A temporada de 2016 recém completou um terço e as
atenções já estão centradas em 2017. A “Temporada Maluca” acabou antes de
iniciar o mês de junho, os principais pilotos, com uma exceção, já
oficializaram seus contratos para os próximos dois anos.
As seis primeiras etapas da temporada não
apresentaram nenhuma novidade expressiva e o monopólio de vitórias continua
restrito aos pilotos das equipes oficiais da Yamaha e Honda. Pelas observações
do que já ocorreu este ano é lícito supor que 2017 talvez seja a melhor chance
de Valentino Rossi alcançar seu almejado décimo título mundial, que este ano
parece ter sido sabotado pela queda nos EUA e pelo estouro do motor em Mugello.
Óbvio, Valentino ainda tem chances nesta temporada, entretanto a distância em
pontos e, sobretudo a regularidade de Lorenzo, indicam que é um caminho muito
difícil.
O cenário montado para o próximo ano sugere que o
equilíbrio do poder na MotoGP pode sofrer uma mudança tão significativa quanto
a chegada de Marc Márquez há quatro anos. Lorenzo na Ducati é o fator que gera
mais expectativas, a técnica de pilotagem coreográfica e precisa do atual
campeão do mundo é o complemento ideal para as características da Yamaha M1,
enquanto o comportamento da Desmosedici GP16 tem sido inconstante, embora com
sensíveis melhoras nos contornos de curvas. O espanhol, um dos desafetos
declarados de Valentino Rossi, vai encontrar um ambiente familiar na equipe
italiana e já conquistou títulos mundiais (Aprilia, 250cc) com o manager Gigi
Dall’Igna. A Ducati conta ainda com o auxílio de Casey Stoner no
desenvolvimento da GP17 e, na atual temporada, só as trapalhadas dos pilotos
evitaram um número maior de presenças em pódios nas primeiras provas.
Maverick Vinales herdou a vaga de Lorenzo na
Yamaha e deve ter chances reais de obter vitórias. O comportamento da Suzuki
GSX-RR é semelhante ao da M1 e a única dúvida sobre seu futuro desempenho é sua
estrutura emocional para conviver com Valentino Rossi, que não perde uma única
oportunidade de referir-se a ele como o “Segundo Piloto” da Yamaha. Vinales já
participou de 90 grandes prêmios (23 na MotoGP), contabiliza 16 vitórias nas
categorias de acesso e ocupa a quinta colocação na atual temporada.
Valentino Rossi entra em 2017 pilotando uma máquina
que conhece muito bem, a próxima temporada será sua décima segunda com uma
M1, máquina que ajudou a desenvolver. A moto não tem segredos para ele, conhece
seu comportamento em cada pista, com piso seco ou molhado, frio ou calor e sabe
que tipo de traçado deve ser feito para extrair o melhor desempenho em cada
curva. A maioria dos homens de sua equipe convive com ele a mais de uma década,
sabe como extrair o melhor deles e eles sabem como Valentino se sente mais confortável.
O maior vencedor das últimas duas décadas terá 38 anos em 2017 e a idade não
aparenta reduzir sua capacidade de pilotar ou seu apetite por vitórias.
Lorenzo e Vinales não são os únicos obstáculos para
impedir que Rossi vença mais um campeonato, como postulante ao título também
aparece no grid a Honda #93 de Marc Márquez.
No recente GP da Itália, em Mugello, por mais que a
multidão esperasse uma vitória do ídolo local, o duelo final entre Márquez e
Lorenzo compensou em parte a tristeza causada pelo abandono de Rossi. Vaias e
assobios foram inevitáveis na comemoração do pódio, mas qualquer um que não
tenha se emocionado com a disputa nas últimas voltas até a bandeirada final não
tem octanas no sangue, não é um apaixonado por motovelocidade.
Ninguém duvida do enorme talento de Marc Márquez,
entretanto ele necessita de uma moto confiável para tentar, em 2017, reprisar
seus feitos de 2014. Márquez não venceu a corrida de Mugello porque sua RC213V
levantou a frente na arremetida final. O Anti-Wheelie
é o mais básico de todos os recursos auxiliares que o piloto dispõe, não é tão
sofisticado quanto o controle de tração ou gestão de torque porque não é considerado
um problema de segurança. A HRC - a única fábrica totalmente nova para kit
Magneti Marelli - está levando mais tempo para conseguir ajustar adequadamente
seus parâmetros para o novo pacote eletrônico. A telemetria indica que o
software detectou uma condição que acionou o Anti-Wheelie e comandou uma redução na entrega de torque, fechando
as borboletas do acelerador por uma fração de tempo, reduzindo a velocidade.
O motor da Honda é provavelmente o mais agressivo
da MotoGP e desperta a atenção pelo barulho que produz quando o piloto abre o
acelerador em uma retomada de velocidade. Os fabricantes utilizam todos os recursos
que resultem em vantagens competitivas, incluindo a temporização da ignição dos
cilindros, a maioria das fábricas optou pela opção Big Bang enquanto
a Honda utiliza a configuração Screamer (Gritador pelo dicionário, eu prefiro chamar de Escandaloso). Existem vantagens e desvantagens associadas a cada
uma das opções. Para os não iniciados em mecânica, um motor Screamer é
o que utiliza tempos iguais entre a ignição dos cilindros durante a rotação da
manivela. Um motor gira duas vezes a manivela para completar o ciclo de quatro
tempos, admissão, compressão, ignição e exaustão. Em um motor de quatro
cilindros, a configuração Screamer tem um cilindro disparando
a cada 180 graus de rotação do eixo. A Big Bang utiliza um
intervalo muito curto entre a ordem de ignição de cada cilindro, e uma pausa
estendida até a retomada do ciclo. Na configuração Big Bang todos
os cilindros fazem a ignição em um intervalo angular da manivela muito pequeno
(em torno de 90 graus). O objetivo de variar os tempos de ignição é alterar as
características de distribuição de energia do motor, a ignição regular (Screamer)
produz distribuição equilibrada de entrega de potência, um motor Big
Bang gera picos de energia e, como consequência, o motor vibra mais.
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