Na
década passada o termo motovelocidade era considerado um sinônimo de Valentino
Rossi. Em sua carreira, que já chega a 20 anos (estreou em 1996 na categoria
125cc) ele participou de mais de 300 corridas, venceu 112 e ganhou nove
campeonatos mundiais. Desde 2000 Rossi participa da principal categoria da
velocidade em duas rodas e é o único da sua geração de pilotos ainda em
atividade. Venceu os mundiais de 2001 a 2005 em sequência, acumulando 51 vitórias
em 81 corridas disputadas. Em 2006 não completou três provas e ficou a escassos
cinco pontos do vencedor, Nicky Hayden, porém com mais vitórias (5 contra 2) e
em 2007 foi dominado pela competência da dobradinha Ducati & Casey Stoner
(10 primeiros lugares e o título), ficou com a terceira colocação um ponto
atrás de Dani Pedrosa.
Valentino
voltou ao topo em 2008 e 2009 vencendo 9 e 6 vezes respectivamente, com mais um
título se igualaria ao maior vencedor de todos os tempos da categoria
principal, Giacomo Agostini, entretanto 2010 foi um ano complicado. Sofreu uma
queda nos testes da quarta prova da temporada, fraturou a tíbia e ficou
afastado durante quatro provas, o que resultou em terceiro colocado no mundial,
150 pontos atrás de seu colega de equipe. Valentino recebeu no final da
temporada uma proposta de renovação da Yamaha que implicava em redução do
salário e perda da condição de primeiro piloto. Dinheiro não era problema, mas o
ídolo italiano não podia aceitar uma posição subalterna e assinou por dois anos
com a Ducati.
Uma aposta
arriscada. Após uma temporada brilhante em 2007 a marca italiana apresentava
sinais evidentes de fadiga. O título mundial e as onze vitorias (10 de Stoner e
uma de Capirossi) naquele ano representaram o ápice da equipe, que recuou para seis
vitórias em 2008, quatro em 2009 e apenas três em 2010. Havia outro
condicionante, a primeira vez que Stoner conquistou o título foi antes da
regulamentação das especificações de pneus e a Bridgestone fabricava compostos especificamente
para a Ducati, adequados ao seu quadro maleável montado em tubos de treliça.
Com a nova regulamentação a fábrica optou por um quadro de fibra de carbono
extremamente rígido e o conjunto da moto ficou muito sensível, perdia a frente
sem nenhum aviso.
Durante
o período de ostracismo de Rossi na Ducati a MotoGP experimentou uma mudança
significativa, centrada na técnica de pilotar de Marc Márquez. Márquez
descobriu que o modo “joelho para baixo” desenvolvido por Mike Hailwood na
década de 60 não era a maneira mais veloz de contornar uma curva. O piloto
espanhol percebeu a extraordinária capacidade dos pneus Bridgestone e
desenvolveu um modo de explorar a sua revolucionária aderência. O ideal era
manter nas curvas toda a parte superior do seu corpo longe da moto, aumentando
ainda mais o ângulo de inclinação (a foto mostra que o cotovelo do lado de fora
vêm para cima do tanque e o cotovelo de dentro quase se apoia na a superfície
da pista).
A
constante atualização do posicionamento na moto exigiu também um preparo físico
até então inédito. Nas curvas o piloto fica submetido a uma força de 2G e foi
necessário um treinamento específico para desenvolver os músculos envolvidos. A
inclinação extra nas curvas limita o excesso de trabalho das bordas sensíveis dos
pneus, habilita o contorno mais veloz e, ao reaprumar a moto, libera tração
extra para acelerar mais rápido.
Valentino
amargou um calvário de dois anos. Assistiu o bicampeonato de Stoner em 2011 com
uma Honda e a consolidação de Lorenzo como piloto competente ao conquistar o
título em 2012. De volta a Yamaha, foi obrigado a reinventar seu estilo de
pilotagem para voltar a ser competitivo, atuou como coadjuvante em 2013 e
melhorou na temporada seguinte, 2014, porém seu desempenho não foi suficiente
para acompanhar a ascensão meteórica do talento de Marc Marques, bicampeão em
2013 e 2014.
