Marc Márquez com
inclinação de 66⁰ em Sachsenring
Os resultados obtidos pela Honda na primeira metade desta temporada, liderança dos mundiais de pilotos e de construtores, foram obtidos por um único piloto: Marc Márquez. O próximo concorrente com um equipamento Honda, Cal Crutchlow da satélite LCR, divide a 8ª posição no campeonato com o rookie Fábio Quartararo. Seria razoável inferir que, sem Márquez, a Honda seria apenas uma equipe disputando posições intermediárias? Não necessariamente.
O sucesso em uma competição depende da integração entre pessoas, estratégias, condição física e equipamento. Desde a sua primeira participação no mundial de motovelocidade a sessenta anos atrás a determinação da Honda sempre foi construir protótipos que pudessem ter um desempenho superior aos demais e, na medida do possível, ter um piloto de exceção que pudesse extrair o máximo do recurso disponível.
Tem sido assim a mais de meio século. A equipe japonesa sempre trabalhou com pilotos que podem tirar o melhor de qualquer moto disponível, como Mike Hailwood, Freddie Spencer, Wayne Gardner, Eddie Lawson, Mick Doohan, Valentino Rossi, Casey Stoner e ultimamente Marc Márquez. Todos venceram provas e campeonatos com equipamentos Honda, alguns explorando seus pontos fortes, outros apostando na consistência e evitando seus pontos fracos.
Estes últimos anos têm sido atípicos para a Honda. Márquez é o único piloto com uma moto da fábrica nos top 5 do campeonato. A vocação do fabricante sempre é construir equipamentos que possam levar qualquer piloto à vitória. Em 2001 desenvolveu a RC211V, uma moto com motor de 5 cilindros, 20 válvulas e 4 tempos para substituir a NSR500 de 2 tempos. Em 2003 conquistou as três primeiras colocações no mundial. O ano seguinte, 2004 ficou marcado pela migração para a Yamaha e vitória de Rossi, porém cinco dos seis primeiros utilizavam equipamentos da fábrica japonesa. As NS500 e NSR500, que também foram motos complicadas para conduzir, foram essenciais para a obtenção de vitórias por Spencer, Gardner e Lawson.
Para a Honda vencer ocasionalmente não é suficiente, acredita que as competições servem para provar a superioridade da sua tecnologia sobre todas as outras marcas. Faz sentido, não existem ruas ou praças batizadas em homenagem a vice-governador ou, talvez, ginásios de esportes com o nome de lutadores nocauteados nas lutas finais pelo cinturão mundial. A grande verdade foi expressa por Ayrton Senna, “Segundo é o primeiro que perde”.
Neste momento, Márquez não está apenas muito à frente dos demais pilotos que correm com as RC213V, ele também está muito à frente de todos os pilotos que disputam o mundial. Em toda a sua carreira na MotoGP só não venceu em 2015 por ter somado seis quedas em 18 provas, que ele mesmo explica pela sensação de onipotência por ter vencido os dois mundiais anteriores. O talento natural, auxiliado por preparo físico e mental moderado e com experiência faz dele um piloto difícil de bater. Seu desempenho este ano é admirável, das nove provas disputadas venceu cinco e chegou três vezes em segundo lugar. A muito custo a Honda admite que sua queda em Austin foi ocasionada por uma falha no freio motor.
Em 2018 (2017?) uma publicação especializada em esportes a motor pediu para os pilotos da MotoGP que projetassem o que considerariam o circuito ideal, Márquez sugeriu um hexágono com orientação contra o relógio, seis curvas para a esquerda, explicitando a sua predileção por este tipo de contorno. Sachsenring é um circuito curto (apenas 3.671 km) com 10 curvas para a esquerda e só 3 para a direita, é o traçado da temporada que mais se aproxima do sonho do piloto. A transmissão oficial mostrou que em algumas ocasiões ele inclinava a moto 66⁰ para contornar as curvas. Cal Crutchlow em uma entrevista recente declarou que o normal seria outros pilotos serem tão velozes quanto ele com a RC213V, entretanto ele, Jorge Lorenzo, Takaaki Nakagami e Stefan Bradl simplesmente não conseguem.
