Circuito Ricardo Tormo - Cheste, Valencia |
O centro das atenções será com certeza o box da Ducati,
com a presença do três vezes campeão do mundo da principal classe, o espanhol
Jorge Lorenzo em seu primeiro contato com a Desmosedici GP17. A importância
deste dia para a fábrica de Bolonha pode ser medida pela decisão de reter
Michele Pirro trabalhando com a GP17 e não permitir que ele substituísse o
acidentado Andrea Iannone nos testes de Motegi. A Ducati acredita que o novo
equipamento e o talento de Lorenzo possam devolver a sequência de performances
obtida por Casey Stoner na década passada, e conta para isso com o trabalho do
chefe de equipe Cristian Gabarrini, o mesmo que trabalhou com o piloto
australiano em sua passagem vitoriosa na equipe. A fábrica aprontou uma única
GP17 para cada condutor, portanto ousadia não deve ser a tônica dos testes.
Qualquer avaliação calcada nos resultados de Lorenzo será prematura, ele não
conhece o equipamento, entretanto a performance de Dovizioso deve proporcionar
o melhor indicador das evoluções do novo modelo. Os pilotos esperam um
equipamento mais dócil para conduzir, com um comportamento mais suave nas
curvas, porém sem perder a velocidade nas retas.
A Yamaha aposta em Maverick Vinales para substituir
Lorenzo e recompor um ambiente tranquilo nos boxes. Vinales encerra uma ótima
temporada na Suzuki e quebrou o monopólio das duas grandes (Honda e Yamaha) em
pistas secas, vencendo o GP da Inglaterra em Silverstone. Tudo indica que sua
adaptação deve ser rápida, o comportamento da M1 é muito semelhante ao da
GSX-RR e ele herda toda a estrutura de Lorenzo, com exceção de um mecânico que
o está acompanhando em sua transferência para a Ducati. Valentino Rossi
continua a ser o grande nome da equipe, seu relacionamento com Vinales até o
momento está sendo mantido em termos extremamente amigáveis e é uma incógnita
se vai sobreviver a uma disputa real nas pistas. Marco Melandri, um piloto
italiano que participou com Rossi em provas da MotoGP entre 2003 e 2010,
afirmou em uma ocasião que o convívio com o italiano é extremamente fácil,
enquanto ele está vencendo. A Yamaha não confirmou o novo modelo nos testes de
Valência, como é o desejo dos pilotos. Caso não seja possível, no final do mês
está programado um teste privado em Sepang em companhia dos novatos da satélite
Monster Tech 3.
A Suzuki anuncia uma mudança radical de sua linha para
2017. Andrea Iannone, que inclusive obteve uma vitória este ano, trocou a Ducati
pela fábrica japonesa e vai ter como colega de equipe Alex Rins, promovido da
GP2. A expectativa é um bom desempenho de Iannone, até porque a condução de
GSX-RR deve exigir menor esforço físico que a GP16. O italiano também
inicia os testes com uma motivação extra, ter sido dispensado pela Ducati para
abrir a vaga de Lorenzo. Marco Rigamonti, seu chefe de equipe nesta temporada o
acompanha na mudança. Alex Rins foi muito bem cotado na Moto2, mas sua
performance em 2016 foi decepcionante e há dúvidas sobre sua capacidade na
MotoGP.
As novidades da Aprilia estão centradas nos pilotos, a
nova moto, um projeto em desenvolvimento, ainda não estará pronta. Aleix
Espargaro, que estava pilotando uma Suzuki, assume como piloto principal da
fábrica, secundado por Sam Lowes, que encerra um ano complicado na Moto2.
A Aprilia conta com a experiência de Espargaro, um piloto com amplo
conhecimento em diversos tipos de motos, para obter resultados mais
consistentes na próxima temporada.