O
piloto italiano teve em 2015 a sua grande chance de se igualar ao seu
compatriota Agostini com oito campeonatos mundiais na principal categoria das
motos de competição e perseguiu este objetivo até as últimas corridas.
Entretanto, talvez por excesso de ansiedade, criou um ambiente hostil ao sentir-se
prejudicado por Marc Márquez na Austrália, corrida vencida pelo piloto da Honda
e com Rossi fora do pódio. Na Malásia protagonizou um incidente que resultou na
queda de Márquez e resultou penalidade, tendo que largar a corrida de
encerramento do ano na última posição do grid. Rossi perdeu o campeonato por
apenas cinco pontos, para seu colega de equipe Jorge Lorenzo.
Dizem
que estatísticas tem a mesma finalidade dos biquínis, mostrar tudo, menos o que
é realmente importante e no caso de Valentino Rossi os números são
particularmente perversos. Contando apenas as últimas três temporadas, onde ele
contou com equipamento e equipe de ponta, o seu desempenho não é encorajador.
Só os pilotos das equipes oficiais da Yamaha e Honda venceram nos últimos três
anos, Marc Márquez 24 vezes, Jorge Lorenzo 17, Valentino 7 e Dani Pedrosa 6.
Ele e seu colega de equipe contabilizam os menores números de não
qualificações, três cada um em três anos, o que indica a confiabilidade do
equipamento. Em 2015 Rossi pontuou em todas as corridas, ficando fora do pódio
em apenas três. Para efeitos de comparação os dois pilotos da Honda (Márquez e
Pedrosa) não pontuaram em 16 provas neste período.
Os
testes realizados em Valência depois do encerramento da temporada de 2015 não
são conclusivos, mas os resultados combinados dos dois dias podem apontar uma tendência.
A Honda de Márquez foi a mais rápida, seguido de Viñales com uma Suzuki,
Pedrosa com a segunda Honda oficial, Aleix Spargaro com Suzuki, Lorenzo com
Yamaha, Cal Crutchlow com uma LCR Honda e Valentino apenas em sétimo.
Mesmo
a mais competente pitonisa teria dificuldades em prever o que Valentino pode
realizar no futuro, começando pela próxima temporada. O final de 2015 foi muito
conturbado e suas atitudes criaram um clima adverso com os pilotos espanhóis,
seu colega de equipe e os dois da Honda. Suas acusações de uma conspiração
espanhola dos pilotos da Honda para favorecer um compatriota não têm muita
lógica, eles venceram três das quatro últimas corridas da temporada.
Para
2016 as variáveis são muitas, pneus com nova composição, eletrônica padronizada
e várias mudanças no regulamento sugerem um início de ano complicado, com
pilotos e equipes iniciando um novo aprendizado. A esperança dos organizadores
é que o novo regulamento diminua o gap existente entre os equipamentos na pista
e, neste cenário, a experiência de Valentino pode fazer a diferença.
O
contrato com a Yamaha encerra-se no final desta temporada e o piloto deixa
claro que ainda não tem planos de deixar a MotoGP, quer prolongar sua
permanência na elite do motociclismo. Sua meta de igualar e talvez superar os
recordes de Giacomo Agostini está próxima, faltam dez vitórias e um título
mundial. É uma meta ambiciosa, sobretudo considerando que a concorrência pelo
lugar mais alto do pódio tende a ser muito acirrada. Valentino Rossi já tem
planejado o que quer fazer quando chegar a hora de deixar o Mundial de
Motovelocidade, campeão da edição 2015
do Rali de Monza, o piloto manifestou o desejo de se aventurar no mundo do rali
no futuro.
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