segunda-feira, 24 de setembro de 2018

MotoGP: Aragon 2018 – A hora do louco


Dovizioso, Iannone & Márquez - Motorland 2018


O título é de um conto publicado por Luiz Fernando Verissimo muitos anos atrás. O autor utilizou uma alegoria com o futebol explicando que estratégia e racionalidade só são válidos por determinado tempo e em determinadas circunstâncias. Se nada do planejado e treinado funcionar e o tempo estiver se esgotando, chegou a “hora do louco”. Nos minutos finais de uma partida, se o placar não for adequado, o técnico abandona tudo o que foi exercitado nos treinos e manda a bola ser levantada para a área. O que o técnico não fala nas preleções é que futebol é civilização, mas só até os 87 minutos. Daí por diante é a hora do louco. A única lógica é a da bola espirrada.
Esta foi a linha de raciocínio que Marc Márquez utilizou na vitória obtida no GP realizado em Aragon. Ele sempre soube que era o único com condições de alterar a trajetória vitoriosa do exército vermelho da Ducati, porém para efeitos de campeonato marcar pontos e administrar o resultado sem correr riscos seria um excelente negócio. Seu planejamento antes da prova indicava, se possível, acompanhar as Ducati e tentar o pódio. O plano original de esperar uma disputa entre os dois colegas da equipe vermelha e foi abortado já na primeira curva com a queda de Lorenzo. Márquez assumiu a liderança e não ofereceu resistência ao ser ultrapassado por Dovizioso. Ficou surpreso com a facilidade em acompanhar o ritmo do italiano e observou que os tempos por volta aumentaram depois do 13º giro. Chegou até a liderar algumas voltas, participou de diversas trocas de posições e de uma sequência antológica que envolveu a Suzuki de Iannone faltando cinco giros para o final. Nas últimas voltas o plano de fazer o maior número possível de pontos foi arquivado pela real possibilidade de uma vitória. Chegou a hora do louco. Márquez arriscou tudo e andou mais que o recomendável pelos limites da moto, conseguiu a sua terceira vitória consecutiva no GP “caseiro”. Em Aragon, assim como em Austin, Sachsenring e Phillip Island, o desempenho do atual tetra e virtual pentacampeão da MotoGP beira a onipotência.
A largada foi complicada. Lorenzo e Márquez chegaram praticamente juntos no final da reta, a Honda pela parte interna da curva. Márquez admite que travou na área suja da pista, a frente da moto bloqueou e a traseira escorregou inviabilizando a passagem de Lorenzo, que vinha com o acelerador a pleno.  O piloto da Ducati não conseguiu controlar o equipamento e sofreu um “highside” (foi catapultado do assento). O resultado do acidente transcendeu a perda dos possíveis pontos em uma etapa, o piloto foi diagnosticado com uma fratura no metatarso e uma luxação no pé direito, pode não ter condições de pilotar na Tailândia em 07 de outubro.
Na maior parte da prova Dovizioso liderou e foi seguido de perto por Márquez, Iannone e Alex Rins. O resultado final foi decidido nas últimas voltas depois de um ataque bem-sucedido do atual campeão. Embora tenha sido diplomático nas entrevistas, Dovizioso não ficou feliz com o segundo lugar e a sua linguagem corporal no parque fechado demostrou o seu desânimo. O atual segundo colocado no mundial reconheceu que o título deste ano está praticamente decidido.
Terceiro e quarto lugares na classificação final foram comemorados como uma vitória no box da Suzuki. Andrea Iannone, que será substituído na equipe no final da temporada acompanhou os líderes até os metros finais, chegando por brevíssimos momentos liderar a prova. Depois de andar durante uma boa parte da corrida colado ao grupo da frente, Alex Rins terminou o GP de na quarta colocação. O espanhol considera o resultado como alentador e revela que aprendeu muito ao observar a luta entre os pilotos da frente.
Quinto lugar na prova, a 5,274s do seu colega de equipe, Dani Pedrosa não escondeu o descontentamento por não ter conseguido um melhor resultado e identificou como principal causa a falta de grip no pneu traseiro. O espanhol escolheu o composto hard, que apesar de ter apresentado bom desempenho nos treinos não correspondeu durante a prova.
Aleix Espargaró ficou feliz em colocar a sua Aprilia no parque fechado, como sexto colocado e melhor piloto entre as equipes independentes. Completar a prova com 9,396 segundos de atraso em relação ao líder revelam uma evolução consistente da moto e o habilita a sonhar até com um pódio no futuro.
Agora é oficial, a Yamaha está experimentando o seu mais longo período de abstinência na MotoGP, são 23 etapas desde a última vitória de Valentino Rossi em Assen na temporada passada. Rossi lembra que quando chegou à Yamaha em 2004 a equipe estava em uma situação semelhante, mas conseguiu uma excelente recuperação. O potencial do equipamento atual é suficiente apenas para ficar entre os top 10, em Aragon Rossi ficou em oitavo, 15 segundos atrás do líder, com o companheiro de equipe Maverick Vinales em décimo com mais 7segundos de atraso. Apesar de estar ausente do pódio nas quatro últimas etapas, Rossi continua a ser terceiro no Mundial, 15 pontos atrás de Dovizioso e 87 de Márquez, 28 pontos na frente de Lorenzo que não pontuou nas últimas duas provas. Maverick Vinales estava indignado com seu próprio desempenho, seus problemas não são recentes, ele encontra dificuldades desde Barcelona na temporada passada. O espanhol revela o desejo de terminar o campeonato o mais rápido possível e admite que no contexto atual tem zero de motivação e zero de expectativa, seu equipamento não consegue competir sequer com equipes independentes. Em uma atitude sem precedentes na história, após a qualificação no grande prémio da Áustria de agosto o líder do projeto Yamaha MotoGP & M1, Kouji Tsuya, pediu desculpas públicas para Rossi e Vinales pela falta de desempenho da M1.
Três Ducati, duas Honda, duas Suzuki, duas Yamaha e uma Aprilia no top 10 evidenciam que em termos de equipamento o campeonato está equilibrado, embora as vitórias estejam concentradas nas Honda (7) e Ducati (6). 
A próxima etapa será realizada na Tailândia, em um circuito que recebe pela primeira vez uma etapa do mundial. O circuito de Chang é oficialmente chamado de Circuito Internacional de Buriram na documentação da FIM porque a legislação de alguns países (França, Catar) impõem restrições a propaganda de bebidas alcoólicas (Chang é uma marca de cerveja). Projetado por Hermann Tilke e inaugurado em 2014, é uma pista de 4.554 km (2.830 mi) com 12 curvas, que recebeu certificação grau 1 da FIA (habilitado a receber eventos da Fórmula 1) e classe A da FIM, Chang já recebeu eventos do Mundial de Superbike.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

