de entrega de potência, um motor Big Bang gera picos de energia e, como consequência, o motor vibra mais.

 
A RC213V de Márquez tem sérios problemas de interação com o pacote eletrônico compulsório, a moto perde aceleração nas saídas de curvas lentas e não consegue acompanhar as concorrentes nas retas. O problema aparenta ter sido identificado, porém demanda uma solução híbrida (software & hardware) e depende de alterações no motor, que está congelado. Outro fator adicional de incerteza para a Honda é que o Sr. Shuhei Nakamoto, cuja polivalência e importância no setor de competições é reconhecida, está assumindo novas funções na corporação. Se estas dificuldades forem contornadas, Marc Márquez é sério candidato ao título.
 

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