O acontecimento que deve rivalizar com a estreia de
Lorenzo na Ducati em termos de atrair a atenção da mídia é a entrada (ou
retorno) da KTM para a MotoGP. Para o comando das motos a fábrica não bancou
apostas, contratou os experientes pilotos Pol Espargaro e Bradley Smith, que dividiram
os boxes da Monster Tech 3 em 2016. A expectativa é grande, principalmente pela
novidade (ou retorno às origens) do quadro de aço tubular com estrutura em
treliça. Todas as demais fábricas já abandonaram este conceito, trocado por
fibra de carbono ou viga de alumínio. A KTM vai ter o piloto de testes Mika
Kallio competindo como “Wild Card” na prova de Valência, ele recentemente declarou que o
comportamento do quadro de aço em treliça é diferente da viga de alumínio e que
levou algum tempo antes de se adaptar. Um período semelhante de adaptação
talvez seja necessário para de Smith e Spargaro.
A Honda rigorosamente não
apresenta novidades em relação ao pessoal de apoio, mas o que a HRC está
preparando para a nova temporada desperta muita curiosidade. Há um boato,
estimulado por vazamentos da fábrica, que um motor muito diferente vai equipar
as RC213V. Comenta-se que a ordem de disparo, (mais corretamente, o intervalo
de disparo) foi modificado para facilitar o gerenciamento da geração de
potência do motor. Qualquer dúvida neste sentido será esclarecida assim que o
som da nova moto for ouvido. O som gerado por um motor “Screamer” tem uma
característica muito diferente do “Big Bang”. Pilotos e engenheiros da HRC são
extremamente reticentes em comentar as novidades, porém há indícios que as
mudanças para 2017 foram concentradas em pequenas alterações no chassi e uma
grande melhoria no poder de aceleração. Considerando que as Honda venceram nove
das dezessete corridas já realizadas nesta temporada com um motor complicado,
uma melhoria nesta área pode resultar em uma vantagem expressiva. A Honda
costuma utilizar a moto mais recente neste primeiro teste exclusivamente para
os pilotos de fábrica, porém este ano Cal Crutchlow tem desempenhado um papel
importante no programa de desenvolvimento e deve receber um modelo atualizado.
Os
testes de Valência tem uma conotação diferente para as equipes satélite. As
equipes de fábrica utilizam estes dois dias para experimentar evoluções
tecnológicas, enquanto as não fábrica ficam presas aos equipamentos que
competiram durante a temporada. Não há novidades nas motos, a dança das
cadeiras entre pilotos e pessoal de apoio está sendo consolidada. Na Marc VDS
Racing Team o atual chefe de equipe de Jack Miller, Cristian Gabarrini, está de
mudança para a Ducati, assume em seu lugar Ramon Aurin, que este ano chefiou a
equipe de Dani Pedrosa e vai ser substituído por Giacomo Guidotti.
A
Monster Tech 3 está esperando as Yamaha M1 de 2016 para seus novos pilotos,
Johann Zarco e Jonas Folger, que foram promovidos da Moto2. Em termos de
equipamento a história se repete, as M1 utilizadas pelos pilotos da Movistar
Yamaha na corrida de Valência são entregues para a equipe e permanecem
inalteradas durante todo o próximo ano. A única equipe satélite da Yamaha está
reassumindo a função de formadora de talentos para a fábrica e os resultados
dos pilotos nos testes não são muito significativos.
Se
a situação das japonesas Honda e Yamaha é relativamente simples, as coisas são
um pouco mais complexas para as satélite da Ducati, em função do número de
motos que a fábrica alinha no grid de largada. Complica ainda mais porque cada
equipe recebe equipamentos diferentes para cada piloto. Nos testes de Valência,
a Avintia terá uma GP16 para Hector Barberá e uma GP15 para Loris Baz, na Aspar
Álvaro Bautista terá um modelo GP16 e Karel Abraham um GP15. A Pramac ainda não
definiu a distribuição dos equipamentos, a equipe está realizando uma disputa
paralela entre Danilo Petrucci e Scott Reding, considerando os resultados entre
as provas da República Tcheca e a última do ano, descartando o pior resultado.
O vencedor deste minicampeonato vai pilotar uma evolução da GP16 com alguns dos
desenvolvimentos da GP17, o perdedor recebe uma GP16.
Valência não vai decidir o campeonato este ano, mas
os testes nos dias seguintes estão repletos de atrações.
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