F1 & MotoGP - Talentos diferenciados


Hamilton & Márquez


De tempos em tempos surge uma nova tendência na TV brasileira, a mais recente é promover disputas entre amadores ou profissionais na cozinha. Uma emissora que durante anos alegou ser “O canal do esporte” tem nos dias atuais uma competição entre chefs como sua atração principal. Em todos estes eventos os concorrentes são julgados por sua produção culinária em um tempo limitado, utilizando ingredientes comuns em um ambiente controlado. A ideia é que em condições iguais, o talento defina quem é o melhor.


Os mesmos fundamentos podem ser aplicados às temporadas anuais de esportes motorizados. Os mundiais de Fórmula 1 e MotoGP, as cerejas do bolo da FIA e FIM, confrontam os melhores pilotos do planeta em diversos circuitos, cumprindo etapas com distâncias limitadas e equipamentos com recursos técnicos muito semelhantes, com características limitadas pelos respectivos regulamentos. Assim como nas disputas de culinária na TV, a dosagem dos diversos componentes e a capacidade do piloto determina o resultado final.


Existem diversas simetrias entre os campeonatos de F1 e MotoGP em andamento. Em ambos as fábricas que produziram os melhores equipamentos, de acordo com as limitações previstas pelas regulamentações, são italianas. Embora não seja uma unanimidade, um número expressivo de profissionais de imprensa que trabalham na cobertura da F1 reconhece que o SF71H da Ferrari é o equipamento mais completo entre os que disputam os GPs. Na MotoGP a Desmosedici GP18 da Ducati reúne o conjunto mais eficiente de características em um protótipo de competições. Entretanto, paradoxalmente, os dois pilotos que lideram por grande margem de vantagem ambos os campeonatos não são das equipes italianas.


