Depois da ausência de um ano por causa da pandemia, o Circuito das Américas situado em Austin voltou a hospedar uma etapa do Mundial de MotoGP. Por ser uma pista multiuso o traçado continuou a ser utilizado em 2020 e estava com o piso em más condições, houve diversas reclamações dos pilotos, alguns inclusive advogando o cancelamento do evento. O piloto da Aprilia, Aleix Espargaro, que contabilizou 5 quedas nos 3 dias da programação do GP, reclamou muito da superfície do asfalto, classificando-a de ridiculamente esburacada. Surpreendentemente o candidato ao título Pecco Bagnaia, da Ducati, anunciou seu apoio ao cancelamento da etapa, não importando o fato de que isso efetivamente acabaria com suas chances de lutar pelo campeonato de 2021.
Uma das quedas de Aleix Espargaro - CotA 2021
A história dos campeonatos mundiais de motovelocidade contempla diversos GPs onde os pilotos se recusaram a correr. Havia uma Associação Internacional de Motociclistas com o objetivo de preservar as condições mínimas de segurança dos condutores. O circuito de Interlagos foi vetado em uma vistoria prévia realizada por Kevin Schwantz em 1991, voltou ao calendario no ano seguinte depois de alterações de layout (inclusão de uma chicane). O arranjo foi considerado insuficiente pelos pilotos e a pista foi definitivamente retirada do calendário
O último boicote bem sucedido aconteceu no GP da Itália de 1989 realizado em Misano, onde os pilotos encontraram um piso perigosamente escorregadio na chuva. Comunicaram aos organizadores que não haveria corrida se o clima não colaborasse no domingo. Houve uma largada e com poucas voltas a chuva chegou, o então líder da prova Kevin Schwantz ergueu o braço e todos recolheram seus equipamentos. Depois de algum tempo, por pressão dos organizadores, houve nova largada com 12 protótipos, apenas um piloto oficial foi para a pista.
Os tempos são outros. Além de circuitos mais seguros, os interesses comerciais tem maior peso quando se trata de cancelar um evento. Antigamente todo o poder de decisão era concentrado em promotores e proprietários de circuitos, o cancelamento de um evento tinha um efeito limitado a talvez 100.000 espectadores presentes no autódromo. Nos dias atuais consideram outros valores como os i interesses comerciais de patrocinadores e cobertura pela mídia, a possível não realização de uma prova também avalia o resultado da frustração de 300 milhões de telespectadores ou usuários de serviços de streaming na internet em todo o mundo.
Existe uma história folclórica sobre pilotos promoverem boicote a GPs. Dez anos atrás, vários dos principais pilotos da MotoGP tentaram, na esteira do desastre nuclear de Fukushima, cancelar o GP do Japão por possíveis riscos de contaminação causada pela radiação que espalhou por partes do país. Uma das vozes mais atuantes neste sentido foi a do campeão Jorge Lorenzo, que disse a jornalistas que tinha tido o acesso a um documentário sobre o desastre nuclear de Chernobyl e estava receoso de visitar Motegi. Seu argumento foi contraditado por um colega com a colocação: “Jorge, isso significa que se você assistir a um filme sobre vampiros vai ficar receoso de correr no escuro no Catar no próximo ano?”.
CotA – Território de Marc Márquez
A MotoGP tem um costume bizarro. Sempre que visita um circuito na América do Norte, 23 dos melhores pilotos do mundo cumprem um ritual estranho de disputar quem vai compartilhar o pódio com Marc Márquez. Tem sido assim desde 2011, a primeira corrida do 6 vezes campeão do mundo nas terras do Tio Sam disputando a Moto2. Desde então o espanhol só não venceu o GP de 2019 quando não completou por um motivo controverso, o piloto diz que errou, porém, vários observadores garantem que foi falha do equipamento. Marc venceu 13 das 14 provas que disputou nos EUA, 2 vezes na Moto2 (Indianápolis) e 11 na MotoGP (uma em Laguna Seca, 3 em Indianápolis e 7 em Austin).
O fato mais marcante da programação do GP dos EUA aconteceu na prova da Moto3, com o ambiente ainda sombrio impactado pela morte de 3 pilotos nos últimos 4 meses.
