sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

MotoGP - Os Diamantes (e os Ídolos) São Eternos



Na década passada o termo motovelocidade era considerado um sinônimo de Valentino Rossi. Em sua carreira, que já chega a 20 anos (estreou em 1996 na categoria 125cc) ele participou de mais de 300 corridas, venceu 112 e ganhou nove campeonatos mundiais. Desde 2000 Rossi participa da principal categoria da velocidade em duas rodas e é o único da sua geração de pilotos ainda em atividade. Venceu os mundiais de 2001 a 2005 em sequência, acumulando 51 vitórias em 81 corridas disputadas. Em 2006 não completou três provas e ficou a escassos cinco pontos do vencedor, Nicky Hayden, porém com mais vitórias (5 contra 2) e em 2007 foi dominado pela competência da dobradinha Ducati & Casey Stoner (10 primeiros lugares e o título), ficou com a terceira colocação um ponto atrás de Dani Pedrosa.
Valentino voltou ao topo em 2008 e 2009 vencendo 9 e 6 vezes respectivamente, com mais um título se igualaria ao maior vencedor de todos os tempos da categoria principal, Giacomo Agostini, entretanto 2010 foi um ano complicado. Sofreu uma queda nos testes da quarta prova da temporada, fraturou a tíbia e ficou afastado durante quatro provas, o que resultou em terceiro colocado no mundial, 150 pontos atrás de seu colega de equipe. Valentino recebeu no final da temporada uma proposta de renovação da Yamaha que implicava em redução do salário e perda da condição de primeiro piloto. Dinheiro não era problema, mas o ídolo italiano não podia aceitar uma posição subalterna e assinou por dois anos com a Ducati.
Uma aposta arriscada. Após uma temporada brilhante em 2007 a marca italiana apresentava sinais evidentes de fadiga. O título mundial e as onze vitorias (10 de Stoner e uma de Capirossi) naquele ano representaram o ápice da equipe, que recuou para seis vitórias em 2008, quatro em 2009 e apenas três em 2010. Havia outro condicionante, a primeira vez que Stoner conquistou o título foi antes da regulamentação das especificações de pneus e a Bridgestone fabricava compostos especificamente para a Ducati, adequados ao seu quadro maleável montado em tubos de treliça. Com a nova regulamentação a fábrica optou por um quadro de fibra de carbono extremamente rígido e o conjunto da moto ficou muito sensível, perdia a frente sem nenhum aviso.
Durante o período de ostracismo de Rossi na Ducati a MotoGP experimentou uma mudança significativa, centrada na técnica de pilotar de Marc Márquez. Márquez descobriu que o modo “joelho para baixo” desenvolvido por Mike Hailwood na década de 60 não era a maneira mais veloz de contornar uma curva. O piloto espanhol percebeu a extraordinária capacidade dos pneus Bridgestone e desenvolveu um modo de explorar a sua revolucionária aderência. O ideal era manter nas curvas toda a parte superior do seu corpo longe da moto, aumentando ainda mais o ângulo de inclinação (a foto mostra que o cotovelo do lado de fora vêm para cima do tanque e o cotovelo de dentro quase se apoia na a superfície da pista).
A constante atualização do posicionamento na moto exigiu também um preparo físico até então inédito. Nas curvas o piloto fica submetido a uma força de 2G e foi necessário um treinamento específico para desenvolver os músculos envolvidos. A inclinação extra nas curvas limita o excesso de trabalho das bordas sensíveis dos pneus, habilita o contorno mais veloz e, ao reaprumar a moto, libera tração extra para acelerar mais rápido.
Valentino amargou um calvário de dois anos. Assistiu o bicampeonato de Stoner em 2011 com uma Honda e a consolidação de Lorenzo como piloto competente ao conquistar o título em 2012. De volta a Yamaha, foi obrigado a reinventar seu estilo de pilotagem para voltar a ser competitivo, atuou como coadjuvante em 2013 e melhorou na temporada seguinte, 2014, porém seu desempenho não foi suficiente para acompanhar a ascensão meteórica do talento de Marc Marques, bicampeão em 2013 e 2014.
O piloto italiano teve em 2015 a sua grande chance de se igualar ao seu compatriota Agostini com oito campeonatos mundiais na principal categoria das motos de competição e perseguiu este objetivo até as últimas corridas. Entretanto, talvez por excesso de ansiedade, criou um ambiente hostil ao sentir-se prejudicado por Marc Márquez na Austrália, corrida vencida pelo piloto da Honda e com Rossi fora do pódio. Na Malásia protagonizou um incidente que resultou na queda de Márquez e resultou penalidade, tendo que largar a corrida de encerramento do ano na última posição do grid. Rossi perdeu o campeonato por apenas cinco pontos, para seu colega de equipe Jorge Lorenzo.
Dizem que estatísticas tem a mesma finalidade dos biquínis, mostrar tudo, menos o que é realmente importante e no caso de Valentino Rossi os números são particularmente perversos. Contando apenas as últimas três temporadas, onde ele contou com equipamento e equipe de ponta, o seu desempenho não é encorajador. Só os pilotos das equipes oficiais da Yamaha e Honda venceram nos últimos três anos, Marc Márquez 24 vezes, Jorge Lorenzo 17, Valentino 7 e Dani Pedrosa 6. Ele e seu colega de equipe contabilizam os menores números de não qualificações, três cada um em três anos, o que indica a confiabilidade do equipamento. Em 2015 Rossi pontuou em todas as corridas, ficando fora do pódio em apenas três. Para efeitos de comparação os dois pilotos da Honda (Márquez e Pedrosa) não pontuaram em 16 provas neste período.
Os testes realizados em Valência depois do encerramento da temporada de 2015 não são conclusivos, mas os resultados combinados dos dois dias podem apontar uma tendência. A Honda de Márquez foi a mais rápida, seguido de Viñales com uma Suzuki, Pedrosa com a segunda Honda oficial, Aleix Spargaro com Suzuki, Lorenzo com Yamaha, Cal Crutchlow com uma LCR Honda e Valentino apenas em sétimo.
Mesmo a mais competente pitonisa teria dificuldades em prever o que Valentino pode realizar no futuro, começando pela próxima temporada. O final de 2015 foi muito conturbado e suas atitudes criaram um clima adverso com os pilotos espanhóis, seu colega de equipe e os dois da Honda. Suas acusações de uma conspiração espanhola dos pilotos da Honda para favorecer um compatriota não têm muita lógica, eles venceram três das quatro últimas corridas da temporada.
Para 2016 as variáveis são muitas, pneus com nova composição, eletrônica padronizada e várias mudanças no regulamento sugerem um início de ano complicado, com pilotos e equipes iniciando um novo aprendizado. A esperança dos organizadores é que o novo regulamento diminua o gap existente entre os equipamentos na pista e, neste cenário, a experiência de Valentino pode fazer a diferença.
O contrato com a Yamaha encerra-se no final desta temporada e o piloto deixa claro que ainda não tem planos de deixar a MotoGP, quer prolongar sua permanência na elite do motociclismo. Sua meta de igualar e talvez superar os recordes de Giacomo Agostini está próxima, faltam dez vitórias e um título mundial. É uma meta ambiciosa, sobretudo considerando que a concorrência pelo lugar mais alto do pódio tende a ser muito acirrada. Valentino Rossi já tem planejado o que quer fazer quando chegar a hora de deixar o Mundial de Motovelocidade,  campeão da edição 2015 do Rali de Monza, o piloto manifestou o desejo de se aventurar no mundo do rali no futuro.

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