Na semana que antecedeu o GP de Cingapura, uma corrida a ser realizada em um traçado urbano onde as ultrapassagens são virtualmente impossíveis, todos os veículos de comunicações reconheciam um certo favoritismo da Ferrari, citando também o fato de que os monopostos da Red Bull sempre tiveram bom comportamento neste tipo de pista. As Mercedes não eram descartadas, porém havia quase que um consenso que deveriam ter dificuldades de adequação com o circuito. Não foi o que aconteceu. Embora os resultados possam ser explicados por erros de estratégia ou ocorrências não previsíveis, como por exemplo Vettel perder tempo atrás de um retardatário e resultar ultrapassado por Verstappen devido a parada obrigatória, é inegável que a habilidade de Lewis Hamilton fez a diferença. Seu comportamento em todo o fim de semana foi impecável. Faltando sete etapas para o final a situação do britânico, 40 pontos de vantagem, é muito confortável.


A MotoGP apresenta um cenário semelhante, a supremacia das máquinas Ducati não é transformada em hegemonia por causa do extraordinário talento de Marc Márquez. Dispondo de uma Honda não tão eficiente, graças a um excelente primeiro semestre e a consistência de seus resultados, quase sempre entre os três primeiros, conseguiu abrir uma diferença absurda de 67 pontos a seis etapas para o encerramento do mundial.


Óbvio que existem diversos outros componentes nestas equações. A vitória em uma competição de alto nível como F1 ou MotoGP dificilmente pode ser creditada a um lobo solitário, quando isso acontece é uma exceção à regra. Normalmente os triunfos são resultado de um complexo trabalho de equipe onde o piloto é só uma das peças envolvidas. É praticamente impossível vencer um campeonato sem endereçar excelência nas áreas de gestão, infraestrutura, patrocinadores, engenheiros, mecânicos e outros profissionais. O piloto é uma das peças da engrenagem, porém a sua capacidade e discernimento é fundamental para, durante uma prova, extrair de um equipamento tudo o que for possível. 


Assim como não é lícito creditar uma conquista só ao piloto, culpar exclusivamente a equipe por um insucesso também não é justo, entretanto, quando toda a retaguarda trabalha bem e os equipamentos são muito semelhantes, a aptidão do piloto faz a diferença. As poucas vezes que Valteri Bottas foi solicitado a sacrificar a sua corrida para ajudar a pontuação de Hamilton não justificam a diferença de 110 entre ambos na contagem do campeonato, considerando que utilizam equipamentos rigorosamente iguais. A Honda alinha no grid de largada da MotoGP três motos com as mesmas características e o mesmo nível de desenvolvimento, Márquez tem 102 pontos a mais que Crutchlow e 145 em relação a Pedrosa, que não podem ser atribuídos exclusivamente acidentes de percurso.


A sabedoria do Barão de Itararé ensina que “de onde menos se espera, não sai nada”. Não é correto imaginar que os resultados obtidos por Lewis Hamilton e Marc Márquez sejam consequências apenas dos seus talentos naturais. Ambos têm o apoio de equipes com orçamentos fartos e tecnologia de ponta, são atletas dedicados, cultivam hábitos saudáveis e não descuidam do treinamento físico. O britânico ainda cultiva alguma presença social, o espanhol é totalmente centrado no esporte. Eles estão física e mentalmente preparados para os rigores de uma competição e podem, em condições limite, ir um pouco além do que os concorrentes.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

MotoGP - Misano 2018




Incidente envolvendo Romano Fenati
Foi quase o fim de semana dos sonhos dos torcedores italianos. Vitória nas três competições, Lorenzo Dalla Porta na Moto3, Francesco Bagnaia na Moto2 e a cereja do bolo, Andrea Dovizioso com uma moto italiana na MotoGP. A festa dos “tifosi” só não atingiu o Nirvana (contexto budista, não a banda) por alguns pequenos detalhes, a queda de Lorenzo faltando menos de duas voltas evitou mais uma dobradinha da Ducati e o ídolo local, Valentino Rossi, conseguiu apenas a sétima colocação.



Depois de uma temporada fantástica em 2016 quando nove pilotos ocuparam o lugar mais alto do pódio da categoria principal, 2018 mostra uma acentuada tendência a voltar aos tempos onde só duas equipes monopolizavam as vitórias. Entre 2012 e 2015 todas as provas tiveram um dos pilotos oficiais da Yamaha ou Honda em primeiro lugar. Este ano, excetuando a segunda etapa em Rio Hondo, todas as outras foram vencidas por Andrea Dovizioso e Jorge Lorenzo da Ducati, ou Marc Márquez da Honda. Vale lembrar que a única exceção, Cal Crutchlow que venceu na Argentina, é bancado pela Honda e compete com uma moto que a fábrica nipônica considera no estado da arte, não pode ser rotulado como piloto de uma equipe independente como acontece com Johann Zarco, que utiliza um equipamento Yamaha desatualizado.