Alcoba (#52) prestes a ser ultrapassado por Oncu (visíveis apenas suas rodas)
A prova foi interrompida por bandeira vermelha depois de 7 voltas devido ao acidente de Filip Salac na curva 11. Três voltas depois da relargada um grupo estava descendo a longa reta quando tiveram início as disputas habituais pelo vácuo. Utilizar o vácuo é essencial na Moto3, é um acréscimo sem custo de velocidade em uma classe onde todos os equipamentos tem um desempenho muito semelhante.
O piloto turco Deniz Oncu passou por Jeremy Alcoba com velocidade estimada de 225 km/h, e depois para fazer a tomada de curva atravessou na frente de seu concorrente. Sua roda traseira esbarrou na dianteira de Alcoba provocando a queda (highside) do piloto espanhol. Andrea Migno e Pedro Acosta que seguiam no bloco não tiveram tempo para desviar e atingiram a máquina caída do espanhol. A sobrevivência dos 3 pilotos, sem um único osso quebrado, foi uma grande prova da segurança dos equipamentos com a colaboração da largura da pista.
Oncu foi acusado de pilotagem irresponsável e banido por dois GPs por comissários da FIM, por "desviar para a linha de outro piloto". O traçado utilizado pelo piloto turco não é incomum, não desviou agressivamente, mas talvez tenha atravessado na frente de Alcoba mais rapidamente do que precisava.
Migno bate na moto caída de Alcoba e é catapultado da moto
Alcoba e Migno já estão no chão, Acosta cambaleia pelo ar após bater na moto caída de Alcoba
Migno, Acosta e Alcoba se afastam ilesos do acidente
A manobra protagonizada por Oncu não foi super agressiva, mas houve o consenso dos pilotos que os comissários da FIM estavam corretos em dar ao turco de 18 anos uma penalidade de duas corridas, uma sanção dura, mas necessária porque os comissários e a Dorna perderam o controle da Moto3 (Como consertar o pesadelo da Moto3 - StiloHouse 14/08/021) e estão traumatizados pela perda recente de 3 pilotos. Precisam reafirmar sua autoridade de forma rápida e decisiva.
Penalidades tem por objetivo encorajar os pilotos da Moto3 a pensar com mais cuidado sobre o que estão fazendo. Penalizações de posições no grid e voltas longas não são suficientes orque ainda permitem a recuperação do piloto durante o transcorrer das provas.
Moto sinistrada de Zarco passa entre as motos de Vinales e Rossi em Red Bull Ring 2020
De certa forma, o acidente da Moto3 pode ser comparado com o que aconteceu em Red Bull Ring no ano passado entre Johann Zarco e Franco Morbidelli. Na ocasião o piloto francês não deu opção para o ítalo-brasileiro, o choque foi inevitável, por sorte não havia tráfego próximo. Foi considerado culpado por direção irresponsável e penalizado por largar do pitlane na prova seguinte do calendário..
Choque entre Marc Márquez e Valentino Rossi em Sepang 2015
O chamado “incidente em Sepang” que aconteceu em 2015 também remete a uma disputa acirrada entre 2 pilotos que resultou em uma queda do então campeão do mundo em um contexto semelhante. Relembrando, na ocasião Valentino Rossi estava em busca de seu 10º título mundial e encontrou Marc Márquez na pista. Houve uma feroz disputa por posições e em um determinado momento aconteceu a queda do piloto Honda. Valentino Rossi foi considerado culpado pelos comissários e a sua penalização foi largar no fim do grid na última etapa do ano, que sepultou em definitivo suas esperanças no campeonato (vencido por Jorge Lorenzo).
Embora tenha tido ampla cobertura da mídia e múltiplas imagens, as causas do acidente ainda são controversas, uns alegam que Márquez caiu sozinho, outros que teria havido um toque intencional de Rossi. As narrativas contraditórias duram até os dias atuais e as são semelhantes à situação descrita por Morais Moreira na letra de seu sucesso “O Rei do gatilho: “Ele atirou, eu atirei, e nós trocamos tantos tiros que até hoje ninguém sabe quem morreu. Eu garanto que foi ele, ele garante que fui eu”.
Após o desastre na corrida de Moto3, a Moto2 voltou ao básico, Ao final de 18 voltas difíceis, o espanhol Raul Fernandes conquistou a sua terceira vitória consecutiva, igualando o recorde de Marc Márquez como o novato com maior número de vitórias na Moto2. Fabio Di Giannantonio tentou desafiar o líder e conquistou seu segundo pódio na temporada.
