quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

MotoGP - Semelhantes, não iguais






MotoGP é uma oportunidade fantástica para as fábricas envolvidas na disputa divulgarem a excelência de sua engenharia e de seus produtos para o público. A competição contempla exclusivamente protótipos com um regulamento restritivo, especificando inclusive limitação de gastos onde é possível, para proporcionar um espetáculo competitivo.


Os motores devem ser aspirados, a capacidade cúbica é definida pelo maior volume que pode ser contido em um cilindro, ou seja, a área da seção plana multiplicada pelo curso, multiplicado ainda pelo número de cilindros. Nenhuma tolerância é permitida, a capacidade do motor deve ser medida na temperatura ambiente. As regras especificam que as fabricas devem lacrar sete motores por piloto inscrito na temporada (9 no regime de concessões) antes da primeira etapa do mundial, programado para o Catar em 10 de março de 2019. O regulamento também obriga o uso da eletrônica padronizada. Houve uma época em que a MotoGP era mais leniente com as regras, a Yamaha e Honda monopolizavam as vitórias e foi necessário introduzir regras mais restritivas para equalizar a competitividade entre equipamentos e atrair novos competidores e fabricantes.


O componente mais importante de um protótipo de competição é o motor, todos os seus componentes são projetados para aumentar a sua eficiência. O principal objetivo é desenvolver uma unidade que permita alta rotação e simultaneamente seja compacta e confiável. Não há um melhor absoluto neste caso, os fabricantes continuam a desenvolver seus conceitos preferidos em busca de um pacote altamente competitivo e que eventualmente as melhorias alcançadas, principalmente redução de peso e consumo possam ser portadas para a sua linha de produção. 


O motor de quatro tempos foi patenteado em 1861 e o primeiro foi construído por Nikolaus Otto utilizando como combustível uma mistura de gás e carvão. O princípio de quatro tempos é conhecido como Ciclo Otto e foi muito aperfeiçoado até os dias atuais. Não existem muitos segredos para conseguir maior potência, entretanto no caso da MotoGP o excesso dificulta a condução das motos e acaba com os pneus. Os engenheiros travam uma luta insana para conter o excesso de energia trabalhando na escolha de pneus, chassi, suspensão e componentes eletrônicos. Estes numerosos cenários tornam a MotoGP um esporte único. 


O regulamento da competição especifica capacidade cúbica até 1000 cc, exclusivamente quatro tempos, máximo de 4 cilindros com diâmetro de até 81mm. Existem duas configurações possíveis, a disposição dos quatro cilindros em V, princípio utilizado por Honda, Ducati, Aprilia e KTM ou em linha como os propulsores da Yamaha e Suzuki.



Cilindros em Linha

O motor de quatro cilindros em linha é a configuração mais tradicional atualmente em uso e tem diversas vantagens. Pode produzir energia com facilidade, seus cilindros permitem a combustão mais eficiente facilitando a capacidade de carga e consumo de combustível. Os quatro cilindros em linha resultam em maior a área frontal da moto, criando arrasto aerodinâmico que reduz a velocidade máxima e diminui a aceleração em altas velocidades. O quatro em linha também usa um virabrequim muito longo, que pode produzir vibrações torcionais excessivas.

A Yamaha usa um eixo de manivela de plano cruzado patenteado não convencional e trabalha na temporização de disparos desigual (Big Bang) para acompanhar os motores V. Acredita-se que a técnica de produção do virabrequim utilizado na M1 demande entre 4 a 5 semanas para obter um produto final, que deve suportar as exigências de 18.000 rpm.



Cilindros em V

A configuração do V4 tem uma série de vantagens, pode produzir a mesma potência que os quatro em linha, o motor é aproximadamente 35% mais estreito, auxilia a aerodinâmica e usa um virabrequim muito mais curto (e consequentemente mais rígido). O intervalo de disparo típico do V4 (screamer) pode ser reprogramado para ser assimétrico (big bang) e auxiliar a tração e dirigibilidade.

Honda, Ducati e KTM utilizam um ângulo de 90 graus, a Aprilia opta por um ângulo mais agudo, de 75 graus, e utiliza um sistema de compensações para anular os desequilíbrios secundários.



Acionamento de Válvulas

Os motores tradicionais utilizam um excêntrico para comandar a abertura da válvula e molas de retorno para o seu fechamento. Com o aumento do giro dos motores, o tempo de resposta da mola passou a ser um fator de limitação e não é mais suficiente, todos os fabricantes, exceto a Ducati, recorreram ao uso de válvulas pneumáticas, que usam ar comprimido (nitrogênio) em vez de molas de fio de metal. A Ducati continuou a confiar no seu sistema mecânico de válvulas desmodromicas que utiliza dois excêntricos e dois atuadores para abertura e fechamento, sem molas de retorno.



Chassis. Braço Oscilante, Suspenção e Freios

O chassi de um protótipo de competição deve ser rígido e, ao mesmo tempo, permitir uma certa flexão em ângulos de inclinação extremos quando as suspensões têm funcionamento restrito. O quadro das motos para quase todos os fabricantes é montado com tubos duplos de alumínio, a KTM optou por um conceito diferente e implementa uma treliça de aço. Um componente importante é o braço oscilante, Yamaha, Suzuki e KTM utilizam peças de alumínio, a da Ducati é de fibra de carbono, na Honda e Aprilia pode ser alumínio ou fibra de carbono, dependendo ocasião. Todas as motos compartilham os sistemas de freios Brembo e, com exceção da KTM, os outros fabricantes centram a tecnologia de suspenções na nos sistemas Ohlins com garfos telescópicos na frente e amortecedores pro-link na traseira, 


Os objetivos dos gestores da MotoGP de obter um grid de largada altamente competitivo onde todos tivessem condições de obter a vitória estão muito próximos. Embora com diferenças conceituais, a rigidez dos regulamentos está aproximando o desempenho dos equipamentos e as equipes buscam diferenciais nos detalhes. A observação do comportamento das motos nas pistas cresceu em importância e os fabricantes, Aprilia é a única exceção, investem em equipes independentes para aumentar a coleta de informações. Houve uma inversão na política de tratamento das chamadas “satélites”, evoluiu de clientes das fábricas, onde simplesmente recebiam os equipamentos da temporada anterior, para parceiros de desenvolvimento. Há, entretanto, um detalhe que não pode ser equalizado pelos organizadores, o talento dos condutores. Os regulamentos do FIM Grand Prix World Championship para 2019 estão criando um ambiente que caracteriza um verdadeiro mundial de pilotos.

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