terça-feira, 12 de dezembro de 2017

MotoGP - Jorge Lorenzo




O mundial de motovelocidade promovido pela Federação Internacional de Motociclismo é um dos mais antigos campeonatos de veículos motorizados e a sua primeira edição em 1949 precede em um ano ao mundial de Fórmula 1, disputado desde 1950. Em suas 68 edições o histórico oficial registra 3.042 provas nas diversas categorias, 781 vencidas por pilotos italianos, 578 por espanhóis e apenas 8 por brasileiros (7 por Alex Barros e 1 por Adu Celso).
Jorge Lorenzo na Ducati Desmosedici #99 em 2017
O regulamento da MotoGP não contempla artificialismos como trocas obrigatórias de tipos de pneus durante uma prova ou alterações de aerodinâmica para facilitar ultrapassagens. A comunicação unidirecional entre o box e o piloto limita a eficiência de estratégias de equipes, como ficou explícito na última prova da temporada de 2017 onde as orientações da Ducati foram ignoradas.
O mundial de MotoGP está ampliando o número de aficionados conquistando o público pelo equilíbrio entre as características de competição e espetáculo, valorizando o investimento de fabricantes e talento dos pilotos. Considerando como referência o número de vitórias, quatro dos maiores vencedores de todos os tempos ainda estão em atividade. Valentino Rossi (115 vitórias), Jorge Lorenzo (65), Marc Márquez (61) e Dani Pedrosa (54) já apresentam resultados melhores que reconhecidas lendas do motociclismo mundial como Mick Doohan (54), Casey Stoner (45) e Jim Redman (45).
Na última prova da temporada de 2017 diversas sugestões do box da Ducati para inverter a posição de seus pilotos durante a prova foram desconsideradas por Jorge Lorenzo. Embora a atitude da equipe tenha sido até acintosa, enviando múltiplas mensagens para o painel da moto #99 e sinalizando com placas no muro dos boxes, a desobediência do piloto gerou mais repercussão na mídia que em nível administrativo. O espanhol, que se estima ter em vigor o maior contrato já estabelecido entre um piloto e uma equipe, ao contrário da maioria dos colegas não investe muito em sua imagem junto ao público. Não é exatamente fácil gostar de Jorge Lorenzo.

Lorenzo nasceu em 1987 na ilha de Mallorca no mar mediterrâneo, que é administrada pela Espanha. Estreou no mundial da MotoGP em 2002, na classe 125cc aos 15 anos de idade, iniciando uma carreira que o credencia como um dos mais bem-sucedidos pilotos de todos os tempos.

Cinco vezes campeão do mundo, depois de uma adaptação difícil em 2017 na Ducati, voltou a apresentar no fim da temporada as mesmas características de eficiência que o caracterizaram na Yamaha. Lorenzo é um gênio no comando de uma moto, mas é extremamente infeliz no trato com a mídia e torcedores. Seu comportamento introvertido é facilmente confundido como arrogante ou excêntrico. Não chega a ter ojeriza com as obrigações contratuais e exigências promocionais que acabaram afastando Casey Stoner, porém não disfarça que está neste ramo de atividade para vencer, não para distribuir sorrisos.

Pesa contra Lorenzo o fato de ter desenvolvido, a exceção de 2017, toda a sua carreira como piloto da principal categoria na equipe oficial da Yamaha, dividindo os boxes com o piloto mais mediático da história. Antítese perfeita de Lorenzo, Valentino Rossi é conhecido pelo sorriso fácil, por ser extrovertido e por ser adorado por milhões. Ao bater Valentino correndo pela mesma equipe e com o mesmo equipamento em 2010 e 2015 (em seu 2º mundial em 2012 Rossi estava na equipe Ducati), o espanhol foi eleito vilão oficial pelos torcedores de Rossi. Suas realizações são desconsideradas e a sua franqueza e rebeldia alimentam a imagem de um piloto resmungão, que está constantemente à procura de desculpas para justificar os seus fracassos. Nada mais injusto.

Jorge Lorenzo na Yamaha M1 #99 em 2016
Jorge Lorenzo é um piloto com cinco títulos mundiais. Quinto na lista de número de vitórias em GPs, venceu dois mundiais de 250cc seguidos correndo contra pilotos como Andrea Dovizioso ou Marco Simoncelli. Tem mais títulos na classe principal que ícones como Barry Sheene, Freddie Spencer ou Kevin Schwantz. Nos 8 anos que dividiu box e equipamento com Valentino Rossi venceu 35 GPs, 9 a mais que o italiano.

A biografia de Jorge Lorenzo, também conhecido como “Espartano” por sua busca incansável pela eficiência, registra que venceu o mundial de 2010 com 383 pontos, o maior número já alcançado na história. Sua mais recente proeza foi em 2015, quando ele e Rossi saíram da 11ª etapa rigorosamente empatados com 211 pontos, o italiano abriu uma vantagem de 23 pontos nas duas etapas seguintes e só perdeu a liderança (e o título) no último GP da temporada. A fato de ter negado a Valentino Rossi a possibilidade do décimo mundial também não ajudou os índices de popularidade do espanhol.

Lorenzo tem um caráter complexo, sorriso econômico, pouco tolerante a falhas e muito dedicado. O número 99 que defende foi escolhido por ser o mais próximo possível de 100%, a perfeição que busca incessantemente. Quando tem uma moto competitiva é praticamente imbatível, um verdadeiro relógio suíço. Sua condução é suave, precisa e, acima de tudo, letal para os rivais.

O seu talento é comparável ao dos grandes mestres da modalidade, mesmo que a sua personalidade nem sempre seja a de um piloto extrovertido como a mídia gosta. Foi ridicularizado nos últimos anos por seu desempenho na chuva, mas o final desta temporada, no comando de uma moto radicalmente diferente da Yamaha, mostrou que sabe o faz. Em seu primeiro ano na Ducati conseguiu resultados melhores que os de Rossi quando se aventurou na equipe italiana. A dedicação de Lorenzo ao esporte pode ser mensurada por sua participação na prova de Assen em 2013, quebrou a clavícula no início dos treinos livres, voou para a Espanha no sábado e foi operado, no domingo alinhou no grid e entupido de analgésicos terminou a prova em 5º lugar.

O regramento atual da MotoGP investiu em igualar a competitividade entre equipamentos de diversos fabricantes, e desempenhos muito superiores como os de Rossi entre 2002 e 2005, Stoner em 2007 e 2011, Lorenzo em 2010 e Márquez em 2014 já não são prováveis. Em um ambiente onde seis fabricantes (Aprilia, Ducati, Honda, KTM, Suzuki e Yamaha) produzem protótipos com desempenhos semelhantes, a importância do piloto cresce exponencialmente e justifica o investimento da fábrica de Borgo Panigale em Jorge Lorenzo.

O ano de 2018 promete.