A prova da MotoGP em Misano foi sem emoção, quase previsível. A algum tempo existe o consenso que a Ducati está desenvolvendo um ótimo trabalho e a Desmosedici GP18 é no momento a melhor máquina do grid, eficiente nas frenagens, veloz nas curvas e com ótima retomada de velocidade. A supremacia da Ducati não se reflete na classificação do Mundial porque seus pilotos tiveram um péssimo início de temporada e a Honda tem Marc Márquez, um piloto diferenciado que consegue andar muito próximo do limite da RC213V.



Faltando ainda seis etapas, o título do mundial da MotoGP já está muito próximo do atual campeão. Com um máximo possível de 150 pontos em disputa, ele acumula 67 de vantagem, ou seja, garante o seu sétimo mundial, o quinto na principal categoria, se manter uma média de 14 pontos nas provas restantes. Considerando que conquistou 9 pódios nas 13 provas realizadas, esta situação é muito confortável para o espanhol de apenas 25 anos. Há um movimento incipiente na mídia italiana digital e impressa para que a Ducati aposte desde já todas as fichas em Andrea Dovizioso, seu piloto melhor classificado na contagem de pontos, utilizando inclusive o “Sugested Mapping: Mapping 8” se Jorge Lorenzo estiver melhor colocado em alguma prova.



Com a corrida principal sem maiores atrativos, o foco da cobertura da imprensa do GP de San Marino em Misano foi deslocado para o comportamento irresponsável de um piloto na Moto2. Romano Fenati, italiano de 22 anos que estreou na Moto3 em 2012 e foi promovido para a Moto2 este ano, protagonizou um incidente grave na pista e foi penalizado com a bandeira preta.



Não foi a primeira vez que Fenati esteve no centro das atenções por razões erradas. Um vídeo postado pela BT Sports em seu Twitter no próprio domingo lembra exemplos de seu comportamento imprudente nas pistas. Recupera uma imagem onde ele fez o impensável, em plena disputa chutou a moto de outro competidor. O italiano é conhecido por discutir com os outros pilotos e pode ser visto desligando a moto de um rival quando ambos estavam alinhados para um ensaio de largada. Fenati também é agressivo e desrespeitoso com seus concorrentes, de modo verbal ou via redes sociais e assumia com orgulho a imagem de um Bad Boy. Em 2016 foi desligado da equipe VR46 de Moto3 no meio da temporada, na época Valentino Rossi afirmou que desistiu do piloto após seguidos casos de indisciplina.



Antes do incidente na pista em Misano houve uma intensa disputa com Stefano Manzi por posições intermediarias, que em determinado momento acabou com os dois na caixa de brita. O fato enfureceu o piloto e o levou a uma reação irresponsável e perigosa, em plena reta com o acelerador a pleno, Fenati emparelhou a sua moto com a do concorrente e acionou o seu freio, uma manobra cujos resultados eram imprevisíveis. Os comissários o afastaram da prova com uma bandeira preta. Depois da corrida ainda recebeu a mais alta penalidade prevista nos regulamentos, ausência do grid nas duas próximas etapas. Nos desdobramentos da manobra desastrada ele foi ainda demitido da sua equipe, em respeito aos patrocinadores. Um contrato já assinado para 2019, Ironicamente com a equipe de Manzi,  também foi cancelado.



Quando o fato foi citado na conferência de imprensa depois do GP, Dovizioso e Márquez optaram pela diplomacia, reconheceram a gravidade da ocorrência e recomendaram punição rigorosa. Cal Crutchlow, talvez a voz mais autêntica entre os pilotos foi radical, indicou que a única medida correta é banir definitivamente o piloto, ninguém por motivo algum pode deliberadamente pôr a vida de um colega em risco. Segundo o britânico, competições com equipamentos potentes e pesados já são perigosas o suficiente.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

F1 - Rescaldo de Monza


Público vaiando a prova de Indianápolis em 2005


As insistentes vaias a Lewis Hamilton na premiação do último GP da Itália nem de longe caracterizam um fato incomum na história das competições esportivas. O atual ídolo da torcida italiana, Sebastian Vettel, já sofreu uma pesada vaia em Monza no GP de 2003 quando venceu a Ferrari de Fernando Alonso conduzindo uma Red Bull.