No GP da Alemanha realizado no circuito de Sachsenring nesta temporada teve o seu dia de Fórmula 1, desde os primeiros treinos todos sabiam quem seria o vencedor. O resultado final, com 3 Honda, 3 Ducati, 3 Yamaha e uma Suzuki formando o top ten, com a previsível vitória do #93 e disputas apenas do 2º em diante. A última prova antes do recesso de verão na Europa serviu para comprovar algumas ideias que estão ganhando corpo no ambiente da MotoGP.
Apesar dos últimos resultados, que já projetavam Fábio Quartararo como um provável aspirante ao título, a inexperiência do jovem piloto ainda é visível e, na próxima temporada já sem as concessões do regulamento, as condições de disputas não devem apresentar tanta facilidade. Alex Rins precisa entender quando não tem condições para acompanhar pilotos mais velozes, a queda na prova tentando não perder o contato com Márquez o tirou de um pódio garantido. Tem pistas que exigem mais agilidade que potência onde as Ducati não funcionam bem, o 4º e 5º lugares da equipe oficial evidencia que a fábrica não acredita mais no campeonato este ano e liberou seus pilotos para disputarem entre si, única justificativa para Petrucci terminar na frente de Dovizioso. A Pramac Ducati de Jack Miller disputou posições com as máquinas da fábrica e ficou com a 6ª posição.
Depois de desistências nas três etapas anteriores, e de não conseguir classificação direta para o Q2, nuvens pesadas pairam sobre a cabeça de Valentino Rossi. As esperanças de um bom resultado para a equipe oficial da Yamaha no GP Alemão estiveram centradas em Maverick Vinales, 2º na prova e único vencedor com equipamentos da fábrica na temporada atual e anterior. Valentino fechou em 8º e está com apenas 80 pontos depois de 9 etapas.
A Equipe LCR, satélite da Honda, mandou para a pista 2 pilotos sem as melhores condições físicas. Cruchlow se acidentou no dia anterior aos treinos livres com uma bicicleta, retirou líquido do joelho, correu entupido de antibióticos e analgésicos e brigou o tempo todo pela 2ª colocação, só se conformou com a 3ª quando não tinha mais pneus no final. Nakagami ainda se recupera do acidente na prova anterior (foi abalroado por Rossi) e só se locomoveu nos boxes apoiado por muletas, ainda assim conseguiu pontuar (14ª colocação).
Johann Zarco e sua KTM continuam falando idiomas diferentes, o piloto que brilhou com a Yamaha da Tech3 na temporada passada caiu, assim como Aleix, Rins e Quartararo. Joan Mir (7º) manteve a consistência das últimas provas com a Suzuki, Morbidelli (9º) representou a Petronas e Stefan Bradl levou a Repsol-Honda de Lorenzo para a 10ª posição.
A Ducati oficial lidera o mundial de equipes com 248 pontos, 127 de Dovi e 121 de Petrucci, seguida da Honda com 210, 185 de Márquez, 19 de Lorenzo e 6 de Bradl. Com uma provável recuperação de Lorenzo na segunda metade da temporada, a equipe espano-nipônica pretende inverter a vantagem atual dos italianos.
Uma nota sobre a MotoE
Sachsenring hospedou um evento inédito, a primeira prova oficial da MotoE. Um grid de largada com 18 equipamentos, mesclando uma grande diversidade de pilotos, alguns já bastante rodados como Sete Gibernau, outros com passagens recentes na MotoGP como Bradley Smith, Alex de Angelis, Xavier Simeon e Maria Herrera. As provas são necessariamente curtas, aproximadamente 1/3 da distância da MotoGP por causa do peso e carga das baterias, limitando as possibilidades de recuperação de qualquer problema, como o que aconteceu com Eric Granado na primeira volta da prova. Para efeitos de comparação, na Alemanha a velocidade média da MotoGP foi 160,6 km/h, da Moto2 155,7 km/h, da Moto3 150,5 km/h e MotoE 147,5 km/h. Visualmente o espetáculo é muito semelhante a outras corridas de motocicletas, com exceção do ruído que lembra o originado pela broca de um dentista.
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