Jorge Lorenzo no GP da Malásia em 2017
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O que todos já imaginavam, mas nunca tinha sido
comprovado, é que existem, também na MotoGP, ordens de equipes influenciando o
resultado final das provas. Na prova seguinte em Valência, encerramento da
temporada, existiam chances de Dovizioso conseguir o título, (1) devia
obrigatoriamente vencer a prova e (2) esperar que Márquez não ficasse entre os
dez primeiros. Improvável, mas não impossível. Houve quem lembrasse que em uma
situação semelhante Nicky Hayden ganhou o mundial de 2006 competindo contra
Valentino Rossi. Durante a prova houve um conjunto de circunstâncias que
colocaram, em determinado momento, Zarco, Márquez, Pedrosa, Lorenzo e Dovizioso
nas cinco primeiras posições. Faltando 18 voltas para o final o visor da Ducati
#99 repetiu a mensagem de Sepang: “Suggested Mapping: Mapping 8”. Desta vez
Lorenzo não obedeceu, ele estava tentando o pódio e deixar o colega ultrapassar
não seria significativo para o resultado do mundial. O recado foi irritantemente
repetido inúmeras vezes, reforçado por painéis apresentados no muro do pit,
Lorenzo ignorou todos. Faltando 7 voltas Márquez decidiu tomar a ponta e na primeira
curva depois da ultrapassagem perdeu o equilíbrio, recorreu a toda a sua habilidade
de lidar com imprevistos para conseguir controlar a moto passando pela área de
escape, caiu da liderança para a 5ª posição, atrás de Dovizioso. A transmissão
de TV foi muito feliz ao capturar no momento a expressão de incredulidade do
staff da Ducati pelo espanhol ter evitado a queda. Uma volta depois, ainda sem
ter entregue a posição, Jorge Lorenzo caiu. Segundos depois aconteceu a queda
de Dovizioso, acabando com as suas (pouquíssimas) esperanças.
Os episódios de Sepang e Valência alimentaram a
curiosidade sobre os mapeamentos, software e como são utilizados. Todos os
componentes dinâmicos ou sujeitos a variações de temperatura ou pressão em um
protótipo de competição tem sensores de controle que indicam suas medidas
instantâneas. Baseadas nestas amostragens diversos componentes podem ser
calibrados para oferecer o máximo desempenho. Se, por exemplo, os sensores das
rodas registrarem que a roda dianteira está mais lenta que a traseira, a
central eletrônica unificada (ECU) entende que ela descolou do piso e aciona os
procedimentos anti whellie, se a traseira está mais rápida, significa que está
deslizando e o torque aplicado deve ser reduzido.
Todos os circuitos do mundial de
motovelocidade são divididos em 4 setores, delimitados por balizas eletrônicas.
As equipes definem para cada setor um conjunto de calibragens ideal para obter a
maior eficiência de cada componente, motor, freios, suspensão e técnica do
piloto. As condições de contorno podem alterar em função das variações que
ocorrem por degradação dos pneus, redução de peso pelo consumo de combustível
ou volume de tráfego.
A calibragem ideal para um setor pode
mudar durante a prova, por isso as equipes de apoio produzem diversos mapas,
que podem ser trocados por comandos do piloto. De acordo com desenrolar de uma
prova o condutor pode alterar o mapa em uso, ou a retaguarda dos boxes pode
sugerir um mapa para obter um resultado específico. Em uma corrida recente,
faltando 6 voltas para terminar a etapa no Circuito das Américas, as motos #42
e #46 travavam uma disputa feroz pela liderança. O pessoal de apoio da Suzuki, analisando
os dados da telemetria, identificou que em um dos setores a Yamaha do líder Valentino
Rossi não tinha um bom desempenho. Sugeriram que Alex Rins utilizasse o “Mapping
3” que privilegiava o desempenho da moto #42 no setor, duas voltas depois Rins
conseguiu a ultrapassagem.
Controles da MotoGP & F1
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Na MotoGP a maneira como um
piloto se coloca em relação a sua máquina influi na eficiência da frenagem,
tração e desgaste dos pneus, cada movimento tem uma consequência. Como a condução
de um protótipo é muito física, os pilotos estão em constante movimento e os controles mecânicos
são obrigatoriamente reduzidos. O “cockpit” é projetado para minimizar
o maior inimigo dos tempos por volta, o arrasto aerodinâmico. Não é por coincidência
que os pilotos ficam encolhidos atrás da bolha de acrílico da carenagem. Na
posição agachada as ações são obviamente muito limitadas, a visão periférica é
menor e existem poucas possibilidades de interagir com controles além dos
óbvios, acelerador, embreagem e freio. Apesar do número limitado de controles,
a troca de mapas não é um processo trivial e por vezes confunde os pilotos,
como aconteceu com Lorenzo na largada da Argentina este ano.
A obrigatoriedade de uso do
pacote de eletrônica padronizado foi uma das maneiras encontradas pelos
organizadores para equalizar as condições de competitividade dos equipamentos
da MotoGP. No tempo dos softwares proprietários havia uma disparidade de
recursos e fabricantes com orçamentos mais robustos (Yamaha e Honda) eram
hegemônicos. Para alguns foi uma mudança radical, Valentino Rossi quando o
pacote foi implementado, declarou que sua funcionalidade era equivalente ao que
a Yamaha utilizava dez anos atrás. O novo ambiente resgatou a necessidade de
sensibilidade dos pilotos, no esquema antigo o condutor abria todo o acelerador
e o software limitava os excessos, nos dias atuais a máquina responde de acordo
com o que foi solicitado. Muito do salto de qualidade da Ducati nas últimas
temporadas se deveu à visão de seus dirigentes, que contrataram engenheiros que
participaram do desenvolvimento do software padrão para conhecer suas
limitações e explorar melhor as suas possibilidades. Conhecer como o software
interpreta as indicações dos sensores ajuda aos engenheiros das equipes criar
mapas com as escolhas mais eficientes para cada setor de uma pista.
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