Os italianos são passionais, não admitem aplaudir um vencedor que tenha disputado uma prova sem estar pilotando um dos carros vermelhos. A palavra “Tifosi”, embora tenha um sentido mais abrangente, é utilizada para indicar os italianos adeptos dos esportes motorizados reconhecidos por sua paixão pela Ferrari. Os tifosi criam imagens impressionantes, verdadeiros mares vermelhos quando ocupam as arquibancadas em circuitos onde são realizados GPs da F1, especialmente em Monza. Uma “assinatura” dos tifosi é a exibição de uma enorme bandeira da Ferrari nas arquibancadas de cada autódromo durante os fins de semana de Fórmula 1, com grandes contingentes de adeptos comparecendo nas provas disputadas na Itália ou em circuitos europeus. 

Não é incomum para os tifosi incluir em suas preferências pilotos “oriundi” (com ascendência) ou não italianos quando estão pilotando uma Ferrari. No GP de San Marino em 1983, por exemplo, os espectadores vibraram intensamente quando Ricardo Patrese se acidentou enquanto estava na liderança com uma Brabham, cedendo a vitória para o francês Patrick Tambay com uma Ferrari.

Um dos pilotos mais lembrados na Itália é um obscuro francês, Jean-Louis Schelesser, cujo único feito digno de nota na F1 foi provocar um acidente involuntário faltando duas voltas para o final do GP de Monza em 1988. O evento tirou da prova o então líder Ayrton Senna e entregou a vitória para Gerhard Berger seguido de Michelle Alboreto, ambos com Ferrari. Além de uma dobradinha da equipe do cavalinho rampante, foi a única prova da temporada que não foi vencida por uma McLaren-Honda.

O comportamento dos espectadores em vaiar pilotos não é exclusivo dos tifosi ou dos italianos na Fórmula 1. O público que prestigiou o GP de motovelocidade da Catalunha em 2011, constituído majoritariamente de espanhóis, vaiou intensamente Marco Simoncelli. O italiano havia protagonizado um incidente com Dani Pedrosa na etapa anterior na França, que obrigou o afastamento do piloto da Repsol-Honda nas três etapas seguintes do mundial.

Este tipo de ocorrências ficou mais frequente na MotoGP depois que Valentino Rossi tentou desestabilizar Jorge Lorenzo nas últimas provas de 2015, denunciando um complô espanhol, que incluiria o campeão Marc Márquez, para impedir seu décimo campeonato mundial. Desde então as premiações de vitórias de Lorenzo e Márquez passaram a conviver com apupos mais ou menos intensos com origem na enorme legião de torcedores de Rossi. Os italianos também não aceitam o que consideram como falta de lealdade. Por não ter cedido a posição para o colega de equipe e então aspirante ao título na última prova de 2017, os últimos sucessos de Jorge Lorenzo com a Ducati foram saudados com torcedores gritando o nome de Dovizioso.

Manifestações de desagrado por parte do público presente aos circuitos podem ocorrer por diversas razões, em 2005 uma inadequação dos pneus Michelin impediu a participação de 7 equipes no GP de Indianápolis. Na época não havia um fornecedor exclusivo e apesar de todos participarem da volta de apresentação, para cumprir cláusulas contratuais, apenas as três equipes equipadas com Bridgestone participaram da prova, fraudando os espectadores que pagaram pelos ingressos. Grande parte dos presentes extravasou a sua frustração vaiando os participantes e exigindo o reembolso do valor das credenciais de acesso.

A maior vaia jamais ouvida em um evento esportivo ocorreu no GP de F1 da Áustria em 2002.  Atendendo a uma orientação expressa do box da Ferrari, Rubens Barrichello cedeu a vitória para Michael Schumacher a poucos metros da linha final. O modo ostensivo como a ordem foi cumprida explicitando a falta de esportividade e de respeito dos gestores da equipe vermelha resultou em manifestações de desagrado por praticamente todas as pessoas presentes no circuito, com exceção apenas de uns poucos integrantes da equipe italiana. A reação do público foi de tal monta que Schumacher recusou-se a ocupar o ponto mais alto do pódio. Foi uma das poucas oportunidades, se não a única, que a imprensa italiana não apoiou incondicionalmente a Ferrari.