quarta-feira, 28 de novembro de 2018

MotoGP – No pain, no gain




Marc Márquez

“No pain, no gain” é uma expressão em inglês que pode ser traduzida como “sem dor, sem recompensa”. Utilizado originalmente na prática do halterofilismo, indica que sem fazer esforço a ponto de causar dor, o atleta não será capaz de desenvolver a musculatura necessária para conseguir grandes realizações. Esta expressão generalizou-se na prática dos esportes com o sentido ampliado de que todo o sucesso obrigatoriamente é precedido por um trabalho intenso. O exemplo da MotoGP é particularmente didático, nos últimos dois anos piloto com maior número de acidentes na temporada foi o que venceu o campeonato mundial. Óbvio que o maior número de quedas não é uma condição necessária para um piloto ser bem-sucedido, neste caso um condutor particularmente desastrado ou azarado teria grande vantagem. Não é só uma coincidência que o campeão Marc Márquez detenha também o registro de piloto da MotoGP com maior número de acidentes na temporada. No seu caso é mais uma questão de método, de opção de trabalho, um indicador da sua obsessão em buscar os limites do equipamento.

Em toda a temporada de 2018 Marc não pontuou em quatro das dezoito provas, duas delas depois de ter garantido o título. Em Rio Hondo ele aprontou horrores, deixou o motor morrer no alinhamento de largada, penalizado com um pit-stop (saiu barato, devia receber uma bandeira preta) retornou alucinado recuperando posições e provocou vários toques com outros competidores, um deles causou a queda de Valentino Rossi. Recebeu 15 segundos por condução temerária e ficou fora da zona de pontuação. Em Misano , sofreu uma queda em Mugello quando estava na vice-liderança, recuperou a moto e classificou-se em 16º (zero pontos). Foi abalroado por Johann Zarco  Phillip Island e, por uma escolha errada de pneus contrariando toda a equipe foi uma das vítimas do dilúvio em Valência. Das 23 quedas na temporada só duas foram durante provas e em consequência de erros pessoais, todas as outras foram em testes nos fins de semana dos GPs enquanto buscava identificar os limites da moto e dos pneus. Não é uma opção sem riscos, o campeão convive com um problema crônico no ombro, que deve exigir uma correção cirúrgica no início do próximo ano.

O banco de dados mantido pela administradora da MotoGP contém registros detalhados de tudo o que acontece durante os três dias de um GP. Uma consulta aos registros da organização indica que o número de quedas nos eventos oficiais aumentou desde 2016, ano de introdução da eletrônica padronizada e mudança da fornecedora de pneus para a Michelin. Além da perda do auxílio proporcionado pelo software proprietário, a fábrica francesa disponibiliza um número maior de opções e trabalha com uma janela muito estreita de temperatura., que exige maior sensibilidade dos pilotos.  

Os números apresentados abaixo foram obtidos no site motogp.com e incluem apenas as ocasiões em que a moto não conseguiu permanecer na pista, não contabilizam ocasiões onde o piloto consegue voltar para a prova.

Quedas na MotoGP (Resumo 2012-2018)
Piloto
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Marc Márquez
15
11
13
17
27
23
Alvaro Bautista
13
11
14
4
16
26
21
Xavier Simeon
18
Cal Crutchlow
14
14
10
12
26
24
17
Jack Miller
18
25
14
17
Karel Abraham
10
7
13
6
15
15
Takaaki Nakagami
15
Thomas Luthi
13
Aleix Espargaro
6
10
10
7
15
19
12
Pol Espargaro
14
13
14
11
12
Alex Rins
8
12
Andrea Iannone
12
14
5
13
15
11
Franco Morbidelli
11
Scott Reding
9
7
10
11
11
Bradley Smith
7
16
11
8
7
11
Tito Rabat
16
10
10
Dani Pedrosa
6
6
6
3
10
9
9
Hafizh Syahrin
9
Johann Zarco
12
9
Valentino Rossi
6
4
5
2
4
4
8
Jorge Lorenzo
5
3
2
3
11
9
6
Michele Pirro
8
4
2
1
7
2
6
Andrea Dovizioso
5
3
4
6
6
6
5
Jordi Torres
5
Danilo Petrucci
6
4
4
7
10
9
4
Maverick Vinales
8
5
7
4
Stefan Bradl
9
11
13
8
14
3
Mika Kallio
2
3
Loris Baz
8
13
15
1
Sylvain Guintoli
2
1
Katsuyuki Nakasuga
1
1
1
1
1
Total
89
111
148
143
241
264
303


Considerando todas as categorias do FIM World Championship Grand Prix, Márquez foi o quinto em número de quedas nesta temporada (2018), atrás dos pilotos da Moto2 Stefano Manzi (31), Sam Lowes (27) e Jorge Navarro (24) , e da Moto3 Marco Bezzecchi (24).


Maior número de quedas em 2018 (todas as classes)
Piloto
Quedas
Classe
Stefano Manzi
31
Moto2
Sam Lowes
27
Moto2
Marco Bezzecchi
24
Moto3
Jorge Navarro
24
Moto2
Marc Márquez
23
MotoGP
Gabriel Rodrigo
22
Moto3
Tatsuki Suzuki
21
Moto3
Alvaro Bautista
21
MotoGP
Alex Márquez
19
Moto2
Iker Lecuona
18
Moto2
Xavier Simeon
18
MotoGP


Houve um total de 1.077 incidentes incluindo todas as classes nesta temporada, um número ligeiramente inferior ao de 2017. Em valores médios é menor índice desde 2015, embora este número seja relativo porque, embora travestido de um rigor matemático, os registros da MotoGP em 2018 consideram 19 etapas por categoria nesta temporada, porém em Silverstone não houveram as provas (MotoGP, Moto2 e Moto3), embora os eventos preliminares tenham sido realizados.

.
Estatísticas de quedas por temporada por classe (2012 a-2018)
Temporada
MotoGP
Moto2
Moto3
Total
Etapas
Média
2018
303
418
356
1077
57
18,89
2017
313
434
379
1126
54
20,85
2016
288
364
410
1062
54
19,67
2015
215
352
409
976
54
18,07
2014
206
408
367
981
54
18,17
2013
205
344
314
863
52
16,60
2012
186
371
348
905
52
17,40


O layout e a aderência do piso dos circuitos também contribuem para a ocorrência mais ou menos acidentes, as características combinadas das pistas de Le Mans e Barcelona são as mais desafiadoras para os pilotos. Em 2018 os números de Valência extrapolaram por causa do clima adverso em todo o final de semana. Os treinos foram paralisados duas vezes por excesso de chuva, a prova principal no domingo também foi interrompida com uma bandeira vermelha para dar tempo de escoar a água da pista.

Quedas em 2018 por circuito
Valência
155
Le Mans
109
Barcelona
100
Misano
75
Phillip Island
69
Jerez
56
Motegi
53
Sachsenring
52
Buriram
51
Mugello
47
Sepang
46
Brno
44
Red Bull Ring
39
Aragon
36
Assen
34
Losail
31
CotA
30
Silverstone
30
Rio Hondo
20

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