Os mais atentos notaram que o terno utilizado por Marc Márquez na prova tinha uma ligeira diferença, era mais largo no braço direito. Este detalhe permitiu mais conforto e liberdade para voltar a colocar o cotovelo no chão. O espanhol ainda não está com sua condição física ideal, porém todos já entenderam que ele já é um dos candidatos ao título em 2022.
A recuperação de Marc Márquez está próxima do ponto ideal
Uma das quedas de Aleix Espargaro - CotA 2021
A história dos campeonatos mundiais de motovelocidade contempla diversos GPs onde os pilotos se recusaram a correr. Havia uma Associação Internacional de Motociclistas com o objetivo de preservar as condições mínimas de segurança dos condutores. O circuito de Interlagos foi vetado em uma vistoria prévia realizada por Kevin Schwantz em 1991, voltou ao calendario no ano seguinte depois de alterações de layout (inclusão de uma chicane). O arranjo foi considerado insuficiente pelos pilotos e a pista foi definitivamente retirada do calendário
O último boicote bem sucedido aconteceu no GP da Itália de 1989 realizado em Misano, onde os pilotos encontraram um piso perigosamente escorregadio na chuva. Comunicaram aos organizadores que não haveria corrida se o clima não colaborasse no domingo. Houve uma largada e com poucas voltas a chuva chegou, o então líder da prova Kevin Schwantz ergueu o braço e todos recolheram seus equipamentos. Depois de algum tempo, por pressão dos organizadores, houve nova largada com 12 protótipos, apenas um piloto oficial foi para a pista.
Os tempos são outros. Além de circuitos mais seguros, os interesses comerciais tem maior peso quando se trata de cancelar um evento. Antigamente todo o poder de decisão era concentrado em promotores e proprietários de circuitos, o cancelamento de um evento tinha um efeito limitado a talvez 100.000 espectadores presentes no autódromo. Nos dias atuais consideram outros valores como os i interesses comerciais de patrocinadores e cobertura pela mídia, a possível não realização de uma prova também avalia o resultado da frustração de 300 milhões de telespectadores ou usuários de serviços de streaming na internet em todo o mundo.
Existe uma história folclórica sobre pilotos promoverem boicote a GPs. Dez anos atrás, vários dos principais pilotos da MotoGP tentaram, na esteira do desastre nuclear de Fukushima, cancelar o GP do Japão por possíveis riscos de contaminação causada pela radiação que espalhou por partes do país. Uma das vozes mais atuantes neste sentido foi a do campeão Jorge Lorenzo, que disse a jornalistas que tinha tido o acesso a um documentário sobre o desastre nuclear de Chernobyl e estava receoso de visitar Motegi. Seu argumento foi contraditado por um colega com a colocação: “Jorge, isso significa que se você assistir a um filme sobre vampiros vai ficar receoso de correr no escuro no Catar no próximo ano?”.
CotA – Território de Marc Márquez
A MotoGP tem um costume bizarro. Sempre que visita um circuito na América do Norte, 23 dos melhores pilotos do mundo cumprem um ritual estranho de disputar quem vai compartilhar o pódio com Marc Márquez. Tem sido assim desde 2011, a primeira corrida do 6 vezes campeão do mundo nas terras do Tio Sam disputando a Moto2. Desde então o espanhol só não venceu o GP de 2019 quando não completou por um motivo controverso, o piloto diz que errou, porém, vários observadores garantem que foi falha do equipamento. Marc venceu 13 das 14 provas que disputou nos EUA, 2 vezes na Moto2 (Indianápolis) e 11 na MotoGP (uma em Laguna Seca, 3 em Indianápolis e 7 em Austin).
O fato mais marcante da programação do GP dos EUA aconteceu na prova da Moto3, com o ambiente ainda sombrio impactado pela morte de 3 pilotos nos últimos 4 meses.
Alcoba (#52) prestes a ser ultrapassado por Oncu (visíveis apenas suas rodas)
A prova foi interrompida por bandeira vermelha depois de 7 voltas devido ao acidente de Filip Salac na curva 11. Três voltas depois da relargada um grupo estava descendo a longa reta quando tiveram início as disputas habituais pelo vácuo. Utilizar o vácuo é essencial na Moto3, é um acréscimo sem custo de velocidade em uma classe onde todos os equipamentos tem um desempenho muito semelhante.
O piloto turco Deniz Oncu passou por Jeremy Alcoba com velocidade estimada de 225 km/h, e depois para fazer a tomada de curva atravessou na frente de seu concorrente. Sua roda traseira esbarrou na dianteira de Alcoba provocando a queda (highside) do piloto espanhol. Andrea Migno e Pedro Acosta que seguiam no bloco não tiveram tempo para desviar e atingiram a máquina caída do espanhol. A sobrevivência dos 3 pilotos, sem um único osso quebrado, foi uma grande prova da segurança dos equipamentos com a colaboração da largura da pista.
Oncu foi acusado de pilotagem irresponsável e banido por dois GPs por comissários da FIM, por "desviar para a linha de outro piloto". O traçado utilizado pelo piloto turco não é incomum, não desviou agressivamente, mas talvez tenha atravessado na frente de Alcoba mais rapidamente do que precisava.
Migno bate na moto caída de Alcoba e é catapultado da moto
Alcoba e Migno já estão no chão, Acosta cambaleia pelo ar após bater na moto caída de Alcoba
Migno, Acosta e Alcoba se afastam ilesos do acidente
A manobra protagonizada por Oncu não foi super agressiva, mas houve o consenso dos pilotos que os comissários da FIM estavam corretos em dar ao turco de 18 anos uma penalidade de duas corridas, uma sanção dura, mas necessária porque os comissários e a Dorna perderam o controle da Moto3 (Como consertar o pesadelo da Moto3 - StiloHouse 14/08/021) e estão traumatizados pela perda recente de 3 pilotos. Precisam reafirmar sua autoridade de forma rápida e decisiva.
Penalidades tem por objetivo encorajar os pilotos da Moto3 a pensar com mais cuidado sobre o que estão fazendo. Penalizações de posições no grid e voltas longas não são suficientes orque ainda permitem a recuperação do piloto durante o transcorrer das provas.
Moto sinistrada de Zarco passa entre as motos de Vinales e Rossi em Red Bull Ring 2020
De certa forma, o acidente da Moto3 pode ser comparado com o que aconteceu em Red Bull Ring no ano passado entre Johann Zarco e Franco Morbidelli. Na ocasião o piloto francês não deu opção para o ítalo-brasileiro, o choque foi inevitável, por sorte não havia tráfego próximo. Foi considerado culpado por direção irresponsável e penalizado por largar do pitlane na prova seguinte do calendário..
Choque entre Marc Márquez e Valentino Rossi em Sepang 2015
O chamado “incidente em Sepang” que aconteceu em 2015 também remete a uma disputa acirrada entre 2 pilotos que resultou em uma queda do então campeão do mundo em um contexto semelhante. Relembrando, na ocasião Valentino Rossi estava em busca de seu 10º título mundial e encontrou Marc Márquez na pista. Houve uma feroz disputa por posições e em um determinado momento aconteceu a queda do piloto Honda. Valentino Rossi foi considerado culpado pelos comissários e a sua penalização foi largar no fim do grid na última etapa do ano, que sepultou em definitivo suas esperanças no campeonato (vencido por Jorge Lorenzo).
Embora tenha tido ampla cobertura da mídia e múltiplas imagens, as causas do acidente ainda são controversas, uns alegam que Márquez caiu sozinho, outros que teria havido um toque intencional de Rossi. As narrativas contraditórias duram até os dias atuais e as são semelhantes à situação descrita por Morais Moreira na letra de seu sucesso “O Rei do gatilho: “Ele atirou, eu atirei, e nós trocamos tantos tiros que até hoje ninguém sabe quem morreu. Eu garanto que foi ele, ele garante que fui eu”.
Após o desastre na corrida de Moto3, a Moto2 voltou ao básico, Ao final de 18 voltas difíceis, o espanhol Raul Fernandes conquistou a sua terceira vitória consecutiva, igualando o recorde de Marc Márquez como o novato com maior número de vitórias na Moto2. Fabio Di Giannantonio tentou desafiar o líder e conquistou seu segundo pódio na temporada.
Os mais atentos notaram que o terno utilizado por Marc Márquez na prova tinha uma ligeira diferença, era mais largo no braço direito. Este detalhe permitiu mais conforto e liberdade para voltar a colocar o cotovelo no chão. O espanhol ainda não está com sua condição física ideal, porém todos já entenderam que ele já é um dos candidatos ao título em 2022.
A recuperação de Marc Márquez está próxima do ponto ideal
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